Opinião
Topos e fundos
Habituado à dialéctica “topo-fundo” que o Jogo da Bolsa me incutiu, formatando-me perigosamente o cérebro, mas acima de tudo inspirado pelos intelectuais da bola, que eu sigo com devoção canina, decidi que o menu do dia 1/5 para esta crónica seria exacta
E assim, aqui vão os prémios “Topo e Fundo”, atribuídos pela Pravda para a quinzena 12-25 do 4(1):
Topo – A Bolsa
Quem me vai lendo aqui (vá-se lá saber porquê) deve entender este trecho como o terceiro da magnífica série “Mercados? Tudo lixado?”.
Ora há cerca de um mês e meio, escrevi: “Para mim, o barco parece ter batido no fundo, o que só quer dizer isso, recuperação é outra coisa”. Continuo com base na NYSE, pelas razões já aduzidas. Eis o gráfico último a que acedi, ao escrever: O meu diagnóstico parece ter sido exacto, mesmo emitido imediatamente a seguir a dois violentos “sell-off” . Ora, nestas circunstância, o bom é estancar a hemorragia solidamente, e , na verdade, o mercado parece estar sustentado nos 12.200 -12.700 pontos, tal como eu defendia.(2) ( Há quem aprecie logo as subidas, mas isso não interessa realmente, pois em geral apenas se trata das chamadas reacções técnicas).
Achei que tinha acertado na “mouche”, quando há 15 dias, logo após péssimos números sobre o emprego, a Bolsa não declinou na semana. Num mercado quase-eficiente, uma má notícia, não esperada ou pior que a esperada, que não provoca a racional reacção de descida proporcional, indicia que já não há mais nada para descer, que está tudo “descontado”.
E, ao contrário, pequenas coisas positivas empurraram logo o índice um tanto para cima.
Fundo – PSD
Luís Filipe Meneses é um grande presidente de Câmara, aqui no Norte sabemo-lo bem porque as coisas estão à vista. Gaia era uma espécie de Marraquexe para “lumpenproletariat” (+ caves de vinho do Porto) e tornou-se numa interessante cidade , com beira-rio e beira- mar encantadores, atraindo tanto o Centro de Estágios do FCP como o Corte Inglès e outras empresas. E quanto a pessoas, até parece que tem um grave problema, o dos refugiados de cidades limítrofes, desejosos de emigrar, criando-se até um grave problema humanitário, tipo arrabaldes de Cabul.
Mas fez bem em demitir-se da chefia do PSD(3), dada a boa probabilidade de andar a fazer branqueamento de capitais com as quotas de um euro por mês, lá do partido (cambada de tesos, livra!), entre outras coisas.
Além do mais, com todas as prima-donas do partido(4) a chatear com golpes baixos, eu já me tinha atirado duma janela abaixo; porém, uma opção menos dramática – bater com a porta – também é aceitável, e com a fome de notícias “reality-show” dos media, vai dar quase ao mesmo em exposição, e sempre se poupa no funeral. Mas a verdade é que também não se me alvitrava que LFM chegasse airoso às eleições e, chegando, que conseguisse bater Sócrates. Bem pelo contrário.
Aliás, recordam-se daquele crivo de critérios para se ser líder do PSD, na opinião dele próprio, Meneses? Ser elitista, sulista e liberal? Realmente na zona “elite”, ele, embora vindo duma universidade a sério, cultiva um certo ar “rissóis, em festa do PSD” que afasta quem põe lavanda inglesa depois do duche. “Liberal”? Com aquelas tiradas, fruto do momento e da quantidade de populares no local, não vai lá, mesmo prometendo baixar impostos. Quanto a “sulista”, a inundação de “bês” pelos “vês” trucida qualquer veleidade.
E quem vai tomar conta do barco? Eu, por mim, proponho Ferreira Leite, apesar daquele ar canhão-sem-recuo, ou talvez por isso, mesmo após a perdigotada desconsideração de Mira Amaral (mas então porque não concorres, pá? Isto é só “bota-abaixo”?)(5).
Dos outros, se calhar ainda por influência das aulas de Religião e Moral que gramei em miúdo, começava por riscar os que nem sabem o que é lealdade mínima, também transformando divergências políticas em arruaças pessoais e ódios de estimação. Fazem-me urticária.
(1) A entrega antecipada de textos leva a estes diferimentos temporais, e este é recauchutado da semana passada, devido ao feriado.
(2) Em termos técnicos, anote a forte resistência nos 12.700. Continuo a pensar que o sentimento ainda não apresenta ânimo para o derrubar duradoiramente, mas creio que já não falta muito.
(3) Não estou totalmente convencido que o “não” seja definitivo. Como este é um País de masoquistas, depois de se levar com um “não”, aparece logo uma chusma a pedir “sim”, se possível com umas chibatadas s/m.
(4) As “prima-dona” do PSD chamam-se “barões”, excepto Paula Teixeira da Cruz, que é uma “baroa”. E custa ver um homem da craveira de Amaral incluido na brigada de demolição, já a cheirar o sangue de Ferreira Leite.
(5) Fora eu militante do PSD e o meu voto ia para Neto da Silva, homem de inteligência, raça, integridade, êxito pessoal e instinto de vitória. É um amigo a falar, mas há melhor razão de conhecimento?