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O factor Steve Jobs

Normalmente, é necessário ter um primeiro nome diferente para não precisar de um apelido.

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Normalmente, é necessário ter um primeiro nome diferente para não precisar de um apelido. Mas nisto - como em tudo o que fez - Steve Jobs era diferente. Sempre foi apenas "Steve".

No negócio dos computadores pessoais - que evoluiu do enorme Apple II para o fino e inteligente iPhone 4s (anunciado um dia antes de Steve morrer) - Steve foi sempre o verdadeiro "showman" do que é hoje conhecido como uma das maiores indústrias do mundo. Ele inspirou o entusiasmo do público pela qualidade dos seus produtos e pelo carisma (outros tornaram-se líderes empresariais mas apenas Steve se tornou conhecido e admirado por milhões - incluindo o empregado de mesa romeno no "lounge" da British Airways onde estou a escrever este texto).

Conheci o Steve em 1979 ou 1980 no Fórum de Computadores Pessoais Ben Rosen. Por alguma razão, o evento teve lugar no Playboy Resort em Lake Geneva (nunca mais!). Regis McKenna, relações públicas da Apple durante muitos anos, esteve presente no encontro. Recordo-me de nós os três a beber Coca-Cola Diet servidos por uma coelhinha da Playboy. Já nessa altura, e após ter passado muito tempo na Índia, Steve conhecia melhor o mundo - para lá da América educada e de classe média - do que a maioria dos técnicos.

Recordarei para sempre o seu impacto no PC Fórum, que mais tarde comprei e dirigi entre 1982 e 2007. Participou muitas vezes nos anos 80 e 90. Existia uma rivalidade amarga entre ele e quase todas as pessoas na indústria.

Steve e a Apple eram considerados uns arrogantes solitários; não agiam correctamente com os outros (e sim, ocasionalmente, foi também rude comigo, quando por um motivo ou por outro, não conseguia ter a sua aprovação. O que aconteceu no último "e-mail" que lhe enviei, em Setembro de 2010, e em que ele considerou como "realmente… fraca" uma aplicação que lhe mostrei).

Apesar disso, há cerca de 30 anos, alguns de nós juntámo-nos num hotel para o ver a ser entrevistado por Larry King. À medida que ele falava, convincente como sempre, o ambiente no quarto mudou. Ele já não era um concorrente dentro do nosso mercado; era um de nós num mundo maior e diferente a explicar a nossa pequena e imatura indústria e os nossos produtos para um público que nós nunca iríamos alcançar - ou influenciar - sozinhos.

A nossa pequena indústria tem muitas estrelas mas apenas Steve tinha o charme e a eloquência para ser uma estrela fora da indústria. Nos festejávamos à medida que ele explicava - com termos simples e eloquentes destinados a todas as pessoas - os efeitos que os computadores pessoais podiam ter na vida das pessoas.

No lado empresarial, construiu uma empresa única. Isto apesar de, no seu período de exílio da Apple, uma série de erros quase ter destruído a empresa que ele tinha construído. Num mundo em que as pessoas se rendem à crença dos "sistemas abertos" (e muitas vezes a praticam), Steve insistia em manter a sua organização fechada de forma a controlar e proporcionar aos consumidores uma experiência especial e coerente. A sua obsessão com os detalhes é lendária.

A sua empresa reflecte essa singularidade. A Apple continua a controlar as aplicações que os consumidores compram, os conteúdos que podem ver e muitos outros aspectos dos produtos que vende. Apesar da gama de produtos, a Apple tem apenas uma equipa de "design" e uma gestão centralizada e realizou poucas aquisições. A mais notável foi a Siri, a fonte de muita da informação do mais novo iPhone. O objectivo da Apple nunca foi acumular quota de mercado mas, sim, atrair novos consumidores, um por um, através do apelo único dos seus produtos.

No final, o objectivo não era uma batalha de estratégias. A abertura é boa e é uma estratégia que eu normalmente aplaudo: não é suposto nenhum vendedor ser o melhor. A abertura permite que um grande número de fornecedores concorra entre si e se diferencie para que o melhor possa surgir. Uma estratégia fechada só faz sentido para quem é o melhor. E era isso que Steve era.



Esther Dyson, CEO da EDventure Holdings, é investidora numa série de "start-ups" de todo o mundo. Os seus interesses incluem as tecnologias de informação, cuidados de saúde, aviação privada e viagens espaciais.


Direitos de autor:
Project Syndicate, 2011.
www.project-syndicate.org




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