Opinião
José Paulo Esperança
Será que a actividade humana pode alterar o clima do planeta? Até há alguns anos atrás a maioria dos políticos e alguns cientistas descartavam esta possibilidade.
Um investigador dinamarquês, Bjorn Lomborg, escreveu mesmo um livro designado "O Ambientalista Céptico" em que contesta a oportunidade do investimento destinado à redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases causadores de aquecimento global através do efeito de estufa. Na sua opinião, um euro investido no combate à pobreza ou à cura de doenças como a malária gera um retorno muito superior. Os dirigentes de alguns países ricos, com um longo historial de poluição atmosférica, aderiram de imediato ao argumento, embora não se sentissem por isso obrigados a reforçar as verbas da ajuda ao desenvolvimento.
O acumular de evidência científica e a ocorrência de fenómenos de severidade intensa, incluindo secas, incêndios e tufões, tornaram este problema incontornável. Os mais pessimistas vêem a inacção passada como evidência da incapacidade colectiva de rectificar os erros cometidos. No entanto, a posição dominante, é que algo precisa e pode ser feito.
Para além das eventuais catástrofes que o aquecimento global pode provocar, há um esforço de contabilização do seu impacto, nem sempre desfavorável. William Nordhaus, prevê um impacto moderadamente positivo para países frios, como o Canadá ou a Rússia, mas fortemente prejudicial para países quentes como a Índia. Também os custos decorrentes da redução de emissões são hoje melhor conhecidos e menos assustadores. Por exemplo, o custo actual de produção de energia eólica é cerca de um quarto do valor de há vinte anos e muito próximo do custo das centrais térmicas, com base em derivados do petróleo.
Há duas políticas possíveis para reduzir as emissões – regulamentar, proibindo tecnologias sujas, ou criar um incentivo económico à adopção de tecnologias limpas. O segundo instrumento pode ainda dividir-se em duas categorias: introdução de um "imposto verde", adequado às externalidades negativas resultantes da emissão de gases, ou criação de um mercado onde se transaccionem os direitos de emissão. Tratando-se de um bem de valor negativo é naturalmente necessário pagar pela sua aquisição. Este foi o método que o protocolo de Quioto veio materializar.
Apesar de terem acabado por não subscrever o tratado, os EUA deram um contributo fundamental ao propor a criação de um mercado para as emissões de CO2. Os países europeus, que começaram por preferir o modelo de redução obrigatória por parte das empresas que geram maiores emissões, acabaram por ser pioneiros na criação de um mercado específico (European Emissions Trading Scheme – ETS). Neste quadro, as empresas obtêm objectivos que prevêem uma redução face aos níveis de emissão actuais, podendo vender direitos de emissão se forem mais eficientes do que lhes é exigido, ou comprar se não conseguirem atingir a meta. A questão interessante é que podem comprar direitos de emissão a outras empresas mais eficientes, dentro dos países signatários, ou a empresas exteriores, principalmente de países em desenvolvimento, que adoptem medidas para a redução de emissões.
Alguns países não cumpriram as metas traçadas – Portugal está (mal) acompanhado pela Itália, Espanha ou o Canadá. No entanto, outros estão próximos ou acima das metas definidas, como a França, Alemanha e Reino Unido. Apesar de ter pouco mais de um ano de vigência, o mercado das emissões de CO2 atingiu um volume de cerca de 12 mil milhões de euros, no primeiro semestre de 2006, tendo conduzido já a reduções significativas (face ao nível que se atingiria sem este mercado) por todo o mundo, com empresas chinesas e brasileiras a receber milhões de euros pagos pelas empresas europeias que não conseguiram atingir as suas metas.
O sector empresarial tem vindo a tirar partido das novas oportunidades criadas. Empresas financeiras e sociedades de advogados estão hoje capacitadas para apoiar clientes que transaccionam direitos de emissão. As empresas de construção civil têm uma divisão dedicada ao "ambiente" com um peso crescente na facturação. O sector energético fervilha de projectos eólicos, solares, geotérmicos ou de aproveitamento das marés. Empreendimentos de base tecnológica, da informática à química, da biologia aos edifícios inteligentes têm vindo a desenvolver técnicas de reciclagem e poupança energética e de materiais. Em todos os sectores de actividade as empresas procuram uma prática "amiga do ambiente" tanto por uma questão de redução de custos como de prestígio junto dos clientes.
Perante as exigências colocadas pelos consumidores e a valorização definida pelo mercado de emissões, a questão ambiental tornou-se, provavelmente, a principal fonte de oportunidade para a criação de novos negócios. Afinal, os empreendedores também podem ajudar a resolver o problema do aquecimento global.