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03 de Abril de 2002 às 16:42

Mário Figueira: e-Learning em Portugal - que futuro?

É nas entidades dedicadas à formação profissional que o e-Learning tem as suas experiências mais bem sucedidas. É neste meio que fervilham ideias e vontades de utilizar o e-Learning como complemento da formação convencional.

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Já se vai falando de e-Learning em Portugal. Nos últimos dois anos surgiram vários projectos e iniciativas empresariais nesta área. Temos exemplos de portais de e-Learning onde os cidadãos podem inscrever-se e frequentar cursos «online». Conseguir a rentabilidade destes projectos tem sido uma grande dor de cabeça para os seus gestores. Os resultados dos últimos anos têm mostrado muita dificuldade em conseguir ganhar dinheiro desta forma. Também não sabemos se os formandos destes cursos têm aprendido o que queriam. Se têm tido o sucesso esperado nos cursos.

Por outro lado as empresas começam, ainda de forma cautelosa, a dar os primeiros passos nesta caminhada. Existe muita disponibilidade e apetência dos departamentos de recursos humanos e de formação para este tema. Seguramente que este assunto já convenceu este nível das empresas. No entanto, este tema ainda não faz parte das discussões nos conselhos de administração de muitas empresas em Portugal. O e-Learning como factor de desenvolvimento do capital intelectual da empresa ainda não conquistou o seu espaço nas administrações. Existem sinais positivos e desafiantes resultado de alguns projectos de introdução de soluções de e-learning nos sistemas de formação das empresas.

É nas entidades dedicadas à formação profissional que o e-Learning tem as suas experiências mais bem sucedidas. É neste meio que fervilham ideias e vontades de utilizar o e-Learning como complemento da formação convencional. São estas organizações que têm dedicado muitas horas a conceber, desenvolver e realizar iniciativas de e-Learning. Há quem já esteja no e-Learning desde 1995/96. Existem sistemas de gestão da formação «online» concebidos e desenvolvidos em Portugal, por portugueses. Há conteúdos para formação a distância concebidos e desenvolvidos em Portugal, por portugueses. Os programas comunitários geridos por diferentes ministérios apoiaram, ao longo dos anos, a produção de inúmeros conteúdos formativos para utilização off-line (manuais, vídeogramas e CD-Roms).

Existem também iniciativas desenvolvidas por universidades portuguesas, com um ou outro caso de maior expressão. Há projectos no âmbito da formação de professores do ensino secundário que têm funcionado com caracter mais ou menos experimental.


O futuro

Com esta análise global do que se tem passado em Portugal em matéria de e-learning não pretendo mais do que demonstrar que estamos a chegar ao fim de uma fase. O e-Learning está a deixar de ser uma moda ou novidade para passar a ser uma ferramenta fundamental de gestão do conhecimento. Estamos a chegar ao fim da fase da experimentação e a entrar na fase da implementação. Nesta fase temos que acrescentar valor ao cliente final, seja ele um cidadão que procura melhorar ou adquirir um conjunto de competências por iniciativa própria ou uma empresa que pretende criar um sistema de gestão do capital intelectual.

O e-Learning consiste na criação de um ambiente de aprendizagem suportado nas tecnologias de informação, nomeadamente a Internet. Neste ambiente é possível conceber, seleccionar e distribuir conhecimento de uma forma pedagogicamente suportada.

Os Estados Unidos estão a apostar forte nesta área. Existem inúmeras empresas a alimentar este mercado e a fazer negócio. As universidades americanas estão a utilizar o e-Learning para formar pessoas em todo o mundo. Felizmente que existe uma barreira natural chamada cultura e língua portuguesa. Caso contrário já teríamos o nosso país completamente invadido pelos «pacotes» de e-Learning americanos.

A União Europeia tem estado atenta a estes desenvolvimentos e decidiu lançar várias iniciativas de apoio ao e-Learning. A comissão europeia apresentou o ano passado um conjunto de programas que financiam a indústria europeia de conteúdos educativos e de soluções de e-learning. Os programas eLearning e eContent são um bom exemplo dessa aposta. No caso da iniciativa eLearning a comissão europeia decidiu envolver parceiros privados na definição do programa. Empresas como a IBM, Cisco, Nokia, SanomaWSOY e Smartforce participam na iniciativa.

Em Portugal é necessário olhar seriamente para este desafio. Abandonar a abordagem tímida dos últimos anos e definir uma estratégia clara de incentivo ao desenvolvimento de uma indústria portuguesa de conteúdos digitais educativos. Todos sabemos que a formação ao longo da vida é fundamental para a competitividade das empresas e das organizações. A cimeira de Lisboa foi clara nesse sentido. Na sociedade digital em que vivemos o e-Learning é um pilar fundamental do sistema de educação-formação. Importa pois encontrar a fórmula que permita que o estado dê o exemplo nesta matéria e se torne um grande utilizador do e-learning. A administração pública e os seus colaboradores poderão ser um grande exemplo nacional de utilização do e-Learning. As escolas, que hoje já estão ligadas à Internet, precisam de utilizar a rede para complementar a formação dos jovens portugueses. Para este fim necessitam de investir na aquisição de conteúdos digitais educativos. As entidades formadoras, com a sua experiência neste domínio, precisam de focar-se na produção de conteúdos e desenvolvimento de dispositivos formativos e não simplesmente na implementação de plataformas tecnológicas de e-Learning. A passagem dos conteúdos formativos off-line para online é uma prioridade. Pode começar-se por seleccionar os melhores produtos off-line e incentivar a sua passagem para online.

O Estado deve ter em tudo isto um papel de catalisador e regulador, seleccionando os parceiros privados adequados para que o e-Learning possa ser um importante pilar de uma estratégia de desenvolvimento da sociedade do conhecimento em Portugal.


Mário Figueira

Presidente da SAF

(Novabase)

Comentários para o autor para mario.figueira@novabase.pt

Artigo publicado no Jornal de Negócios – suplemento Negócios & Estratégia

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