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06 de Março de 2012 às 23:30

Os Balcãs

Durante a explosão da Federação Jugoslava em 1992 Mitterand pensara que se a Comunidade Europeia não existisse França e Alemanha teriam roçado as vias de facto mas a Comunidade, agora União, existe e nada voltará a ser como era dantes.

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Os Balcãs, disse Churchill, produzem mais história do que aquela que são capazes de consumir. Tinha-os conhecido bem. Em 1914 o assassinato do príncipe herdeiro austríaco em Sarajevo levara à eclosão da Primeira Grande Guerra. No fim da Segunda, a luta nos Balcãs determinara a linha divisória entre liberdade e comunismo no Sudeste da Europa.

Na semana passada a União Europeia decidiu por fim dar à Sérvia o estatuto de candidato à adesão. A Croácia, outra grande república da Federação Jugoslava, progredira mais graças a apoio incansável da Alemanha (em 1945, Zagreb só se rendera ao Aliados depois de Berlim e estas coisas não se esquecem) e será membro da União em 1913. A Eslovénia, mais ao norte e disfarçada de país da Europa Central, é membro desde 2004. Das outras três repúblicas da federação, Montenegro e Macedónia receberam há anos estatuto de candidato e vão negociando os seus percursos (a Macedónia enredada em persistência grega em que ela mude de nome). A Bósnia-Herzegovina, onde croatas, muçulmanos e sérvios continuam a não se entender, está longe ainda do patamar das candidaturas. O Kosovo era região autónoma da República Sérvia, maioritariamente povoada por albaneses, a quem o ditador de Belgrado, Slobodan Milosevic – que em 2006 ataque cardíaco fulminou na Haia onde estava a ser julgado por genocídio e crimes de guerra - retirara a autonomia em 1989. As suas atribulações recentes são conhecidas: matança e expulsão de kosovares pelo exército jugoslavo, 78 dias de bombardeamentos da OTAN à Sérvia em 1999, retirada das tropas jugoslavas, estabelecimento de administração mista, internacional e kosovar, declaração de independência contestada pela Sérvia mas já reconhecida por 88 países (22 da União Europeia). Negociação difícil entre Belgrado e Pristina levou a acordo em que os sérvios embora não reconhecendo o Kosovo aceitam que este recorra a organizações internacionais. Depois desse acordo a Alemanha e a Holanda deixaram de se opor à decisão de atribuir estatuto de candidato à Sérvia. (A Holanda não lhe perdoa a vergonha porque passou em Srebrenica; a Alemanha não esquece a Resistência dos partizans de Tito na segunda guerra mundial). À última hora, por labirínticas razões balcânicas, a Roménia ameaçou bloquear a decisão mas meteu a viola no saco a tempo.

Durante a explosão da Federação Jugoslava em 1992 Mitterand pensara que se a Comunidade Europeia não existisse França e Alemanha teriam roçado as vias de facto mas a Comunidade, agora União, existe e nada voltará a ser como era dantes. Mais do que isso. A lenga-lenga de desentendimentos e provocações entre as nações balcânicas só acabará quando todas tiverem entrado na União Europeia. É gente habituada a viver em Impérios – Otomano, Austro-Húngaro, mesmo Tito – onde encontra equilíbrios que não consegue alcançar sozinha e a União Europeia é o enquadramento disponível que lhe poderá dar conchego. Até todos estarem lá dentro a região continuará instável.


Embaixador
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