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18 de Janeiro de 2010 às 12:02

O centro comercial e o CAN

O futebol, muitas vezes, reproduz com simpatia o mundo real da economia: o seu desvario assemelha-se à inflação de disparates que culminaram na falência do Lehman Brothers e na crise actual. O dinheiro fácil cega, normalmente, dirigentes, empresários e...

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O futebol, muitas vezes, reproduz com simpatia o mundo real da economia: o seu desvario assemelha-se à inflação de disparates que culminaram na falência do Lehman Brothers e na crise actual. O dinheiro fácil cega, normalmente, dirigentes, empresários e jogadores. Há quem ainda julgue que a impunidade continuará a ser a lei natural do futebol. E que nunca ninguém pedirá responsabilidades por compras absurdas e por dinheiro deitado para um poço sem fundo. O futebol tornou-se um espectáculo e todos julgam que Hollywood reinará para sempre com finais felizes. Só que os negócios do futebol não são como as paixões do sr. Humphrey Bogart pela sra. Lauren Bacall. Em Portugal, o futebol ainda é um imenso centro comercial.

Aberta a nova época de transferências, podem avaliar-se os resultados da anterior, em pleno Verão. Os empresários de futebol tornaram-se os salvadores destes períodos em que é normal a tontura dos líderes que não viram resultados do enterro de galos pretos atrás da baliza dos adversários. Quando há dinheiro para distribuir há alegria no futebol. Por isso vê-se como o sr. Pinto da Costa pede agora um "apito encarnado", num momento em que se percebe o desastre que foram algumas das aquisições do FC Porto no início da temporada. A cíclica contratação de um contentor de jogadores argentinos, o novo Eldorado do futebol indígena, revelou-se pouco lucrativa este ano. O sr. Lucho e o sr. Lisandro não foram esquecidos com a vinda de craques menores, como o sr. Belluschi, o sr. Valeri e essa descoberta da pólvora seca que foi o sr. Prediger. É certo que os dirigentes do futebol vão continuar a poder exercer o seu direito ao disparate, porque os nossos clubes ainda não são um activo interessante para os actores do capital estrangeiro, especialmente russos e árabes, que desembarcaram, por exemplo, em Inglaterra.

O que custa nesta loucura de aquisições de sentido dúbio é como se gastam milhões em craques de cordel e se passa ao lado de negócios atraentes. Assistir aos jogos da CAN é um prazer e ajuda a explicar isso. O futebol africano ainda está muito liberto de esquemas tácticos e por isso há uma liberdade de jogo que não encontramos aqui. Mas é pela falta desta disciplina e experiência que se vêem erros como foi o do empate de Angola contra o Mali. Os Palancas Negras melhoram tacticamente face ao Malawi, mas nota-se a principal fragilidade dos angolanos: poucos jogadores têm a matreirice fundamental para estes jogos. Mas há outra coisa notável: como é que jogadores como o sr. Flávio, o sr. Gilberto ou o sr. Manucho nunca atraíram clubes portugueses? Não terão os empresários certos?
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