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Opinião
20 de Junho de 2007 às 13:59

O diabo está no curto prazo

São a cara e a coroa da mesma moeda. A globalização e os movimentos anti-globalização, que se tornaram famosos a partir da contestação à cimeira da Organização Mundial do Comércio (OMC)em Seattle, em Dezembro de 1999.

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Num mundo a preto e branco, os campos estavam perfeitamente definidos, entre quem era a favor e quem era contra. Até nasceu o Forum Social de Porto Alegre, como contraponto ao Forum Económico e Mundial de Davos, tido como o ponta de lança ideológico pró-globalização.

De então para cá, o folclore mediático continuou, com as tradicionais manifestações contra as reuniões da OMC e dos países mais ricos do mundo, mas os campos ganharam vasos comunicantes.

No início do ano, o Fórum de Davos incluiu na agenda um repto aos empresários e aos líderes mundiais para assumirem e discutirem os efeitos negativos da globalização porque, apesar do crescimento que tem induzido a nível mundial e de ter contribuído para retirar milhões de pessoas da pobreza nos países em desenvolvimento, os seus efeitos positivos não têm sido distribuídos de forma equitativa, nem entre as nações nem entre o capital e o trabalho.

Um novo alerta chega agora da OCDE, que apresenta evidência estatística dos enviesamentos produzidos na distribuição da riqueza e da necessidade de os governos adoptarem políticas sociais que os minimizem.

A globalização, ao contrário de toda a retórica anti, não espalhou a pobreza no mundo. A conjugação dos acordos internacionais de liberalização do comércio com a revolução tecnológica tem potenciado o crescimento da economia mundial de forma sustentada. Os grandes beneficários desse processo têm sido os novos países industrializados, com destaque para a India e a para China, que têm crescido, nos últimos anos, a taxas que rondam ou superam mesmo os 10% anuais.

Ao contrário do que temiam os profetas da desgraça, o processo não tem penalizado sobretudo os países pobres nem engordado os países ricos. À parte de África, o continente mártir que permanece à margem de todo este aumento da riqueza mundial, os principais problemas têm surgido no mundo desenvolvido, porque a abolição das fronteiras e a tecnologia possibilitaram a deslocalização do capital a uma escala nunca antes vista, com as empresas a encerrarem nos países ricos e a instalarem-se nos que oferecem vantagens em termos de custo da mão-de-obra e proximidade em relação aos mercados emergentes.

Tudo parecia relativamente controlado enquanto o processo parecia afectar apenas os sectores menos exigentes em termos tecnológicos. Mas a tendência rapidamente alastrou às tecnologias de informação e aos serviços qualificados, que acompanharam os empregos industriais na fuga para o Oriente.

O resultado é o aumento persistente do desemprego, sobretudo na Europa, e a estagnação dos salários, que foi evidente na recuperação da economia americana e que, à escala europeia, coloca Portugal entre os mais penalizados.

A solução não é uma escalada das políticas proteccionistas, o recurso mais fácil de deitar mão. Não se trata de deitar fora o bebé com a água do banho. Mas também não basta esperar que a situação se resolva a longo prazo, porque a longo prazo, como dizia Keynes, estamos todos mortos.

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