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Gerir o risco climático

Os efeitos das alterações climáticas que já aconteceram estão a espalhar-se significativamente e a afectar a agricultura, saúde humana, ecossistemas terrestres e marítimos, recursos hídricos e algumas indústrias. Os efeitos podem ser vistos dos trópicos aos pólos, das pequenas ilhas aos grandes continentes.

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Vivemos numa era de alterações climáticas induzidas pelo Homem. Embora nem todas as consequências futuras sejam conhecidas, o conjunto de resultados realistas é grave - e um cenário onde não há impacto das alterações climáticas e tão improvável que pode ser certamente ignorado. Os riscos - para o comércio, sociedades e ambiente - são penetrantes.

 

Os investimentos na gestão destes riscos podem ser eficazes e acessíveis. De facto, algumas das respostas mais apelativas são relativamente baratas. Outras, que requerem mais recursos, podem ser desenvolvidas como investimentos que não apenas proporcionam protecção das alterações climáticas, mas também aumentam a competitividade, desenvolvimento e segurança.

 

O último relatório do Painel Intergovernamental de Alterações Climáticas enquadra explicitamente a questão do desafio da gestão do risco. Esta abordagem facilita uma consideração equilibrada dos resultados prováveis bem como daqueles que são menos prováveis mas implicam consequências mais graves. Também capitaliza as ferramentas e abordagens sofisticadas já amplamente utilizadas para gerir os riscos em esforços tão diversos como segurança nacional, planeamento financeiro e desenho de infra-estruturas.

 

Então, o que sabemos sobre riscos das alterações climáticas?

 

O mundo está a aquecer e a esmagadora evidência científica confirma que os humanos causaram a maior parte desta alteração ao longo das últimas décadas. Também é claro que as alterações climáticas vão continuar, a um ritmo determinado pelas emissões de gases do passado, presente e futuro. O entendimento científico das alterações climáticas continua a avançar, mas ainda há áreas de incerteza, incluindo os riscos de grandes surpresas, complicações e interacções inesperadas.

 

Os efeitos das alterações climáticas que já aconteceram estão a espalhar-se significativamente e a afectar a agricultura, saúde humana, ecossistemas terrestres e marítimos, recursos hídricos e algumas indústrias. Os efeitos podem ser vistos dos trópicos aos pólos, das pequenas ilhas aos grandes continentes e dos países mais ricos aos mais pobres.

 

Mas as alterações climáticas do futuro vão afectar as pessoas, economias e o ambiente de forma diferente em diferentes locais. Algumas vão confrontar os riscos de condições meteorológicas extremas, incluindo o calor sufocante, chuvas intensas e poderosas tempestades. Outras vão enfrentar os riscos de condições mais desafiantes para a agricultura, pesca, transporte e outros meios de subsistência. Os riscos para a saúde humana e segurança vão aumentar com a escassez de comida e água.

 

Em conjunto com estes riscos, alguns podem beneficiar, especialmente de um pequeno aquecimento. Mas as alterações climáticas frequentemente vão agir como uma ameaça multiplicadora, fazendo cair das bordas situações difíceis ou encolhendo as opções para resolver os problemas.

 

Ainda que alguns dos futuros efeitos das alterações climáticas sejam quase certos, outros podem ser surpresas. O nível de risco é controlado por três factores. O primeiro é a ocorrência ou tendência climática - por exemplo, as ondas de calor, chuva forte ou seca gradual. A segunda é a exposição: quantas pessoas e activos estão no local errado na altura errada? A terceira é a vulnerabilidade, ou falta de preparação. Em conjunto, estes três factores determinam o risco, que aumenta com acontecimentos impulsionadores mais frequentes ou mais ferozes, mais pessoas ou activos expostos ou menor preparação.

 

As elevadas emissões contínuas de gás vão levar a grandes quantidades de aquecimento futuro. Isso aumentaria a frequência e a intensidade de catalisadores climáticos. Os esforços ambiciosos para controlar as emissões podem diminuir o aquecimento futuro e os seus riscos.

 

O progresso na redução das emissões é uma parte importante da resposta às alterações climáticas, mas não é toda a solução. Também é essencial fazer os investimentos necessários para lidar efectivamente com as alterações climáticas que já não podem ser evitadas. Estes investimentos são especialmente importantes ao longo das próximas décadas, um período em que muitas das alterações climáticas que vamos experimentar já estão a ser preparadas no sistema climático, devido às emissões passadas e à infra-estrutura actual.

 

Com escolhas inteligentes, os investimentos ao longo das próximas décadas para reduzir o risco podem contribuir para sociedades vibrantes, economias robustas e ambientes saudáveis. Por exemplo, serviços de emergência melhorados, melhores transportes e infra-estruturas de comunicação podem fazer das ruas mais seguras e, simultaneamente, encorajar o comércio. Dependendo da localização, a melhor protecção em relação às inundações, a tecnologia de irrigação ou planeamento da cidade podem reduzir quer os riscos actuais quer os futuros para as pessoas e empresas. Quase em todos os locais, melhor educação, preparação e infra-estrutura podem ser parte de abordagens que impulsionam as economias e reforçam o fabrico da sociedade, ao mesmo tempo que reduzem o risco das alterações climáticas.

 

As alterações climáticas criam riscos reais e difusos. Se formos espertos e ambiciosos, responder a estes riscos pode também criar oportunidades reais.

 

Chris Field é o director fundador do Departamento de Ecologia Mundial da Carnegie Institutiony, professor de estudos ambientais na Universidade de Stanford e director da Jasper Ridge Biological Preserve de Stanford. É co-presidente do segundo grupo de trabalho de IPCC. Vicente Barros é professor emérito de climatologia da Universidade de Buenos Aires e co-presidente do segundo grupo de trabalho IPCC.

 

© Project Syndicate, 2014.

www.project-syndicate.org

Tradução: Raquel Godinho

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