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Fernando Braga de Matos 17 de Abril de 2009 às 12:01

O relatório Buffett 2008

Nenhum leitor deste jornal desconhece Warren Buffett, o Oráculo de Omaha, e muitos preferem a sua palavra à própria Bíblia Sagrada (incluindo o Livro do Apocalipse). Claro que não é um Messi, mas o segundo homem...

Onde, sem muito incenso mas com muita admiração, se põem olhinhos no Oráculo de Omaha, mais uma vez.

Nenhum leitor deste jornal desconhece Warren Buffett, o Oráculo de Omaha, e muitos preferem a sua palavra à própria Bíblia Sagrada (incluindo o Livro do Apocalipse).

Claro que não é um Messi, mas o segundo homem mais rico do mundo e investidor emérito desde 1956, merece a maior das atenções, tanto que todos o escutam, a começar pelos decisores mundiais no domínio económico (Aliás, é conselheiro do Santo Obama da Casa Branca).

Não é só pelo seu extraordinário sucesso que emerge do vulgo, mas ainda pelas qualidades pessoais, mais raras ainda se confrontadas com as dos CEO e outros dirigentes de grandes empresas, principalmente financeiras, agora em retiro depois de um longo regabofe.

Sobriedade e simplicidade, desde vencimentos a uso de regalias empresariais, bem como todo o resto da sua vida pessoal, passada no rural estado do Nebraska, são também marcas de liderança e de espantoso êxito sem luzes de ribalta. (E não citei sequer a filantropia desmesurada, por ter levado a mal ter-me deixado de fora no testamento).

Pois bem: O nosso homem todos os anos escreve uma carta aos accionistas da Berkshire Hathaway, sempre lida com grande atenção por quem se interessa pelos mercados. A deste ano, publicada há um mês, referente ao ano de 2008, desperta uma curiosidade acrescida por respeitar ao pior ano de sempre da companhia e conter a assunção pessoal de erros, que ele revela com grande candura e integridade.

Diz ele, neste ponto - que transcrevo apenas para ilustrar como só existe verdadeira excelência se associada a humildade intelectual: "Durante o ano de 2008 cometi alguns actos estúpidos em investimentos. Pratiquei pelo menos um erro grave por acção e outros menores que também prejudicaram. Além disso, efectuei alguns erros de omissão, ficando a chuchar o polegar quando novos factos ocorreram que deveriam ter-me obrigado a reexaminar o meu pensamento e tomar acção imediata".

Esta admissão de culpa há-de ser o primeiro grande separador dos que o tentam replicar cegamente, ao ponto de ter visto uma revista, que o emula como um muçulmano a Maomé, congratular-se por a sua carteira só estar a perder 40% quando o mercado já ia em 50% - lembrando o automobilista bêbado que, depois de acidente, se felicitava pela perícia, por só ter ficado gravemente ferido.(1)

Esta lição de per si valeria sempre uma crónica laudatória e pedagógica, mas, como já estamos aqui, vamos ver o que Buffett retirou como lições para o futuro:
- Não investir em função de aprovação (2).
O efeito causal desta atitude é a letargia cerebral, tornando o agente menos receptivo a factos novos e ao reexame de premissas formadas previamente.
- Compreender bem o que se possui.
Aqui Buffett inclui-se a si próprio e ao seu associado principal Charles Munger no largo grupo de CEO de instituições financeiras que se revelaram incapazes de gerir adequadamente o negócio tendo disponível um enorme e complexo arco de produtos derivados (3).
- O mercado pode não ter razão.

A saliência aqui vai para o modo como foi apreçado o risco, passando de largamente subavaliado para largamente sobreavaliado, tendo como referência os "yealds" de vários tipos de obrigações .

E assim fizemos mais uma pequena excursão pelo maravilhoso mundo de Walt Disney, digo, Warren Buffett - não sem alertar, como em crónicas anteriores, que investidores com perfis claramente diferentes do de W. B., como Fundos Mútuos e investidores particulares, podem e devem emular alguns dos seus métodos, mas não todos, e nunca devem imitar cegamente estratégias que não encaixam no figurino próprio, às vezes não permitindo sequer extrair vantagens que existam nesta competição assimétrica que se joga nos mercados.

(1) Não fique sem se referir que o Fundo Buffett bateu o SP500 em 27,4%.Veja-se a diferença de atitudes: ele faz auto-contrição, estes vangloriam-se.
(2) Retiro que a aprovação inclui a mera imitação.
(3) Curiosamente, Buffett foi interpelado em Agosto de 2008 pela SEC para explicações sobre transacção de derivados e práticas de "short selling".

Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
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