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24 de Setembro de 2014 às 17:18

Educação e oportunidade

A educação é um dos factores fundamentais para o desenvolvimento pessoal, nacional e mundial. Desde o início deste século que vários países reconhecem isto, pelo que muitos estão a perseguir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio no sentido de alcançarem educação primária e erradicar as disparidades de género em todos os níveis de educação até 2015. Isto representa um contributo para um progresso considerável na expansão das oportunidades e concretizações educativas ao nível mundial. Mas há muito mais para ser feito.

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De facto, a educação primária universal foi quase já alcançada. Além disso, progressos consideráveis foram atingidos no sentido de uma igualdade de género em termos de oportunidades e concretização educacional. De facto, as taxas de matrículas de meninas em idade escolar aumentaram de forma constante em todos os níveis, alcançando quase a paridade com as taxas de matrículas masculinas em termos globais. Em resultado disto, as disparidades entre géneros em média de anos de escolaridade para a população adulta – amplamente utilizado para medir a concretização educacional – diminuíram.

 

Além disso, em 2010, para a população com 25 anos ou mais, o rácio de mulheres para homens em média de anos de escolarização era de quase 100% nos países desenvolvidos e de cerca de 85% nas regiões em desenvolvimento. Mas, em muitas economias de baixos rendimentos na África subsariana, no Médio Oriente e no sul da Ásia, as meninas continuam a ter menos acesso à educação, especialmente ao nível secundário e superior, que os rapazes.

 

Disparidades mundiais significativas continuam na educação pós-primária e na qualidade do ensino. Nas economias desenvolvidas, quase 90% da população entre os 15-64 anos teve, pelo menos, algum nível de educação secundária, o que compara com os apenas 63% nos países em desenvolvimento. De igual forma, apesar de mais de 33% da população em idade activa nos países desenvolvidos ter alcançado um nível de educação superior, nos países em desenvolvimento esta proporção é de apenas 12%.

 

As investigações académicas sugerem que os países com elevados rendimentos per capita, com baixa desigualdade de rendimentos e com baixas taxas de fertilidade tendem a investir mais na educação das crianças, com os gastos públicos a conduzirem a mais taxas de matrículas. A conclusão lógica é que os esforços para promover um crescimento económico inclusivo e melhorar os sistemas educativos podem aumentar as taxas de matrículas entre os mais novos nos países em desenvolvimento e reduzir as disparidades entre géneros e entre grupos sociais.

 

Mas simplesmente diminuir as disparidades nas taxas de matrículas escolares e o número total de anos de escolaridade não é suficiente. Os países têm também de assegurar a qualidade dos seus sistemas de ensino – um desafio chave nas próximas décadas.

 

Assim, os resultados educacionais pobres e os sistemas educativos ineficientes são preocupações profundas ao nível mundial. Em muitos países, o ensino primário falha em dar aos estudantes capacidades cognitivas apropriadas, como aritmética, alfabetização, capacidade de resolverem problemas e conhecimentos científicos gerais.

 

Além disso, uma educação inadequada aos níveis secundário e superior, incluindo ensino técnico-profissional e formação, está a deixar os alunos pouco preparados para enfrentar as exigências de um mercado de trabalho em mudança. Em resultado disto, muitos países estão a debater-se com a incompatibilidade entre as competências que os empregadores procuram e aquelas que os funcionários têm.

 

Elevadas disparidades na qualidade educacional, frequentemente medidas através das posições alcançadas pelos alunos em avaliações internacionais, são evidentes dentro e entre países. Os resultados da maioria das avaliações internacionais comparáveis em termos de matemática, leitura e ciências aos alunos do ensino primário e secundário revelam uma disparidade considerável não apenas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas também pelo mundo em desenvolvimento. De acordo com o "Tendências no Estudo Internacional da Matemática e da Ciência" (TIMSS, na sigla em inglês), a Coreia do Sul teve a melhor pontuação média (590) em 2011 no teste de ciências para alunos do ensino secundário, enquanto o Gana registou a pontuação mais baixa (306).

 

Embora o desempenho académico seja determinado amplamente pelos estímulos familiares e pelas capacidades individuais dos alunos, outros factores, como a quantidade de recursos escolares disponíveis para os estudantes, desempenham também um papel importante. Tal como outros elementos escolares, como a qualidade dos professores, a dimensão das turmas, os gastos por estudante e o tempo de instrução.

 

As características institucionais do sistema educativo são outro factor importante para o aproveitamento escolar. Financiamento privado e provisões, autonomia das escolas e monitorização externa e mecanismos de avaliação têm tendência para influenciar a qualidade da educação através da alteração dos incentivos para alunos e professores.

 

No futuro, é expectável que as tecnologias de informação e de comunicação estimulem o crescimento das oportunidades educacionais e melhorem a qualidade do ensino quer ao nível nacional quer ao nível internacional, dando um variedade de canais de aprendizagem inovadores. Por exemplo, a capacidade para utilizarem novas tecnologias para construir redes sem fronteiras entre escolas que ofereçam oportunidades para os alunos provenientes de países com baixos rendimentos aprendam com professores de países desenvolvidos – e vice-versa.

 

O imperativo é claro. Os líderes mundiais têm de comprometer-se a melhorar a qualidade da ensino e reduzir as disparidades educacionais aumentando os recursos escolares, melhorando a eficiência das instituições educacionais e aproveitar as oportunidades dadas pelas inovações tecnológicas. Tudo isto vai servir para enriquecer o capital humano, o que é essencial para impulsionar a produtividade e os rendimentos.

 

De facto, se estes esforços são desenhados especificamente para assegurar oportunidades iguais para todos, independentemente do género ou da riqueza, para a economia mundial vai ser um beneficio, pois promovem a coesão social ao nível nacional. Quando se trata de melhorar o ensino, não há lado negativo.

 

Lee Jong-Wha é professor de economia e director do Asiatic Research Institute na Universidade da Coreia, e é também conselheiro para os assuntos económicos internacionais do antigo presidente sul-coreano Lee Myung-bak.

 

Direitos de autor: Project Syndicate, 2014.
www.project-syndicate.org

 

Tradução: Ana Laranjeiro

 

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