Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Berlusconi e Alberto João

Quando se pensa que já não é possível o espectáculo descer mais baixo, quando se acredita que o nível de degradação já tocou nos limites, somos sempre surpreendidos com os episódios mais extravagantes e inimagináveis. ... Para variar, a cena burlesca vem

  • ...

Quando se pensa que já não é possível o espectáculo descer mais baixo, quando se acredita que o nível de degradação já tocou nos limites, somos sempre surpreendidos com os episódios mais extravagantes e inimagináveis.

Não. Desta vez não se está a falar do ridículo Alberto João. Porque mais ridículos ainda são todos aqueles que, vai lá saber-se porquê, insistem em desfilar pela Madeira e submeterem-se ao humilhante acto de elogiar o homem pelas qualidades que, definitivamente, ele não tem.

Para variar, a cena burlesca vem de Bruxelas - que, nesta matéria, é uma capital que faz concorrência agressiva ao Funchal.

E os actores são os suspeitos do costume - os ministros das Finanças. Reunidos ontem, decidiram poupar a Itália de um «alerta prévio» - que é o primeiro sinal, o laranja que antecede o vermelho, que acende diante o perigo de derrapagem orçamental.

A decisão foi, convenientemente, adiada para depois das eleições, em Julho. Para entender este «happy end» é necessário recuar um pouco na história. E recordar três ou quatro factos importantes.

Primeiro, o senhor Berlusconi já anda em campanha eleitoral há meses, não para agora, mas para as legislativas de 2006.

O seu possível rival, o putativo candidato da esquerda, é o actual e medíocre presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi.

Segundo, foi o senhor Berlusconi e o seu Governo o mais empenhado promotor das diligências que, em Novembro, levaram à absolvição da Alemanha e da França - e, na prática, consumaram a morte do Pacto de Estabilidade.

Terceiro, este «alerta prévio» é exactamente igual aquele que Portugal recebeu, quando excedeu pela primeira vez o limite de 3%.

Quarto, Paris e Berlim estiveram ontem entre os mais compreensivos para com a Itália, e o ministro das Finanças francês, provando que a criatividade humana não tem limites, fez uma metáfora e disse que não é no momento em que alguém se afoga que se lhe deve enfiar a cabeça debaixo de água.

As conclusões são, portanto, fáceis. Até porque não são novas.

Uma é que a Europa é uma mentira, que as suas instituições não se dão ao respeito, porque as suas regras e leis só servem para os dias ímpares.

Outra conclusão evidente é que a «operação mãos limpas» acaba de ser reinventada pela eurocracia: os italianos cumprimentaram alemães e franceses e umas mãos limparam as outras.

Finalmente - e isto não é bem uma conclusão, mas uma dedução - é que as eleições europeias vão mesmo registar uma abstenção recorde. E é muito bem feito.

Os balões do dia 1 de Maio já rebentaram e, não estivessem tão desesperados, era caso para perguntar o que é que aqueles dez países vieram fazer cá para dentro.

E não fossem razões profiláticas, até se admitia a hipótese académica de dar razão ao Presidente da Região Autónoma - a Madeira vai decidir se quer continuar na União Europeia.

Certamente que a união Europeia não tremeu. Nós é que trememos com esta esquizofrenia europeia.

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio