Opinião
CTT, antes selo
Os CTT foram para a bolsa há quatro anos com a áurea de quem vende uma das últimas jóias do Estado. E o Governo de Passos Coelho conseguiu fechar dois bons negócios. Já quem comprou acções a pensar no longo prazo sente-se ludibriado.
A geração de "cash flows" estável e a promessa de dividendos crescentes foi a música que seduziu os investidores, primeiro na OPV em 2014, depois na venda dos 31,5% que ainda estavam na mão do Estado a investidores institucionais. As primeiras foram vendidas a 5,52 euros, as segundas a 7,25. Os títulos valiam ontem 3,49 euros. O Estado encaixou 909 milhões. A empresa vale agora 524 milhões. A remuneração entretanto recebida pelos accionistas contém os danos, mas não os anula.
Foi por aí, pelos dividendos, que as dúvidas sobre o futuro dos CTT chegaram à bolsa. A narrativa que sustentava as acções ruiu quando se começou a perceber que os resultados gerados pela empresa não eram suficientes para acomodar a remuneração dos accionistas. Em 2017 a empresa pagou mais do que os lucros (o que obriga a usar reservas ou dívida). Este ano reduziu o dividendo que já tinha prometido pagar em 2018.
Os resultados. É sempre esse o cerne da questão. As contas mostram uma erosão acelerada do negócio do correio tradicional, o que não espanta mas preocupa porque 70% das receitas ainda vêm daí. Pior vão também os serviços financeiros, com a quebra na venda de certificados de aforro e do Tesouro. Já a aposta na entrega de encomendas, em crescimento com o comércio electrónico, foi tardia e a empresa paga o preço: não é ainda rentável. A isto acrescem os custos do investimento no Banco CTT, que também ainda não gera lucros. A responsabilidade é da gestão liderada por Francisco Lacerda, que tem sido incapaz de entregar o valor prometido.
A reestruturação anunciada esta terça-feira actua de um dos lados da equação – a dos custos. Como sempre, há um plano de despedimentos, a que se junta um redesenho da rede de agências que promete gerar polémica. A administração junta-se ao movimento baixando a remuneração e eliminando os prémios.
A nacionalização que o Bloco defendeu nunca seria solução: ganhar eficiência era uma inevitabilidade. E a menos que o Estado comprasse pelo preço que vendeu, seria uma fraude para quem investiu.
A gestão dos CTT quis que o negócio parecesse o que já não era. Mais vale sê-lo. A nova política de dividendos, ajustada aos resultados, é um realismo saudável. Como tantos outros sectores, os correios enfrentam o difícil desafio da transformação digital. O tempo dirá se a gestão será capaz de, a tempo, criar valor nas novas apostas.
Foi por aí, pelos dividendos, que as dúvidas sobre o futuro dos CTT chegaram à bolsa. A narrativa que sustentava as acções ruiu quando se começou a perceber que os resultados gerados pela empresa não eram suficientes para acomodar a remuneração dos accionistas. Em 2017 a empresa pagou mais do que os lucros (o que obriga a usar reservas ou dívida). Este ano reduziu o dividendo que já tinha prometido pagar em 2018.
A reestruturação anunciada esta terça-feira actua de um dos lados da equação – a dos custos. Como sempre, há um plano de despedimentos, a que se junta um redesenho da rede de agências que promete gerar polémica. A administração junta-se ao movimento baixando a remuneração e eliminando os prémios.
A nacionalização que o Bloco defendeu nunca seria solução: ganhar eficiência era uma inevitabilidade. E a menos que o Estado comprasse pelo preço que vendeu, seria uma fraude para quem investiu.
A gestão dos CTT quis que o negócio parecesse o que já não era. Mais vale sê-lo. A nova política de dividendos, ajustada aos resultados, é um realismo saudável. Como tantos outros sectores, os correios enfrentam o difícil desafio da transformação digital. O tempo dirá se a gestão será capaz de, a tempo, criar valor nas novas apostas.
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