Opinião
Portugal não é Itália
Portugal não é o único país em que há a expectativa de que uma mudança de Governo leve a uma mudança de rumo.
Portugal não é o único país em que há a expectativa de que uma mudança de Governo leve a uma mudança de rumo. Ou a uma qualquer mudança que faça o rumo parecer menos exigente. Que vista uma luva de pelica no punho de ferro do ajustamento tremendo que é preciso fazer em tempo recorde quando o que está em causa não é só o rumo de um país, mas do projecto que vai permitindo à Europa ambicionar ser maior do que a soma das suas partes – o euro.
Há quem defenda agora um governo "tipo Mário Monti" para Portugal. Não consigo ver a necessidade. Monti só saltou do recato da academia para a insana política italiana depois de Berlusconi (três vezes primeiro-ministro) ter feito mais do que não podia: desautorizou ostensivamente o seu ministro das Finanças (muito sapo engoliu Giulio Tremonti); desafiou o BCE (que torrou muito euro a tentar segurar os juros italianos, enquanto no parlamento romano se ensaiava pugilismo); e lançou os partidos que o apoiavam para uma frente de combate onde se alinhara um enfurecido exército europeu. Por cá, é notório e manifesto que Passos Coelho já teve mais apoio de Portas e que as relações com Vítor Gaspar tiveram melhores dias. Já da Europa, pode até faltar muita coisa, mas não palmadinhas nas costas.
Não consigo ver necessidade. Nem vantagem. Um governo liderado por um tecnocrata traria mais estabilidade? Em menos de um ano de governo, e não obstante dispor de uma maioria teoricamente confortável (três partidos), Monti apresentou duas dezenas de moções de confiança ao parlamento. Sempre que a coisa ficava na gaveta ou ameaçava ficar coisa nenhuma pelo meio de tanta emenda, lá vinha o grito: "Ou aprovam ou vou-me embora".
Não consigo ver necessidade. Nem vantagem. Nem pretexto. Monti só foi promovido pelos europeus a primeiro-ministro de Itália para fazer o que a Europa pedia e queria. Passos Coelho já está a fazer mais do que a troika quer. Talvez isso nem seja verdade nas mexidas propostas para a TSU. O Governo diz que a sugestão foi sua (se admitisse o contrário cairia o mesmo Carmo e Trindade, mais a condenação de submissão aos troikanos). Facto é que o memorando do segundo empréstimo à Grécia data de Março, e já então se sugere que a neutralidade orçamental da descida da TSU paga pelos empregadores (no caso grego, retirar cinco pontos a 28%) seja assegurada pelo alargamento da base contributiva e ajustamentos nas pensões.
Não consigo, pois, ver necessidade, nem vantagem, nem pretexto para um governo "tipo Monti" em Portugal. Só consigo encontrar bons argumentos para novas eleições. E outros tão bons ou melhores para arrumar o assunto até ao fim da legislatura.
Há quem defenda agora um governo "tipo Mário Monti" para Portugal. Não consigo ver a necessidade. Monti só saltou do recato da academia para a insana política italiana depois de Berlusconi (três vezes primeiro-ministro) ter feito mais do que não podia: desautorizou ostensivamente o seu ministro das Finanças (muito sapo engoliu Giulio Tremonti); desafiou o BCE (que torrou muito euro a tentar segurar os juros italianos, enquanto no parlamento romano se ensaiava pugilismo); e lançou os partidos que o apoiavam para uma frente de combate onde se alinhara um enfurecido exército europeu. Por cá, é notório e manifesto que Passos Coelho já teve mais apoio de Portas e que as relações com Vítor Gaspar tiveram melhores dias. Já da Europa, pode até faltar muita coisa, mas não palmadinhas nas costas.
Não consigo ver necessidade. Nem vantagem. Nem pretexto. Monti só foi promovido pelos europeus a primeiro-ministro de Itália para fazer o que a Europa pedia e queria. Passos Coelho já está a fazer mais do que a troika quer. Talvez isso nem seja verdade nas mexidas propostas para a TSU. O Governo diz que a sugestão foi sua (se admitisse o contrário cairia o mesmo Carmo e Trindade, mais a condenação de submissão aos troikanos). Facto é que o memorando do segundo empréstimo à Grécia data de Março, e já então se sugere que a neutralidade orçamental da descida da TSU paga pelos empregadores (no caso grego, retirar cinco pontos a 28%) seja assegurada pelo alargamento da base contributiva e ajustamentos nas pensões.
Não consigo, pois, ver necessidade, nem vantagem, nem pretexto para um governo "tipo Monti" em Portugal. Só consigo encontrar bons argumentos para novas eleições. E outros tão bons ou melhores para arrumar o assunto até ao fim da legislatura.
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