Opinião
O risco inflacionista como um problema de alocação de activos
Ainda no ano passado, a comunicação social fez soar o alarme sobre o aumento da inflação, levando os investidores a dotar as suas carteiras de certas formas de protecção contra a inflação. No entanto, a crise da dívida que aflige a Zona Euro e as perspectivas de baixo crescimento
Ainda no ano passado, a comunicação social fez soar o alarme sobre o aumento da inflação, levando os investidores a dotar as suas carteiras de certas formas de protecção contra a inflação. No entanto, a crise da dívida que aflige a Zona Euro e as perspectivas de baixo crescimento acalmaram os receios derivados da inflação. Seria errado, porém, supor que a necessidade de protecção contra a inflação também diminuiu, já que, em mercados baixistas, mesmo uma inflação baixa põe em risco os retornos das carteiras de investimento.
A necessidade de protecção contra a inflação estende-se a longo prazo
Independentemente das perspectivas que cada um tenha sobre a evolução da inflação, a forma como as instituições lidam com o risco inflacionista revela um ponto fraco importante, pois aquelas só recorrem aos activos reais ou sensíveis à inflação quando esta já se encontra em fase ascendente. É frequente os investidores considerarem que o risco inflacionista se limita sobretudo a um rápido pico inflacionista igual ou superior a 4%, em vez de o encararem como um perigo a longo prazo, que poderá afectar as carteiras de investimento. No entanto, o cenário mais habitual é uma conjuntura caracterizada por baixa inflação, acompanhada por um mercado baixista - uma conjuntura da qual muitas vezes resultam retornos reais negativos.
Além disso, o que não sabemos sobre a inflação pode tornar-se mais perigoso do que aquilo que sabemos. As forças impulsionadoras e os efeitos da inflação mudam de um período para o outro, à medida que evoluem as políticas de combate à inflação. Por outro lado, nunca conseguimos prever exactamente a forma como as diversas classes de activos irão reagir à inflação no futuro, em parte, porque o seu desempenho também poderá ser substancialmente afectado pela conjuntura económica. Este perigo é ainda mais maior no caso de certos activos mais procurados que são sensíveis à inflação e não dispõem de qualquer historial em períodos de alta inflação.
Como não conseguimos prever as conjunturas inflacionistas com exactidão, estamos em crer que a abordagem mais pragmática é mantermo-nos agnósticos relativamente às causas e características da inflação. Nesta abordagem, torna-se necessário considerar as seguintes questões:
• Qual é o problema que estamos a tentar resolver? Por outras palavras, qual a importância do risco inflacionista em termos históricos ou empíricos?
• Como é que se define o problema? Como é que um investidor deverá definir o risco inflacionista numa carteira de investimentos específica?
•Como é que os investidores podem avaliar o custo da protecção contra a inflação?
• Existe alguma estratégia ideal para a gestão do risco inflacionista?
Estas questões são levantadas com o objectivo de construir uma estrutura que permita lidar com as diversas formas de inflação e que possa ser utilizada por investidores, independentemente da conjuntura. Esta abordagem holística é a ideal para a gestão do risco inflacionista em todos os seus ciclos, quer este se encontre em alta ou em baixa, em ascensão ou em queda.
Construir um quadro de cobertura de risco inflacionista
A inflação é, por natureza, cíclica
A evidência empírica aponta para existência de pequenos períodos episódicos de inflação ascendente ou descendente marcados por alterações mais substanciais do regime inflacionista, que vão de períodos prolongados de inflação moderada a períodos de inflação extrema e volátil. De acordo com esta perspectiva, os "riscos" inflacionistas são, de facto, riscos a curto prazo e descompensados, que podem afectar os retornos dos investidores provenientes de activos e/ou desgastar o seu poder de compra.
Considerando a natureza cíclica da inflação, é importante que os investidores não esqueçam três pontos fundamentais. Em primeiro lugar, os picos inflacionistas são, em termos históricos, relativamente raros, já que normalmente existe certa contenção da inflação, interrompida por curtos períodos de inflação moderada. Em segundo lugar, cada activo tem uma sensibilidade particular aos ciclos inflacionistas, o que significa que os retornos normalmente sofrem variações. Por último, os retornos dos activos podem depender de factores independentes, como bolhas de activos e mercados baixistas.
Por isso mesmo, o facto de uma carteira de investimento apresentar um sobrepeso de um activo destinado a gerir os riscos inerentes a um cenário inflacionista específico poderá posteriormente gerar graves problemas, caso essa carteira se veja confrontada com outros ciclos inflacionistas e outras conjunturas económicas.
A baixa inflação constitui um risco a que muitas vezes não se presta a devida atenção
Os choques inflacionistas não constituem o maior risco para os retornos das carteiras de investimento. De acordo com os dados existentes, o cenário de risco inflacionista mais frequente é constituído por um período de baixa inflação associado a um mercado baixista, do qual resultam retornos reais negativos. O risco de retornos reais negativos verifica-se sobretudo em períodos de baixa inflação, e não de alta inflação.
Seguro contra a inflação inesperada
A longo prazo, o retorno esperado de um activo apresentará expectativas de inflação inerentes, pagando ao investidor um prémio por suportar esse risco. No entanto, o risco inflacionista é também o risco da inflação inesperada de curto prazo. Os investidores conseguem antecipar e proteger se contra esses riscos, mas é importante que entendam que qualquer apólice de seguro tem custos durante os períodos em que existe cobertura de risco mas não existe inflação.
Não existe nenhum activo isento de riscos
Tal como acontece com todos os activos, qualquer estratégia de protecção contra a inflação tem riscos específicos inerentes à classe de activos. As estratégias de protecção contra a inflação deverão ser diversificadas e concebidas tendo em conta toda a amplitude do objectivo do investidor. Só desta forma é possível obter protecção contra a inflação sem comprometer os restantes objectivos da carteira de investimento, como a liquidez, os retornos e as restrições de volatilidade.
As soluções limitadas são inadequadas
Uma única estratégia simplista de protecção contra a inflação não poderá prever todas as variáveis do risco inflacionista, como a natureza cíclica dos regimes inflacionistas, a sua correlação (ou falta de correlação) com a conjuntura económica e a variação do desempenho de activos consoante a natureza dos regimes inflacionistas.
A inflação deverá ser considerada como um factor primordial numa carteira de investimentos
Tal como sucede com a maior parte dos riscos de investimento, a diversificação é fundamental, pois confere o nível de protecção mais elevado, não apenas contra todas as formas de inflação, mas também contra riscos desconhecidos. Os riscos inflacionistas não deverão ser encarados como um elemento acessório duma carteira de investimento, mas como um componente fulcral do seu processo de formulação e construção.
Os investidores deverão personalizar a sua estratégia de protecção contra a inflação com base nos seus objectivos individuais e horizontes temporais, os quais, por sua vez, poderão ser utilizados para determinar as partes do ciclo inflacionista que representam maior ameaça para os mesmos.
A necessidade de protecção contra a inflação estende-se a longo prazo
Independentemente das perspectivas que cada um tenha sobre a evolução da inflação, a forma como as instituições lidam com o risco inflacionista revela um ponto fraco importante, pois aquelas só recorrem aos activos reais ou sensíveis à inflação quando esta já se encontra em fase ascendente. É frequente os investidores considerarem que o risco inflacionista se limita sobretudo a um rápido pico inflacionista igual ou superior a 4%, em vez de o encararem como um perigo a longo prazo, que poderá afectar as carteiras de investimento. No entanto, o cenário mais habitual é uma conjuntura caracterizada por baixa inflação, acompanhada por um mercado baixista - uma conjuntura da qual muitas vezes resultam retornos reais negativos.
Como não conseguimos prever as conjunturas inflacionistas com exactidão, estamos em crer que a abordagem mais pragmática é mantermo-nos agnósticos relativamente às causas e características da inflação. Nesta abordagem, torna-se necessário considerar as seguintes questões:
• Qual é o problema que estamos a tentar resolver? Por outras palavras, qual a importância do risco inflacionista em termos históricos ou empíricos?
• Como é que se define o problema? Como é que um investidor deverá definir o risco inflacionista numa carteira de investimentos específica?
•Como é que os investidores podem avaliar o custo da protecção contra a inflação?
• Existe alguma estratégia ideal para a gestão do risco inflacionista?
Estas questões são levantadas com o objectivo de construir uma estrutura que permita lidar com as diversas formas de inflação e que possa ser utilizada por investidores, independentemente da conjuntura. Esta abordagem holística é a ideal para a gestão do risco inflacionista em todos os seus ciclos, quer este se encontre em alta ou em baixa, em ascensão ou em queda.
Construir um quadro de cobertura de risco inflacionista
A inflação é, por natureza, cíclica
A evidência empírica aponta para existência de pequenos períodos episódicos de inflação ascendente ou descendente marcados por alterações mais substanciais do regime inflacionista, que vão de períodos prolongados de inflação moderada a períodos de inflação extrema e volátil. De acordo com esta perspectiva, os "riscos" inflacionistas são, de facto, riscos a curto prazo e descompensados, que podem afectar os retornos dos investidores provenientes de activos e/ou desgastar o seu poder de compra.
Considerando a natureza cíclica da inflação, é importante que os investidores não esqueçam três pontos fundamentais. Em primeiro lugar, os picos inflacionistas são, em termos históricos, relativamente raros, já que normalmente existe certa contenção da inflação, interrompida por curtos períodos de inflação moderada. Em segundo lugar, cada activo tem uma sensibilidade particular aos ciclos inflacionistas, o que significa que os retornos normalmente sofrem variações. Por último, os retornos dos activos podem depender de factores independentes, como bolhas de activos e mercados baixistas.
Por isso mesmo, o facto de uma carteira de investimento apresentar um sobrepeso de um activo destinado a gerir os riscos inerentes a um cenário inflacionista específico poderá posteriormente gerar graves problemas, caso essa carteira se veja confrontada com outros ciclos inflacionistas e outras conjunturas económicas.
A baixa inflação constitui um risco a que muitas vezes não se presta a devida atenção
Os choques inflacionistas não constituem o maior risco para os retornos das carteiras de investimento. De acordo com os dados existentes, o cenário de risco inflacionista mais frequente é constituído por um período de baixa inflação associado a um mercado baixista, do qual resultam retornos reais negativos. O risco de retornos reais negativos verifica-se sobretudo em períodos de baixa inflação, e não de alta inflação.
Seguro contra a inflação inesperada
A longo prazo, o retorno esperado de um activo apresentará expectativas de inflação inerentes, pagando ao investidor um prémio por suportar esse risco. No entanto, o risco inflacionista é também o risco da inflação inesperada de curto prazo. Os investidores conseguem antecipar e proteger se contra esses riscos, mas é importante que entendam que qualquer apólice de seguro tem custos durante os períodos em que existe cobertura de risco mas não existe inflação.
Não existe nenhum activo isento de riscos
Tal como acontece com todos os activos, qualquer estratégia de protecção contra a inflação tem riscos específicos inerentes à classe de activos. As estratégias de protecção contra a inflação deverão ser diversificadas e concebidas tendo em conta toda a amplitude do objectivo do investidor. Só desta forma é possível obter protecção contra a inflação sem comprometer os restantes objectivos da carteira de investimento, como a liquidez, os retornos e as restrições de volatilidade.
As soluções limitadas são inadequadas
Uma única estratégia simplista de protecção contra a inflação não poderá prever todas as variáveis do risco inflacionista, como a natureza cíclica dos regimes inflacionistas, a sua correlação (ou falta de correlação) com a conjuntura económica e a variação do desempenho de activos consoante a natureza dos regimes inflacionistas.
A inflação deverá ser considerada como um factor primordial numa carteira de investimentos
Tal como sucede com a maior parte dos riscos de investimento, a diversificação é fundamental, pois confere o nível de protecção mais elevado, não apenas contra todas as formas de inflação, mas também contra riscos desconhecidos. Os riscos inflacionistas não deverão ser encarados como um elemento acessório duma carteira de investimento, mas como um componente fulcral do seu processo de formulação e construção.
Os investidores deverão personalizar a sua estratégia de protecção contra a inflação com base nos seus objectivos individuais e horizontes temporais, os quais, por sua vez, poderão ser utilizados para determinar as partes do ciclo inflacionista que representam maior ameaça para os mesmos.
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