Opinião
04 de Dezembro de 2011 às 23:30
O regresso às boas práticas
O nosso saudoso Ernâni Lopes, um grande homem, professor, economista e português, dizia com frequência que a solução para o nosso país passava por "estudar, estudar, estudar; trabalhar, trabalhar, trabalhar; poupar, poupar, poupar".
E, acrescentava, "por esta ordem". Porque não é possível poupar se não existirem rendimentos significativos provenientes do trabalho, e este não será adequadamente remunerado se não tiver por base conhecimentos, métodos e capacidades que só se obtêm pelo estudo intenso, profundo e estruturado.
A crise em que nos encontramos prova que a receita do Professor Ernâni Lopes não foi seguida.
E a realidade da economia portuguesa e das bases competitivas das nossas empresas, infelizmente, é preocupante.
Por força da falta de estudo, o nível de escolaridade e de especialização profissional dos trabalhadores portugueses é muito inferior à dos nossos congéneres europeus, com reflexos directos ao nível da produtividade e da capacidade de diferenciação dos nossos produtos e serviços, nos mercados globais.
Não sendo possível competir através da diferenciação, grande número das nossas empresas que produzem bens e serviços transaccionáveis são obrigadas a competir com base no custo, o que implica remunerações baixas e incapacidade para incrementar a poupança interna.
Como o País já não pode continuar a endividar-se no exterior, chegámos à fase da realidade e da necessidade de regresso às boas práticas na economia das empresas.
Durante a fase de austeridade e estabilidade, as empresas portuguesas só conseguirão manter o seu posicionamento competitivo nos mercados externos através da contenção dos seus custos e da adopção de processos rigorosos de correlação entre os custos do trabalho e a respectiva produtividade.
E é neste contexto que surgem as sugestões dos técnicos da Comissão Europeia e do FMI para que as empresas privadas considerem, também, a eliminação dos subsídios de Natal e de Férias em 2012, melhorando por esta via o seu posicionamento competitivo nos mercados externos que estarão, também, em recessão pelo que negociarão em baixa os preços de aquisição dos seus produtos e serviços.
Embora não sejam simpáticas, estas reflexões, infelizmente, fazem sentido e não vale a pena fingirmos que ignoramos os problemas reais actuais.
Independentemente da análise que cada empresa efectue, em relação à necessidade de redução da sua massa salarial anual para poder sobreviver no mercado competitivo em que actua, considero a eliminação dos subsídios uma medida de regresso às boas práticas, já que os subsídios constituem um incentivo ao consumo, localizado no tempo e em bens supérfluos, que a economia portuguesa não é capaz de aguentar.
Neste novo enquadramento mais sadio, as empresas passariam a trabalhar na base dos salários anuais - brutos e líquidos - dos seus colaboradores, divididos por 12 meses, harmonizando os fluxos de tesouraria e aperfeiçoando os modelos de avaliação da produtividade e de disciplina operacional das empresas.
Admitindo que algumas empresas já efectuaram os ajustamentos de custos salariais necessários, de modo a poderem manter a massa salarial prevista para 2012 sem qualquer redução, terão tudo a ganhar se promoverem essa distribuição por 12 meses.
Este facto não impede, antes aconselha, que prossigam os processos que permitam a adopção de estratégias de diferenciação nas empresas portuguesas, com maior incorporação de inovação e de tecnologias mais sofisticadas, aumentando o seu valor nos mercados internacionais.
Mas, o sucesso deste processo evolutivo do tecido produtivo nacional depende muito da capacidade de gestão e da existência de gestores profissionais, com formação teórica e experiência adequada, à frente das empresas.
No caso das empresas e entidades ligadas à inovação e à tecnologia é absolutamente criminoso nomear gestores, não profissionais, sem os conhecimentos teóricos, competências, capacidades e experiência que lhes permitam conduzir aquelas organizações no rumo certo de incremento da competitividade e diferenciação nos mercados internacionais, promovendo a criação e a difusão da inovação em Portugal.
E, felizmente, já é possível, escolher gestores com formação teórica adequada provenientes das boas Universidades Portuguesas.
No caso do ISCTE, onde tenho o privilégio de leccionar a disciplina de Gestão da Inovação e da Tecnologia no Mestrado em Gestão dos Serviços e da Tecnologia, saem para o mercado de trabalho, todos os anos, um grupo de potenciais futuros gestores, com uma boa preparação teórica e a capacidade para adquirirem as competências necessárias ao desenvolvimento de empresas inovadoras, que se possam afirmar nos mercados globais.
Infelizmente o critério para a nomeação de gestores das empresas inovadoras e das entidades ligadas à promoção e apoio da inovação empresarial ainda não é, em grande número de casos, o conhecimento teórico e as competências específicas nestas áreas do conhecimento.
Mas tem que começar a ser, se quisermos que o nosso processo de crescimento se inicie já no ano de 2013, e porque se não o fizermos, os nossos cidadãos, em especial os jovens, não nos perdoarão.
Professor Associado Convidado do ISCTE
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A crise em que nos encontramos prova que a receita do Professor Ernâni Lopes não foi seguida.
Por força da falta de estudo, o nível de escolaridade e de especialização profissional dos trabalhadores portugueses é muito inferior à dos nossos congéneres europeus, com reflexos directos ao nível da produtividade e da capacidade de diferenciação dos nossos produtos e serviços, nos mercados globais.
Não sendo possível competir através da diferenciação, grande número das nossas empresas que produzem bens e serviços transaccionáveis são obrigadas a competir com base no custo, o que implica remunerações baixas e incapacidade para incrementar a poupança interna.
Como o País já não pode continuar a endividar-se no exterior, chegámos à fase da realidade e da necessidade de regresso às boas práticas na economia das empresas.
Durante a fase de austeridade e estabilidade, as empresas portuguesas só conseguirão manter o seu posicionamento competitivo nos mercados externos através da contenção dos seus custos e da adopção de processos rigorosos de correlação entre os custos do trabalho e a respectiva produtividade.
E é neste contexto que surgem as sugestões dos técnicos da Comissão Europeia e do FMI para que as empresas privadas considerem, também, a eliminação dos subsídios de Natal e de Férias em 2012, melhorando por esta via o seu posicionamento competitivo nos mercados externos que estarão, também, em recessão pelo que negociarão em baixa os preços de aquisição dos seus produtos e serviços.
Embora não sejam simpáticas, estas reflexões, infelizmente, fazem sentido e não vale a pena fingirmos que ignoramos os problemas reais actuais.
Independentemente da análise que cada empresa efectue, em relação à necessidade de redução da sua massa salarial anual para poder sobreviver no mercado competitivo em que actua, considero a eliminação dos subsídios uma medida de regresso às boas práticas, já que os subsídios constituem um incentivo ao consumo, localizado no tempo e em bens supérfluos, que a economia portuguesa não é capaz de aguentar.
Neste novo enquadramento mais sadio, as empresas passariam a trabalhar na base dos salários anuais - brutos e líquidos - dos seus colaboradores, divididos por 12 meses, harmonizando os fluxos de tesouraria e aperfeiçoando os modelos de avaliação da produtividade e de disciplina operacional das empresas.
Admitindo que algumas empresas já efectuaram os ajustamentos de custos salariais necessários, de modo a poderem manter a massa salarial prevista para 2012 sem qualquer redução, terão tudo a ganhar se promoverem essa distribuição por 12 meses.
Este facto não impede, antes aconselha, que prossigam os processos que permitam a adopção de estratégias de diferenciação nas empresas portuguesas, com maior incorporação de inovação e de tecnologias mais sofisticadas, aumentando o seu valor nos mercados internacionais.
Mas, o sucesso deste processo evolutivo do tecido produtivo nacional depende muito da capacidade de gestão e da existência de gestores profissionais, com formação teórica e experiência adequada, à frente das empresas.
No caso das empresas e entidades ligadas à inovação e à tecnologia é absolutamente criminoso nomear gestores, não profissionais, sem os conhecimentos teóricos, competências, capacidades e experiência que lhes permitam conduzir aquelas organizações no rumo certo de incremento da competitividade e diferenciação nos mercados internacionais, promovendo a criação e a difusão da inovação em Portugal.
E, felizmente, já é possível, escolher gestores com formação teórica adequada provenientes das boas Universidades Portuguesas.
No caso do ISCTE, onde tenho o privilégio de leccionar a disciplina de Gestão da Inovação e da Tecnologia no Mestrado em Gestão dos Serviços e da Tecnologia, saem para o mercado de trabalho, todos os anos, um grupo de potenciais futuros gestores, com uma boa preparação teórica e a capacidade para adquirirem as competências necessárias ao desenvolvimento de empresas inovadoras, que se possam afirmar nos mercados globais.
Infelizmente o critério para a nomeação de gestores das empresas inovadoras e das entidades ligadas à promoção e apoio da inovação empresarial ainda não é, em grande número de casos, o conhecimento teórico e as competências específicas nestas áreas do conhecimento.
Mas tem que começar a ser, se quisermos que o nosso processo de crescimento se inicie já no ano de 2013, e porque se não o fizermos, os nossos cidadãos, em especial os jovens, não nos perdoarão.
Professor Associado Convidado do ISCTE
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