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10 de Março de 2006 às 13:59

Portas, comentador

Aguardava-se, de Portas, o manuseio de varapau a varrer a testada, na obediência ao enaltecido epíteto: Paulinho das Feiras. Nada disso. (...) foi uma estopada, moldura ao protagonismo de que Portas nunca abdicou e pelo qual corre, arfante. Novidades, no

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Paulo Portas regressou ao comentário televisivo. No registo buliçoso que lhe caracteriza o modo de ser, afirmou que o reaparecimento permitirá «quebrar a overdose de esquerda e esquerdismo instalada no País e que o empobrece». Portas promete esmagar a canalha, numa cruzada que só não conserva a graça da novidade porque possui históricos antecedentes.

Na SIC-Notícias, vai enriquecer a pátria, assaz debilitada com as permanentes intervenções de inquietantes esquerdistas como Luís Delgado, Nuno Rogeiro, José Pacheco Pereira, António Lobo Xavier, entre outros sagazes preopinantes – e sem esquecer a esclarecida Maria João Avillez.

À parte os precipitados atarantos, Portas é um jornalista viçoso, cultivador do excesso, a tocar a injúria, relevâncias que lhe deram lustre como director do «Independente», numa época de vazio e de mediocridade, hoje alegremente repetida. Os artigos de Portas contribuíram para o descrédito e a queda do dr. Cavaco mais do que as tristes arengas das oposições. Depois, ele armou alegres ciladas a toda a gente, e acabou, gentilmente, por apoiar o funesto Cavaco, a quem classificara de ignorante, oportunista e soberbo.

A SIC-Notícias, decididamente, quer enfrentar Marcelo, e arrostar Sousa Tavares, numa ocasião em que o primeiro começa a ser maçador, e o segundo se tornou num comentador do óbvio. (Não aludo a António Vitorino, o génio da garrafa, por irrelevante o que pensa e, pior, o que diz). Marcelo expõe o pícaro barroco e a ironia um pouco dadaísta; Tavares, um exercício de surdo ressentimento, conduzido em nome de uma patética expedição de moralização social. Paulo Portas é mais culto, mais atrevido e, até, mais consistente, por desenvoltamente inquietante. Quanto a show-off, também leva a melhor. E qualquer deles odeia qualquer coisa - sentimento que comporta, em si mesmo, enormes vantagens para programas de televisão deste tipo.

O primeiro programa de «O Estado da Arte» não foi carne, nem peixe, nem arenque vermelho. E o «formato» parece um mimetismo da «Sociedade Aberta», com breve toque pós-moderno. Aguardava-se, de Portas, o manuseio de varapau a varrer a testada, na obediência ao enaltecido epíteto: Paulinho das Feiras. Nada disso. A excessivamente dilatada primeira parte, foi uma estopada. Serviu, porém, de moldura ao protagonismo de que Portas nunca abdicou e pelo qual corre, arfante. Novidades, no discurso político do comentador? Nenhumas. Ele continua cada vez mais previsível, e velho, benza-o Deus!

O que disse sobre os filmes dos Óscares foi rudimentar, sem grandeza crítica e com má voz: a vulgaridade brunida. Continua a arvorar-se no detentor da razão e, pelos vistos, o seu espírito não acalenta dúvidas. Como o «outro». Mas acautele-se quem tem de se precaver. O exercício de aquecimento de terça-feira forneceu algumas pistas. O homem pode não ser original; o seu discurso, um aborrecimento  -  mas é capaz de estilhaçar a loiça, e de esfregar sal em feridas mal curadas.

APOSTILA 1 -  Clara Ferreira Alves, virtuosa cronista da «Única», a suave revista do enfadonho «Expresso», verteu uma filípica contra Pedro Santana Lopes, seu antigo patrão. Alves zurziu, agora, o que há muito se sabia: o ex-autarca adquirira, para seu uso e consumo, um caríssimo automóvel. A sarrafada não deixou de espantar aqueles que se lembram de aquela senhora ameaçar, com bofetões, o articulista Augusto M. Seabra. Este, recusando combinações metafóricas, incluíra-a no rol das santanetes. Apoiava-se, Seabra, no facto de Alves, ex-repórter do «Correio da Manhã», ex-assessora de Jaime Gama, ter aceitado, sem rebuço, das mãos de Santana, as funções de directora da Casa Fernando Pessoa. «Mas Santana Lopes tem lepra?», indignara-se, irada, a cronista. E terçara armas pelo empregador, num afã de prosélita, desmentido pela invectiva, agora, quando já não é subalterna de Santana. A desalmada crónica da cruel cronista leva o título de «Obscenidade». De quem? 

APOSTILA 2 -  Luís Delgado, perpetuamente sôfrego de escrever, implantou um estilo de contralinguagem, tornando os seus textos tão acessíveis a crianças como a matóides. Do panegírico publicado, última segunda-feira, no «Diário de Notícias», extracto esta pérola: «Cavaco, metaforicamente, é como um piloto automático: quando define o rumo, introduz as coordenadas na cabeça e não muda até ao destino». Ó homem, cuidado com o que escreve! Essa introdução das coordenadas na cabeça  -  suscita lúgubres apreensões.

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