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O PSD vai acabar?

Com a maioria absoluta do PS, a sucessão de líderes impopulares a chefiar o partido e a sua indefinição ideológica, ouve-se frequentemente perguntar: qual a viabilidade efectiva do PSD hoje? A crise do partido é real e tem pelo menos três dimensões: eleit

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É certo que pela primeira vez elegeu um Presidente da República, mas nas eleições mais importantes, nomeadamente as legislativas, o percurso tem sido muito negativo. Em 2002, o PSD venceu, mas não convenceu, tendo de coligar-se para ser governo, coisa que já não acontecia desde 1983. O pior veio em 2005, quando perdeu clamorosamente contra Sócrates, tendo obtido um dos seus piores resultados eleitorais de sempre em democracia.

Este declínio eleitoral serviu para magnificar as divisões existentes dentro do PSD. A pluralidade, o interclassismo, a verdadeira heterogeneidade política que em tempos melhores tinham sido consideradas um activo do partido tornaram-se um problema. As eleições directas do líder exacerbaram ainda mais a questão ao diminuir ulteriormente o pouco poder efectivo detido pelas elites partidárias, desde 2005 na oposição.

Mas porventura mais do que o declínio eleitoral e os problemas internos, a principal perda do PSD nos últimos tempos tem sido a da credibilidade. Esta perda está directamente ligada à “performance” dos últimos governos do PSD. A imagem deste partido, construída essencialmente por Cavaco Silva entre meados dos anos oitenta até meados dos anos noventa, era a de um partido que sabia governar. Porventura era pouco coerente ideologicamente, mas conhecia os problemas do País e era o partido com mais capacidade de resolver esses problemas. A saída de Durão Barroso, primeiro, e o fiasco da governação de Santana Lopes, depois, desbarataram esse capital simbólico.

Por detrás destas dimensões explícitas da crise está um fenómeno estrutural e estruturante: o PSD deixou de ser o partido de governo em Portugal, com o PS a assumir esse lugar. De facto, nos primeiros 20 anos de democracia, o PSD esteve ininterruptamente no governo (seja em coligação, minoria ou maioria absoluta) 17 anos, nomeadamente entre 1979 e 1995. Dessa data até hoje, a situação inverteu-se: nos últimos 13 anos o PS foi governo durante 10 anos. Tudo somado, é impossível não concordar que existem problemas e eles são graves. Também não é de excluir que se dê alguma cisão, aliás como já aconteceu no passado. Mas há factores que servem para contextualizar esta crise, retirando-lhe importância.

As passagens pela oposição são sempre particularmente difíceis. Tanto mais quanto o período governativo tenha sido prolongado. Mas também são crises banais. Basta pensarmos na longa “travessia do deserto” do Partido Conservador inglês, ou do Partido Socialista francês, ambos fora do centro de poder (Governo e Presidência respectivamente) há mais de uma década; ou do Partido Democrático dos Estados Unidos da América, que passados oito anos de uma presidência republicana extremamente impopular não conseguiu ainda escolher um candidato que lhes garanta uma vitória.

O PSD não está por isso sozinho na crise, é um processo normal em todas as democracias. Além disso, em Portugal há condicionantes que não aconselham a cisão partidária. Nomeadamente, o sistema eleitoral vigente que favorece os grandes partidos. À direita, os eleitores não vêem grandes diferenças ideológicas entre PSD e CDS, o que sugere que o espaço ideológico não é muito grande. Finalmente, Portugal faz parte dos países com tendências bipartidárias que ditam alternância periódica à esquerda e à direita. Desde 1987 tem sido assim.

Portanto, quiçá não seja a crise do PSD que é estranha, mas a forma como essa crise é imediatamente vista como possível prenúncio do fim do partido. A forma como o problema tem sido tratado nos media é bastante mais reveladora da visão negativa, fatalista e insatisfeita com que os portugueses encaram a política do que propriamente do futuro do PSD.

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