Opinião
Mão de obra barata
Há boas notícias que fazem pensar. É o caso da informação de que a Autoeuropa pode vir a fabricar um novo modelo da Volkswagen, além do já garantido cabriolet Eos, que vai chegar ao mercado em 2006.
Há boas notícias que fazem pensar. É o caso da informação de que a Autoeuropa pode vir a fabricar um novo modelo da Volkswagen, além do já garantido cabriolet Eos, que vai chegar ao mercado em 2006.
O cabrio garantiu a sobrevivência da Autoeuropa aos monovolumes que estiveram na sua origem e que deixarão de ser produzidos em 2007. Mas pode ser insuficiente para assegurar a continuidade da fábrica de Palmela para além de 2010.
A hipótese de a Autoeuropa produzir o novo modelo SUV é por isso uma boa notícia. Ainda por cima porque a empresa se havia candidatado a fabricar o SUV mas a gestão do grupo preferiu a fábrica de Wolfsburgo, no estado alemão da Baixa Saxónia, que é nem mais nem menos do que o maior accionista da empresa, com 18%.
A atravessar sérias dificuldades no mercado - com vendas e lucros em baixa - e sérias perturbações ao nível do seu "top management" - com casos de corrupção - a gestão da Volkswagen está decidida a empreender terapia de choque para baixar os custos dos seus automóveis.
Uma das primeiras medidas passa pela renegociação do acordo laboral que permitiu o congelamento de salários por três anos como contrapartida à garantia dos postos de trabalho. Parecia um bom acordo em 2004 mas agora é considerado insuficiente.
Foi então que começaram a surgir as notícias de que o novo SUV poderia afinal vir para Portugal, onde seria produzido por um custo inferior em 1000 euros por unidade, notícias agora amplificadas pela recomendação no mesmo sentido do Comité de Estratégia da Volskswagen.
A proposta só pode ser entendida como mais uma arma no processo negocial com os sindicatos alemães. Enquanto em Palmela os trabalhadores portugueses exultam com a notícia - que aliás vem corrigir a injustiça da opção política por Wolfsburgo - imagine-se o estado de espírito dos camaradas alemães, que só podem pensar que a mão de obra barata do sul lhes está a roubar o emprego.
Ou a ser usada para os fazer perder direitos adquiridos.