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12 de Setembro de 2008 às 14:00

O Império contra-ataca*

Há cerca de 25 anos escrevi um artigo intitulado "Viva o Comunismo", coisa que, ficando por aí, até provocaria um frémito de emoção, por exemplo, no Bernardino Soares (aquele da AR que tem um fraquinho pela Coreia do Norte). A teoria era a de que a Rússia sempre fora uma nação expansionista e agressiva, que o sistema económico então vigente (propriedade estadual e economia centralmente dirigida) enfraquecia irremediavelmente.

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Realmente, a URSS, fora os satélites, só vendia, internacionalmente, matérias-primas (e armas) e o rublo – nos mercados cambiais, valia tanto como notas de Monopólio. Era realmente um país economicamente subdesenvolvido, decadente, não emergente.

Com capitalismo, e idêntica agressividade, o país maior e mais rico do mundo em abundância de recursos naturais (o único que poderia viver em autarcia) seria então um caso realmente intimidativo – dizia eu com rara argúcia geoestratégica.

Entretanto, o país dos sovietes, não muito melhor que o visto pelo Tintin, lá implodiu, e a Rússia começou a exportar logo coisas de jeito, como russas suculentas e exóticas, mas o capitalismo deu em imediato fiasco. A receita foi a de Ehrard na Alemanha do pós-guerra (um monetarista antes de tempo) e a dos países que emergiram da cortina de ferro, com excelentes resultados. O que correu mal? Usando a visão de Greenspan, o capitalismo por aquelas bandas desaparecera há 70 anos, pelo que faltavam todos os suportes estruturais capazes de aguentar um choque imediato. Assim, as desnacionalizações foram para as máfias e para os caciques, e o poder acabou por ir cair no KGB, em modelo Padre Américo.

Assim, temos agora uma Rússia com os seus velhos atavismos, dirigida por um homem que vê o desmembramento da URSS como "a maior tragédia geoestratégica do século passado" e que reclama "interesses privilegiados" nas regiões vizinhas.

Ora, a Rússia, se possui um capitalismo tosco, continua a deter, reforçada, a arma energética, a qual deixa os países vizinhos e a Europa em alta ansiedade (2). Dos vibradores, aos automóveis, as coisas podem mesmo deixar de funcionar.

A agressividade "aventureirista" é já notória, com uma evidência despudorada, desde o assassinato político ao ultimato energético, passando pela guerra cibernética no Báltico e acabando, para já, na invasão da Geórgia (e nem falo do Zenith de S. Petersburgo!).

Sem, evidentemente, deixar de afirmar a vantagem da cooperação à já ovelha negra, os ocidentais têm que fazer mais que falar duro, com massivo auxilio à Geórgia (o "pipeline" que passa no seu território não pode ser largado nas mãos da Rússia ou de dirigentes fantoches) e aceleração do processo de junção à NATO, passando pela intimidação quanto a matérias de grande interesse estratégico, como a OMC, o G8 e outros.

Temo, porém, mesmo sem a parelha Schroeder-Chirac (o Schroeder até arranjou um lugar de porteiro na Gazprom), que a Europa continue a seguir a política Sempre Atrás dos Estados Unidos Gritando "Agarrem-me senão eu mato-o" (SAEUGASM).

Claro que de Portugal espera-se sempre a diplomacia tradicional caga-na-saquinha, especializada em masoquismo, como o momento alto de Freitas do Amaral\desenhos Maomé\aliada Dinamarca, e a corriqueira de receber com aprazimento as cuspidelas das ex-colónias. O não reconhecimento do Kosovo (de per si completamente imprudente, mas Portugal só existe com os seus aliados) é já um augúrio.

APOSTILA – Buffett über alles (ou talvez não) Parte III, 3
Os membros da Sociedade da Terra Plana ao menos repararam que a estratégia Timing the Market bate largamente a Value Investing nestes últimos 14 meses, como inevitavelmente acontece em tempo de crise, graças ao mandamento "Cut the Losses"? E como o "momentum" faz parte da cartilha, os lucros em "commodities" estavam mesmo lá, não?

* Título praticamente roubado à "Time", mas como sou fã do George Lucas, sinto-me legitimado.

(2) Lembram-se do Mel Brooks? Também sou fã.

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