Opinião
O "socialismo" contra o Estado Social
O que resta do Estado Social está a ser rudemente aniquilado pelo Executivo Sócrates. Tudo o que de melhor possuía a sociedade portuguesa, em atenção e apoio aos mais desfavorecidos, é todos os dias ameaçado ou implacavelmente destruído. Este extraordinár
Este extraordinário agrupamento de predadores reclama-se de "Esquerda moderna" e de "socialismo actualizado", expressões muito aplaudidas pela Direita mais troglodita. Até Marques Mendes, espavorido com a ofensiva, proclamou que o "PS está à direita do PSD". Nunca é de mais repetir que esta gente só nos quer mal, e cuja prática desmorona, por completo, a própria ideia de socialismo.
É longa a lista (e, ao que tudo indica, ainda não está exausta) de malfeitorias cometidas pelo Governo. No sector da Saúde, então, o sinistro Correia de Campos leva a palma. Porém, a responsabilidade não é individual. Como não consta que, nas reuniões ministeriais, haja o mais ténue protesto, a mais ligeira reticência, o mais breve sinal de desacordo – todos eles são culpados. Pergunto-me: que anda ali a fazer um homem como Mariano Gago, cujo capital de respeitabilidade está seriamente comprometido?
Quando os portugueses abrem os jornais da manhã fazem-no sempre em sobressalto. Todos os dias são dias de más notícias. Todos os dias desesperam com avançadas letais contra o que devia ser a normalidade do viver. É o desemprego, é a nova e avassaladora onda de emigrantes, é a perplexidade sem solução de milhares e milhares de licenciados perante um mercado de trabalho inexistente. Inclementes, os "socialistas" prosseguem na rota devastadora. Os despedimentos vão ser facilitados, as férias encurtadas, os subsídios reduzidos. O Correia estuda, afanosamente, o fim dos benefícios fiscais de saúde. Quer isto dizer: quem sofrer de doenças crónicas, que impõem, permanentemente, o uso de fármacos, fraldas, pensos, pomadas, já sabe – o Estado nada tem a ver com isso e o Fisco ainda menos. Entretanto, a carga fiscal sobre as famílias portuguesas atingiu os 42 por cento.
Estes "socialistas" levam-nos até ao desgosto de viver em Portugal. Conseguem acabar com esquemas de saúde de há quase cinquenta anos, sob a falaciosa alegação de que são acções destinadas à "sustentabilidade do sistema nacional de saúde". Que sistema?, que saúde? O Governo, que nos desrespeita e nos desconsidera, não merece nenhum respeito nem o mínimo resquício de consideração.
Insisto neste tema porque outro não há que corresponda às urgências e às necessidades actuais. Eles encerram escolas, hospitais, maternidades, serviços intermédios de assistência; acabam com consulados, manifestando o mais solene dos desprezos pelos nossos emigrantes; cercam a Imprensa, perseguem quem os contradiz (sei muito bem do que falo, Dilectos); não explicam, não esclarecem, nada dizem, fazem o que lhes dá na veneta, respaldados na maioria absoluta e num grupo de deputados "sim, senhores ministros", cujo servilismo atinge as fronteiras da bajulação.
Na última segunda-feira, na SIC-Notícias, Luís Filipe Meneses criticou a loucura falsamente reformista do Governo. Dir-se-á: mas ele é do PSD! Direi: cumpre o seu papel de opositor, não se limita a ser incómodo para Marques Mendes, cuja inexistência se torna cada vez mais notória, e assume-se como o veemente comentador dos despautérios governamentais. Esta posição de Meneses traz consequências. E agita as águas palustres da sociedade portuguesa, que mais parece disposta a desertar dos seus deveres morais e cívicos do que a lutar pelos direitos que lhe pertencem e estão a ser-lhe roubados.
No que diz respeito à defesa do subsistema de saúde dos jornalistas, conquistado desde 1947, e pulverizado pelo Executivo Sócrates, Luís Filipe Meneses foi, até agora, o único político que se colocou, claramente, ao lado dos delapidados. E esclareceu, com minúcia, a verdade dos factos: os escassos vencimentos dos profissionais de Imprensa; as doenças raras que os atingem; a angústia dos reformados com pensões ultrajantes; o desespero das viúvas.
O autarca de Gaia tem consciência da sua qualidade e da falta de qualidade de Marques Mendes. A ausência de uma construção teórica, antagonista da prática governamental, deixa de fora qualquer hipótese de alternativa credível. Meneses tem demonstrado os limites dramáticos da oposição ao Governo, sem deixar de aludir que a exclusividade do mercado reduz a influência que a política deve ter na vida dos cidadãos. Ele tem a noção das dificuldades do itinerário, mas não deixa de raciocinar no quadro social que se lhe depara. O discurso utilizado, nas intervenções televisivas, sobretudo na SIC-Notícias, incide, amiúde, em questões de natureza social, contra a ofensiva densa e excessiva que se tornou característica do PS e assunto de esquecimento deliberado do PSD.
Não há dúvida de que, politicamente, Luís Filipe Meneses evoluiu, e conseguiu afastar-se do léxico conhecido do PSD. Também removeu, com o cuidado imposto pela amizade, a futilidade folclórica tornada marca d’água do consulado de Santana Lopes, uma atmosfera azul que inebriou tolos audazes e ignorantes persistentes. Estou em crer que serão bem vivos os próximos tempos, após a "silly season".
APOSTILA – Parece haver um zelo persecutório que está a generalizar-se. Não é de estranhar. Este Governo desenvolveu um dispositivo de medo que ameaça tornar Portugal num território de espanto. Mais um caso: Luísa Moniz é professora, coordenadora da Escola EB 1 - N.º117, Lisboa. Sobreviveu a duas doenças terríveis, pelo que resolveu regressar às suas tarefas habituais. Porém, foi impedida. Segundo um ofício que lhe endereçou a presidente do Conselho Executivo, retomaria as funções após ser submetida a avaliação psiquiátrica, por uma junta médica. Luísa Moniz não sofre de nenhuma perturbação mental. Curou-se das doenças. Está perfeitamente preparada. É considerada muito competente, abnegada e assídua. Desejava assim continuar. Não pode. Está em casa há oito meses, recebe o vencimento, espera. Espera, quê? Regressar à escola. Impossibilitam-na.