Opinião
Porque é que António Câmara acredita em Portugal?
Por ocasião da entrega do Prémio Pessoa 2006, António Câmara, o visionário Professor Empreendedor da YDreams apresentou o seu "sonho" sobre Portugal 2015 e mostrou uma convicção única na abordagem duma capacidade estratégica de o nosso país se assumir com
Tendo por referencial o seu próprio caso imparável, sustentado numa aposta empresarial que fez da Inovação e Criatividade a plataforma de actuação para a afirmação duma imagem de mudança, António Câmara acredita em Portugal e consegue de facto convencer-nos que, apesar de tudo, é possível chegar lá.
Compete à "classe criativa" de Richard Florida, que António Câmara tanto defende, esse papel de liderança fundamental. Os conhecidos baixos índices de "capital estratégico" no nosso país e a ausência de mecanismos centrais de "regulação positiva" dificultam o processo de afirmação dos diferentes protagonistas da "classe criativa". Independentemente da riqueza do acto de afirmação individual da criatividade, numa sociedade do conhecimento, importa de forma clara "pôr em rede" os diferentes actores e dimensioná-los à escala duma participação global imperativa nos nossos tempos. Apesar dos resultados de iniciativas como as "Cidades e Regiões Digitais", vocacionadas para posicionar o território no competitivo campeonato da inovação e conhecimento, falta uma estratégia transversal.
Uma agenda criativa
A sociedade civil tem nesta matéria um papel central. A "classe criativa", na sua diferença e no seu sucesso, é o resultado dum "tecido social" que se pretende voltado para um futuro permanente. Os índices de absorção positiva por parte da sociedade dos contributos inovadores da "classe criativa" passam muito pela estabilização de condições estruturais essenciais. A matriz comportamental da "população socialmente activa" do nosso país é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma cultura de dinâmica positiva. Ou seja. Dificilmente se conseguirá impor por decreto uma "revolução empreendedora" e mesmo o aumento do desemprego, por força da desindustrialização e emagrecimento dos Serviços Públicos/Privados, poderá não ser suficiente para suscitar uma "auto-reacção" das pessoas.
A falta de rigor e organização nos processos e nas decisões, sem respeito pelos factores "tempo" e "qualidade" já não é tolerável nos novos tempos globais. Não se poderá a pretexto de uma "lógica secular latina" mais admitir o não cumprimento dos horários, dos cronogramas e dos objectivos. Não cumprir este paradigma é sinónimo de ineficácia e de incapacidade estrutural de poder vir a ser melhor.A ausência da prática de uma "cultura de cooperação" tem-se revelado mortífera para a sobrevivência das organizações.
Na Sociedade do Conhecimento sobrevive quem consegue ter escala e participar, com valor, nas grandes Redes de Decisão. Num país pequeno, as Empresas, as Universidades, os Centros de Competência Políticos têm que protagonizar uma lógica de "cooperação positiva em competição" para evitar o desaparecimento. Querer cultivar a pequenez e aumentá-la numa envolvente já de si pequena é firmar um atestado de incapacidade e de falta de crença no futuro.
Uma atitude de mudança
É doentia a incapacidade em definir, operacionalizar e dinamizar a lógica de "Capital Social" do nosso país. Não é obviamente o paradigma da Inovação dos países da Europa Central, porque os índices rating da Competitividade estão em todas as análises aquém destes casos de sucesso. O diagnóstico está feito há muito tempo sobre esta matéria. Mas também já não pode ser, porque não é, a lógica do "low cost support" como referencial de criação de emprego e de fixação de "capital social básico" no território.
Desenvolvimento Sustentável, Aposta nas Cidades, Criatividade dos Diferentes Segmentos da População, Inovação Empresarial Permanente, Inserção permanente nas Redes Globais – claramente que numa lógica de afirmação do país no panorama internacional o papel de alavancagem destes Factores se pode revelar determinante. A diferença está na sua prática operativa permanente, numa lógica de desígnio nacional.
A mensagem de António Câmara é mais do que nunca actual entre nós. A "classe criativa" que se quer legitimar no tecido social português terá que ser capaz de ganhar estatuto de verdadeiro "parceiro estratégico" do desenvolvimento do país. Isso faz-se com "convergência positiva" e não por decreto. Importa por isso, mais do que nunca, estar atento e participar com o sentido da diferença.