Opinião
SAPO, TV Cabo, Kanguru, BES, Frize
Os anúncios para jovens assentam no humor e alegria, mas seria mesmo preciso a alguns acentuarem a patetice? O regresso às aulas não alterou o perfil. O Sapo continua no registo tipo Morangos com Sapo de Verão. Primeiro o batráquio andava pela praia a ver
Primeiro o batráquio andava pela praia a ver as miúdas, agora anda na escola a ver as miúdas. Que ninguém espere que o Sapo queira ADSL a bom preço para estudar, investigar, ler, aprender. É vê-lo todo dengoso ao lado de miúdos imberbes a olhar para miúdas imberbes, apelando ao erotismo de pré-adolescentes.
A TV Cabo recorre à beleza frívola na campanha com as três raparigas que promovem o 3Play de Internet, telefone e TV. A representação humanizada dos três serviços numa só unidade recupera para o público jovem o mítico conceito das “três graças”, tão presente na arte e na cultura “pop” – a associação chegou aqui via Anjos de Charlie. Na primitiva série de TV dos anos 70 a vitória das três raparigas boas sobre os maus da fita resultava da utilização “inteligente” da sua... sexualidade. Nada mais. No anúncio mais recente do 3Play a aventura não chega a começar: o desenlace da narrativa é a reunião das três meninas numa espécie de carro blindado: um indivíduo inteligente vai buscar a casa cada uma das belas cabecinhas no ar (uma vê TV, outra fala ao telefone, outra andava pela net) e junta-as no carro do 3Play. A narrativa diz que elas valem por serem três serviços e estarem junta(o)s a bom preço.
O anúncio do Kanguru, com os jovens todos ao saltos (mudando de rede, usando a Internet) é visualmente atractivo, mas apela de novo, e novamente, e mais uma vez, para o conceito de multidão, mostrando um grupo de pessoas que se vai juntando na cama elástica para “saltar” para outra rede. Também o Millennium recorre à multidão para chamar a si a juventude, com um concerto num lugar público apelando aos jovens que virem a sua vida de pernas para o ar. A música promete “um pequeno T2 e um carro com tecto de abrir”, e a imagem mostra carochas e Fiats 500 descapotáveis, conotando que o sonho não pode ser integralmente cumprido, mas se cumpre de qualquer forma. É uma ideia interessante, pois faz da imaginação o motor da mudança de vida, sendo o banco que permite accionar essa mudança sem prometer mundos e fundos. O anúncio é alegre sem ser tolo e, tal como a programação generalista, o banco volta a recorrer à música para atrair.
O BES preferiu recorrer ao estereótipo do rapaz parvo para continuar a sua campanha junto do público-alvo jovem. O rapaz chega-se ao pé de vários homens ricos e chama-lhes pai, seja no clube, no golfe, na marina. “Não tens pais ricos nem ganhaste a lotaria? Vai ao BES”. O texto e a imagem fazem do banco o pai adoptivo.
Poderia ser o irmão desse parvo aquele que aparece telefonando para a OK TeleSeguro no momento em que está para ter um acidente de bicicleta, caindo numa ribanceira enquanto diz à operadora que “ainda não” se magoou. Já um primo do jovem parvo está no anúncio Frize, que, pelo seu absurdo, merece o prémio do que costumo chamar “É Tão Estúpido que Até É Giro”: o rapaz cospe para cima da namorada uma bebida de pirolito na feira; sobe à montanha russa para se assustar enquanto ela espera por ele, volta todo molhado entre as pernas (o medo serviu para se “livrar das outras águas”, assim comparadas a urina) e finalmente bebe Frize. Esta apresenta-se como água, apesar de ter sabor. Quando eu era criança ouvia em disco preto a história popular do João Pateta, que fazia asneiras sem perceber. Agora parece que o João Pateta anda de anúncio em anúncio.