Opinião
Queremos mais, muito mais.
O coro de elogios de que tem sido alvo este Governo é sintomático do estado a que chegou o País. Não é preciso fazer muito para se destacar dos demais. Basta fazer alguma coisa.
José Sócrates, nos menos de 100 dias que leva de governação apresentou soluções que nenhum dos três anteriores governos teve a ousadia de apresentar. Para isso escudou-se na actual situação orçamental e na necessidade de consolidar as contas públicas nacionais. Mas não será esse o problema que o primeiro-ministro resolve com as medidas anunciadas. O Governo limitou-se a aumentar impostos e a introduzir alguma justiça social no sistema de aposentação existente, mas o problema da sustentabilidade das contas públicas continua lá. Praticamente intocável.
É verdade que não hoje razão para que dois trabalhadores que descontam o mesmo para a segurança social e que pagam os mesmos impostos, tenham um esquema de reforma diferente. Mas também é verdade que há muito se sabe o actual regime geral da segurança social – para onde agora convergem os funcionários públicos – precisa de medidas bem mais agressivas para assegurar a sua sustentabilidade. E aí, até ao momento, nada.
E também aqui as soluções são conhecidas. Ou o Governo opta por penalizar os portugueses, quer seja com a subida da idade legal da reforma ou retirando-lhes alguns dos benefícios actuais, ou consegue introduzir soluções que levem esses mesmos portugueses a interiorizarem que o Estado não pode ser o único garante das pensões que aspiramos vir a receber.
O Governo deu um passo em frente com as medidas anunciadas, mas marcou passo ao não aproveitar os protestos que se seguem para, de uma vez, contribuir para a sustentabilidade das finanças públicas no futuro.
A sondagem que hoje publicamos (pág. 42) mostra que os portugueses sabem que é preciso mais, muito mais.