Opinião
O tamanho não conta
Portugal tem uma área total de 92.391 km2 e uma população de pouco mais de 10 milhões de pessoas. A superfície da Áustria é de 83.871 km2 para cerca de oito milhões de habitantes, a da Dinamarca é de 43.094 km2 para pouco mais de ...
A superfície da Áustria é de 83.871 km2 para cerca de oito milhões de habitantes, a da Dinamarca é de 43.094 km2 para pouco mais de cinco milhões de habitantes, a da Irlanda é de 70.273 km2 para quatro milhões de habitantes, a da Bélgica é de 30.528 km2 para cerca de 10 milhões de habitantes, a da Suíça é de 41.285 km2 para sete milhões de habitantes?
Enfim, existem vários países europeus de dimensão e densidade populacional semelhantes a Portugal, mas cujos níveis de desenvolvimento são, na maioria dos casos, bastante superiores ao nosso. E a este conjunto de nações podemos ainda acrescentar a Suécia e a Finlândia que, apesar de serem dos maiores países da Europa (embora com vastas zonas inóspitas, onde avultam montanhas, florestas e cursos de água), têm uma população cifrada em apenas 8,9 e 5,2 milhões de habitantes, respectivamente.
Bem sei que a área territorial e a população são indicadores tão falíveis quanto todos os outros, até porque ignoram a marcha histórica de cada país. Ainda assim, e para efeitos de análise macroeconómica, trata-se de duas variáveis que interessa ter em conta num contexto de competitividade à escala global. Para se desenvolverem, os países pequenos têm de abrir as suas economias e dirigi-las para o exterior, uma vez que não dispõem de um mercado interno forte.
Ora, foi precisamente isso que os países referidos fizeram. Reconhecendo as suas competências internas e identificando no exterior nichos de oportunidade, essas pequenas nações apostaram nas fileiras onde sabiam ser competitivos e, no seu âmbito, lograram criar marcas de reputação mundial. Assim, a Suécia surge hoje inevitavelmente associada à Volvo ou à Ikea, a Finlândia à Nokia, a Holanda à Philips, à ING ou à Heineken, a Suiça à Rolex, à Nestle, à Novartis ou à Nescafe, a Dinamarca à Carlsberg, a Bélgica à Godiva ou à Neuhaus, a Irlanda à Guinness, entre outros exemplos. Todas estas marcas contribuem para a identidade nacional dos respectivos países e são seus aríetes na economia mundial.
Como tal, ser pequeno não é uma fatalidade, desde que saibamos aproveitar as vantagens de uma economia aberta e virada para o exterior. Neste sentido, e como muito bem referiu ao Expresso o economista francês e professor do MIT Olivier Blanchard, Portugal deve dar prioridade aos sectores em que é competitivo e, acrescentaria eu, criar marcas de dimensão mundial. Parece uma verdade de La Palisse, mas é tanto mais pertinente quanto pensarmos que não falta por cá quem queira inventar a roda e ignorar o óbvio.
O nosso país deve, portanto, encontrar as fileiras onde apresenta vantagens competitivas nos mercados externos. A título de exemplo, posso referir sectores que penso serem consensuais: o turismo e negócios conexos; o mar com o conjunto de actividades que lhe estão associadas; certas produções agro-alimentares, como o vinho ou o azeite; os têxteis, o vestuário e o calçado desde que a um nível elevado da cadeia de valor; os moldes para plásticos, a cerâmica, o papel, o vidro ou a cortiça; a metalomecânica e metalurgia de base? Ou seja, um conjunto de sectores onde temos tradições e aos quais devemos incorporar tecnologia, inovação e I&D para reforçar o seu potencial competitivo.
Grupos como a Efacec, Renova, GALP, Logoplaste, Portugal Telecom, Vista Alegre Atlantis, Barbosa & Almeida, Sogrape, Unicer, Nutrinveste, Coelima, Riopele, Kyaia, Levira, Sonae, Pestana, Bial, Critical Software, Delta, Amorim, Revigrés, Lactogal, Lena, Vicaima, entre outros, têm tido a preocupação de desenvolver marcas fortes e com potencial competitivo. Mas muito falta ainda fazer para que a cultura organizacional das empresas portuguesas seja mais orientada para o mercado global e mais centrada na marca, na inovação e nos factores intangíveis de diferenciação e valorização de produtos e serviços.
O tecido produtivo português tem de subir na cadeia de valor, de forma a evoluir de um modelo eminentemente de mão-de-obra intensiva e actividades a retalho para um modelo mais conforme com os parâmetros da Sociedade do Conhecimento e, por conseguinte, melhor preparado para responder às exigências da aguerrida concorrência internacional. Apresentar ao mundo um conjunto credível de marcas made in Portugal afigura-se, a meu ver, fundamental para a captação e fidelização de clientes internacionais pelas empresas portuguesas. E se assim for, pouco importará o tamanho do país.