Opinião
The only way is up
Os pobres dos operários que estavam nas confecções, vão penar durante os próximos anos. E os funcionários públicos vão ter de conhecer os conceitos de avaliação do desempenho e de rescisão de contratos. Não há outra forma.
Pestana prevê fechar negócio para pousada em Marrocos este ano», «Grohe deslocaliza produção de torneiras da Alemanha para unidade fabril em Portugal», «Nutrinveste entra no mercado dos EUA com compra de produtora local de azeite», «Sonatrach quer entrar no mercado nacional e tem interesse na GALP», «Confederação de Indústria defende central nuclear no país», «EDP propõe-se investir 900 milhões de euros em quatro barragens até 2012» são os títulos do Jornal de Negócios, de dia 5 de Julho. «Ernâni Lopes lança «master plan» para pôr turismo a «puxar» pela economia», «Tutor Time escolhe Portugal como porta de entrada na Europa», «Easy Jet entra em Lisboa com 500 mil passageiros», «Lanidor investe na hotelaria para diversificar actividade», «Famo vai crescer 30% em Espanha este ano», «Empresas portuguesas abreviam prazos de pagamento a fornecedores», diz o Diário Económico da mesma data. Até parece que esta «crise» é irreal. No sentido, de que as empresas e as intenções privadas de investimentos continuam a correr em velocidade, enquanto os constrangimentos no lado público da economia e as notícias de encerramentos de fábricas fazem as manchetes pessimistas nos jornais. E, na verdade, Portugal atravessa um momento complicado e duro. Porque são duas, as reestruturações profundas que o País enfrenta ao mesmo tempo: a do Estado e a do tecido industrial.
A primeira resulta, parece agora claro, da iniciativa dos governos de Cavaco Silva para promoverem o bem-estar de algumas categorias «especiais» de funcionários públicos, que foram premiados com uma panóplia de benefícios sociais, hoje financeiramente insustentáveis. Depois, os governos de Guterres e de Durão Barroso esqueceram-se de promover uma redução de postos de trabalho na Função Pública. A factura está à vista: um orçamento de Estado que não paga a despesa corrente e que está concentrado no pagamento de salários e benefícios a centenas de milhar de funcionários, que se habituaram a este Estado previdente. Como a arrecadação fiscal já não chega para pagar os salários, as pensões, os subsídios e aifns aos setecentos mil funcionários públicos, o caminho é único: reduzir o número de funcionários públicos e cortar nas suas benesses. Tem mesmo de ser.
A segunda é fruto, também evidente, de um empresariado mal preparado e focado no lucro fácil, que se entreteve a empochar umas massas à custa da exploração do modelo de salários baixos, especialmente nos sectores dos têxteis e do calçado. Agora, com a abertura de mercados onde a mão-de-obra é infinitamente mais barata, lá se vão estas «indústrias» para outras paragens. Aqui, o que se verifica é um movimento de destruição de empresas já não competitivas, ao mesmo tempo que emergem outros sectores de actividade, como o turismo, as energias (especialmente as alternativas), os serviços tecnológicos. A passagem de um modelo assente na mão-de-obra desqualificada e barata para uma «nova» economia, com empresas que trabalham em sectores mais sofisticados e onde são essenciais as capacidades intelectuais dos «colaboradores». (na empresa dita moderna, já não há trabalhadores).
Estes dois movimentos originam dolorosos pontos de ruptura social: estão-se a destruir postos de trabalho, lançando milhares de trabalhadores no desempregado (de onde nunca vão, aliás, sair), matando a crença de que trabalhar para o Estado é um emprego para a vida e um estatuto vitalício. Os pobres dos operários que estavam nas confecções, vão penar durante os próximos anos. E os funcionários públicos vão ter de conhecer os conceitos de avaliação do desempenho e de rescisão de contratos. Não há outra forma. Como, por infelicidade, estas coisas acontecem todas no mesmo momento em que o petróleo atinge máximos históricos, prejudicando a actividade económico global, isto ainda ficou mais complicado. E, mesmo reconhecendo a necessidade de moderar o impacto destas «revoluções» com políticas de protecção social, vamos mesmo passar por um período complicado. Que será mais fácil, apenas na medida em que as empresas e os grupos privados criarem novas oportunidades, em áreas mais promissoras. Por isto, o melhor que nos pode acontecer é que os agentes privados continuem a investir, escolhendo eles próprios os sectores e os mercados que lhes interessam, permitindo que se criem novos postos de trabalho, mais qualificados e com maior futuro. Para dar esperança a quem já não tem lugar na economia actual e para quem o vai perder nos próximos meses. Mas não há que ter dúvidas: o único caminho é este. Só podemos ir em frente, custe o que custar.