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28 de Março de 2006 às 13:59

Os fins e os meios do Sr. Palocci

No momento em que vos escrevo decide-se o destino do nº 2 da República brasileira, o ministro da Fazenda (Finanças), António Palocci. É que no momento em que vos escrevo presta depoimento na Polícia Federal de Brasília o presidente da Caixa Económica Fede

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É que no momento em que vos escrevo presta depoimento na Polícia Federal de Brasília o presidente da Caixa Económica Federal, Jorge Mattoso, a respeito da violação do sigilo bancário de Francenildo, o caseiro que diz ter visto Palocci (que, como ministro da Fazenda, tutela a Caixa Económica Federal) na casa que seria usada pela «República de Ribeirão Preto» (grupo de assessores de Palocci quando este era prefeito da cidade de Ribeirão Preto) para negociatas e orgias. Os prudentes apostam que esse ex-radical de esquerda que - embora mantendo a barba rala (trotskista) - conquistou a confiança do mercado financeiro, será demitido. Ele é o homem-mau do momento (o Brasil precisa, permanentemente, de homens-maus - que, preferencialmente, eram muito-bons antes de serem muito-maus).

O que o presidente da Caixa Económica Federal vier a dizer à Polícia Federal pode selar o destino de Palocci porque ou Jorge Mattoso assume para si toda a responsabilidade pela criminosa violação do sigilo bancário do caseiro que acusa o chefe, ou põe o chefe na fogueira ou, pura e simplesmente, não consegue, por mais que tente, tirar o chefe da fogueira em que ele já está a arder.

E a fogueira em que arde Palocci é a do Poder. O homem vem do LIBELU (Liberdade e Luta), um grupelho de esquerda universitária e trotskista (a barba rala confirma) que queria continuar clandestino mesmo depois da legalização dos partidos comunistas no Brasil. O LIBELU era motivo de troça de todos os seus congéneres - demasiadamente infantil, diziam os seus congéneres. Os jovens integrantes do LIBELU cresceram, a barba dos que a têm (rala, necessariamente rala) ganhou toques grisalhos, mas a ideia-base, aquela de que parte qualquer mente revolucionária, parece ter-se mantido: os fins justificam os meios.

O fim pretendido pela juventude mimada, rebelde e romântica do LIBELU era a Revolução, nada menos do que isso. O fim pretendido pelos senhores barrigudos, burgueses e flácidos (embora com barbas ralas) oriundos da juventude LIBELU é o Poder. O próprio. O Poder em si mesmo - mesmo que, uma vez investidos de todo o Poder, não façam nada além de manter, manter e manter aquilo que, durante a campanha eleitoral, era a «política-neo-liberal» (como quem diz a «política-filha-da puta») de quem era preciso derrotar para obter o Poder.

Não fui eu, mas o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Paulo Brossard, que disse: «Quem faz isto (a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo) pode fazer qualquer coisa». E, agora, sim , sou eu quem o diz: quando ouço falar em «qualquer coisa», nesse contexto, lembro-me do assassinato do então prefeito da cidade de Santo André, Celso Daniel. Uma das hipóteses trabalhadas pela Polícia é de que Celso Daniel tenha sido assassinado  por ter começado a levantar problemas a quem beneficiava de doações clandestinas de empresas beneficiadas em concursos públicos de cidades controladas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) - negócio típico da «República de Ribeirão Preto».

E nem tenho que entrar nesse campo para concluir: sempre que os fins justificam os meios os fins acabam por ser o Poder em si mesmo - por mais rala (romântica e trotskista, portanto) que seja a barba.

PS: É com a barba mal feita que grito: CARROS, RUA!

PPS: Em vão... sempre em vão.

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