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05 de Fevereiro de 2007 às 13:59

Portugal e a Grande China

A visita oficial de José Sócrates à China traduziu-se numa importante iniciativa que pretendeu, em primeira linha, incrementar as relações económicas sino-portuguesas. As trocas entre os dois países são ainda pouco expressivas, representando para Portugal

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No entanto – possivelmente em consequência do Acordo sobre Cooperação Económica, celebrado em 2005 entre ambos os países –, a tendência parece ser para mudar, tendo o ano de 2006 sido um período particularmente dinâmico (embora desequilibrado para o nosso País): as importações cresceram mais de 20% e as exportações portuguesas progrediram 9,2%. Ora o que se deseja é que Portugal, reforçando esta dinâmica de trocas, também as reequilibre, razão pela qual a viagem governamental se centrou, e a meu ver bem, na promoção de dois objectivos centrais: o crescimento das exportações portuguesas e a captação de Investimento Directo Estrangeiro (IDE).

Como se sabe, este gigante asiático tornou-se uma das principais economias (e, paralelamente, um dos maiores mercados consumidores) do mundo. Contudo, é ainda um mercado muito controlado e não está acessível a todos, pelo que é preciso conhecê-lo bem. Muitos empresários perguntarão mesmo se a China representará uma verdadeira (ou uma falsa) oportunidade para os negócios.

O País ocupa, de momento, o 4º lugar no ranking mundial das potências económicas, sendo previsível que, em 2008, ultrapasse o PIB alemão, ficando apenas atrás dos EUA e do Japão. A verificar-se este facto, será a primeira vez, desde a Revolução Industrial, que um país europeu não figura entre as três primeiras economias mundiais.

Com um crescimento na ordem de 1% do PIB mundial em 1975, passou para 6% do PIB mundial em 2006, estimando-se que possa atingir 15% do PIB mundial em 2020. E o desenvolvimento chinês é completo: um crescimento de 10,7 % em 2006, uma inflação de apenas 1,5%, o IDE com um crescimento de 24%, um excedente comercial de 7% do PIB, a maior reserva de divisas do planeta que atinge 1.060 mil milhões de dólares.

Não obstante, a rapidez deste crescimento gera tensões.

No plano interno, observam-se fortes desigualdades sociais e regionais e uma preocupante devastação do ambiente, acompanhada de um gigantesco processo de urbanização que movimentará cerca de 15 milhões de pessoas por ano. No plano externo, a expansão da influência chinesa tem também gerado tensões. O dinamismo das exportações tem destabilizado unidades de produção, empregos e territórios dos países mais desenvolvidos. Além do mais, a China prossegue uma estratégia activa quer no intuito de assegurar o acesso a fontes de energia e a matérias-primas (nomeadamente em África e na América latina), mas também no propósito de consolidar o acesso aos mercados dos países mais desenvolvidos (designadamente através da aquisição de empresas).

Assim, a China vive hoje um período específico a que já se chamou de "3ª vaga reformista": perante as tensões criadas por este crescimento rápido e acentuado, as autoridades preconizam no plano interno um "desenvolvimento harmonioso" e no plano externo uma política de "emergência tranquila".

Ou seja, a nível interno, as prioridades imediatas parecem agora voltadas para o favorecimento do consumo, nomeadamente, através de um maior investimento nas áreas da educação/investigação e da saúde (com um volume de investimento ainda aquém do dos EUA mas já à frente do japonês); para a protecção do ambiente e valorização de actividades não poluentes; para a promoção do desenvolvimento das zonas rurais; e para a protecção social (o governo chinês anunciou, recentemente, a intenção de rever a sua lei laboral).

Por outro lado, inaugura-se um conjunto de políticas restritivas ao investimento estrangeiro. Em 2006 – mesmo tendo as autoridades procurado refrear o seu aumento –, o IDE aumentou 4,5%, isto é, cerca de 63 mil milhões de dólares. Perante este "resultado decepcionante", em Novembro último, a Comissão de Estado para o Desenvolvimento – num documento onde traça a estratégia política para os próximos cinco anos – realça que devem ser privilegiados os investimentos capazes de gerar valor acrescentado, permitindo ao país desenvolver as áreas tecnológicas e os centros de investigação. A prospecção petrolífera, o design automóvel, os serviços financeiros ou os transportes públicos são apontados como sectores-chave. Por outro lado, o documento apela a uma maior reserva no que respeita a investimentos em actividades de fraco valor acrescentado.

É, pois, sob o lema da "mudança" que Portugal chega à China e as oportunidades de negócio deverão ser perspectivadas nessa óptica. A comitiva de Sócrates integrou empresários de sectores (novas tecnologias, banca, engenharia, cortiça, vinhos, têxteis e área alimentar) que podem vir a ser bem sucedidos no mercado chinês. Veja-se o exemplo da produção vitivinícola. Segundo um estudo realizado pelo Research Group britânico ISWR/DGR – e apresentado na Vinexpo 2006 –, em 2005, a China ocupava o 10º lugar mundial em termos de consumo de vinho com 4,10 milhões de hectolitros; em 2010 poderá passar para os 5,58 milhões (uma progressão na ordem dos 36%). Segundo este estudo, entre 2005 e 2010, a China será ser o mercado mais dinâmico do mundo em consumo de vinho e este facto – que deverá beneficiar sobretudo os produtores locais – também conduzirá a um aumento da importação de vinhos (que se calcula seja na ordem dos 53,58%), podendo os produtores portugueses ter aqui boas oportunidades de negócio.

A par da possibilidade de as empresas portuguesas poderem internacionalizar-se com sucesso no mercado chinês, é fundamental que o Governo português consiga atrair investimento chinês capaz de criar, simultaneamente, riqueza e valor acrescentado junto de sectores produtivos estratégicos e, ainda, emprego que reabsorva desempregados e/ou empregue mão-de-obra qualificada.

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