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A TAP também voa

Grave é, sempre que o país precisa discutir a TAP, nunca ser para falar do que realmente interessa: do passageiro, da qualidade de serviço, dos preços, das condições de segurança, dos aviões propriamente ditos.

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Grave é, sempre que o país precisa discutir a TAP, nunca ser para falar do que realmente interessa: do passageiro, da qualidade de serviço, dos preços, das condições de segurança, dos aviões propriamente ditos.

O que anima a malta são, invariavelmente, as razões de umbigo: as contas, as administrações, as greves, os subsídios, as reestruturações, as tricas de caserna. Isso não é o essencial.

A TAP, como qualquer empresa do mundo, existe porque tem uma função a cumprir no mercado e na sociedade. Mas até as pessoas mais lúcidas perdem a noção disso. O que é ridículo.

Tão ridículo como, de repente, o Jornal de Negócios começar diariamente a publicar só notícias sobre o custo de papel, as atitudes dos anunciantes, os comportamentos das fontes de informação, etc, etc.

Pois é. Embora não pareça, a TAP continua a ser uma transportadora aérea, a ter clientes e, aqueles que há muito viajam nos seus aviões, até sabem que a nossa companhia de aviação civil voltou a ser surpreendentemente boa.

Não estamos aqui a lidar com um pequeno pormenor. E esta nossa distração colectiva não é senão fruto de um tremendo equívoco cultural, um vício de raciocínio que está profundamente enraizado no nosso quadro mental - é propriedade do Estado, logo não é de ninguém.

Toda a gente, incluindo os “liberais”, habituou-se a ver na “coisa pública” um território reservado às corporações que o ocuparam. É esta “República dos burocratas” que também está enraizada há décadas naquela empresa.

A sua privatização é, assim, uma emergência nacional. Só que, enquanto não se chega lá, há uns problemitas para resolver.

Por exemplo, estes dois. O problema de governo de sociedade. O nosso país experimenta, desde há relativamente pouco tempo, este modelo anglo-saxónico de separar a presidência do Conselho de Administração da presidência da Comissão Executiva. O “chairman” do CEO.

O modelo não encaixa na nossa tradição? Não funciona na TAP? E porquê?

Bem, na EDP, entre Sánchez e Talone, parece reinar a maior das sintonias. Na Galp, Joaquim Ferreira do Amaral e António Mexia parecem dar-se lindamente (sobretudo quando se unem contra o ministro que os tutela...).

E na Portugal Telecom existe uma aparente paz entre Miguel Horta e Costa e Ernâni Lopes (que, como se sabe, não tem um ego nada pequeno...).

O que é curioso é que, quando Norberto Pilar presidia a empresa, o modelo também funcionou na própria TAP.

Pode, portanto, dizer-se que os portugueses não têm qualquer incompatibilidade genética com este modelo de “chairman-CEO”.

O segundo problema são, naturalmente, as contas de 2003. Sobre as quais foram lançadas as piores suspeitas. A TAP costuma divulgar dados vitais numa base mensal. São só os anuais que provocam excitação!!!

Não é chocante que hajam movimentações discutíveis. Mas ilegalidades e manipulações, cheira a Parmalat e Enron. Estamos de tanga. Mas seremos a República das Bananas?

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