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Preservação da biodiversidade - custo ou oportunidade?

Se as empresas forem capazes de gerir eficazmente os riscos relacionados com a biodiversidade na sua gestão empresarial, podem beneficiar de uma vantagem competitiva

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A biodiversidade afeta a qualidade de vida e é essencial à sustentabilidade humana e às actividades económicas. A economia mundial depende da biodiversidade, um recurso que as empresas, direta ou indiretamente, utilizam na sua cadeia de produção para converter matérias-primas em produtos e serviços associados. A biodiversidade é transversal a todos os setores e atividades e a sua relevância tem de ser compreendida por todos.

É cada vez mais importante a capacidade das empresas de incorporarem a biodiversidade nas suas estratégias e negócios. As empresas que mais cedo desenvolverem esforços para avaliarem e incorporarem a preservação da biodiversidade nas suas atividades, assumem um papel de liderança e serão uma referência para as restantes. A ausência de consciencialização e a falta de conhecimento sobre a relação entre as práticas produtivas e a dependência, e impacto nos ecossistemas e os riscos e oportunidades relacionados, são ainda uma evidência para grande parte das empresas portuguesas. Há empresas que têm uma relação mais directa com a biodiversidade, quer porque estão ligadas à indústria das matérias-primas e, como tal, têm um forte impato sobre os ecossistemas, quer porque dependem de ecossistemas saudáveis e exercem uma acção directa sobre os mesmos (agricultura, turismo, pesca, etc.), ou, até porque intervêm na gestão de riscos e na segurança de activos (seguros/sector financeiros), e nessa medida, a degradação do recurso e as consequências associadas, são percebidas de forma mais imediata, todavia, a situação ainda está longe de ser a ideal.

Uma menor diversidade significa uma maior exposição e vulnerabilidade aos impactos externos sobre os ecossistemas e representa uma ameaça à segurança dos abastecimentos. O setor empresarial tem de alterar comportamentos com o objectivo de promover uma utilização mais eficiente dos recursos naturais e de instituir práticas inovadoras de gestão sustentável. Embora as empresas de maior dimensão já tenham políticas corporativas de preservação da biodiversidade, há uma grande fatia do setor empresarial ao nível das PME, em que a consciência da problemática é ténue e em que a situação não é encarada como uma oportunidade de valorização da empresa a médio prazo. São reféns do curto prazo e do custo associado à implementação das medidas e procedimentos. Mas as empresas não podem fixar-se só no rendimento económico imediato. Para que o rendimento seja sustentado há que ter em conta outros factores que contribuem para a valorização das empresas, e a biodiversidade é um dos aspectos relevantes. A ótica do mero custo é errada e redutora. As empresas devem identificar os impatos e dependências das respectivas actividades perante a biodiversidade, adotar ferramentas de conhecimento para gestão de riscos e oportunidades dentro das áreas de negócio e incluir a biodiversidade na estratégia corporativa e na análise do negócio. As empresas vão ter de ser capazes de antecipar o futuro e as necessidades, e de se posicionarem competitivamente, preservando os ecossistemas.

A integração da sustentabilidade na estratégia e na tomada de decisões das empresas contribui para a redução do perfil de risco e acrescenta valor às mesmas. Os riscos devem converter-se em oportunidades. Novas áreas de actividade, novos produtos, novos mercados, novas tecnologias, novos padrões de produção e de consumo! Se as empresas forem capazes de gerir eficazmente os riscos relacionados com a biodiversidade na sua gestão empresarial, podem beneficiar de uma vantagem competitiva no acesso a mercados, recursos e financiamento. Também as políticas públicas, na vertente regulatória e nos incentivos, devem promover e apoiar a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas pelas empresas. O regulador deve estabelecer regras, fiscalizar e incentivar a participação do sector privado. Os desafios são muitos e não podem ser ignorados, porque os bens são escassos e temos de ser capazes de compatibilizar o desenvolvimento económico com a conservação da biodiversidade. O sucesso económico está ligado ao desempenho social e ambiental e tem benefícios que se traduzem em reputação, credibilidade e na garantia de crescimento sustentável, que cada vez mais atraem a atenção de investidores socialmente responsáveis e contribuem para uma diferenciação positiva no mercado.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


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