Opinião
Futebol, impostos e demagogia
Totonegócio, 1998. Estavam lá todos os ingredientes: futebol, impostos e um Governo que tremia perante o futebol. Todos sabiam quanto é que os clubes deviam.
Definiu-se que a dívida seria compensada com as receitas do Totobola. Todos sabiam que, no final, uma boa parte da dívida não seria paga.
Para esconder o final, os argumentistas socialistas da altura definiram que em 2004 haveria uma reavaliação. Eram precisos novos actores. Era preciso que alguém viesse, mais uma vez, garantir que nem um cêntimo ficaria por pagar.
O ministro das Finanças em funções cumpriu à risca o seu papel e, num grande momento de representação, gritou bem alto: não haverá mais adiamentos. Não ficará um cêntimo por pagar. Havia apenas dois pequenos problemas: saber quem iria pagar e saber se a dívida estava, ou não, extinta tal como, em 1998, um voto vencido num parecer da PGR já tinha alertado.
Pormenores. O ministro das Finanças resolveu rapidamente o problema: no guião que lhe deram dizia que a Federação e a Liga de Clubes assumiam o papel de gestores de negócio dos clubes. Alguém se esqueceu que se tratavam de meros representantes desses mesmos clubes e, como tal, teria de ser aos clubes, e só aos clubes, que a divida poderia ser exigida. Mas a encenação tinha de continuar, era preciso seguir em frente. A Liga e a Federação foram notificadas e foi-lhes instaurado um processo de execução fiscal. Bagão Félix garante que fez o que tinha a fazer, Liga e Federação garantem que vão recorrer aos tribunais e os clubes e os seus presidentes riem-se. Porque será?
Pelo meio, os portugueses quiseram que nesta história houvesse uma espécie de justiça divina. Mudaram o Governo e fizeram regressar os pais do Totonegócio. Serão eles a ter a última palavra, apesar de o final já ser conhecido. O Futebol faz muito pelo país, é um sector que transporta e eleva o nome de Portugal. Os clubes têm de ser protegidos. Esqueçam-se os impostos. É a vida.