Opinião
Ensino superior - um setor decisivo
No momento em que as oportunidades de emprego são superiores à oferta de graduados, o ensino superior pode desempenhar um papel decisivo no crescimento da economia portuguesa.
Todos os dias chegam a Portugal visitantes que não se deslocam até ao mar nem visitam os centros históricos das cidades. Vêm em busca de oportunidades de investimento e contratação: grandes empresas industriais e de serviços concentram, em vários pontos do país, os seus centros de competência; empresas de serviços e tecnológicas transferem a sua sede para Portugal, algumas incentivadas pelo Brexit; e novos empreendedores, das mais diversas nacionalidades, cumprem a profecia do saudoso João Vasconcelos, descobrindo aqui um porto de abrigo para a criação de novos negócios. Se houvesse dúvidas sobre a dimensão desta tendência, apenas comparável à da Irlanda na década de 90, bastaria analisar a evolução do imobiliário nos últimos anos.
No entanto, há um limite ao aproveitamento desta oportunidade resultante da escassez de talentos, agravado pela baixa natalidade e pela fuga de cérebros do início da década. Tal como no imobiliário, é já visível uma rápida subida do custo dos recursos humanos mais qualificados que, no caso das "competências digitais", tem um crescimento anual de dois dígitos. Assim, o ensino superior tem um enorme desafio que passa pelo aumento da percentagem de jovens que transita do secundário, pela requalificação de adultos, particularmente os que têm formação com menor empregabilidade, e pela atração de maior número de alunos estrangeiros.
É na atração de alunos estrangeiros que reside a solução de curto prazo para a escassez de recursos qualificados, à semelhança do que também aconteceu na Irlanda que, de exportador maciço de mão de obra, passou a captar imigrantes da generalidade dos países europeus incluindo, por exemplo, a Alemanha. Taxas de crescimento semelhantes às do sudoeste asiático granjearam à Irlanda o epíteto de tigre celta.
O ensino superior português tem um saldo ligeiramente positivo. Segundo dados do UIS (UNESCO Institute for Statistics), no último ano estavam registados 16.888 estudantes estrangeiros em Portugal, enquanto 12.713 portugueses optaram por estudar no exterior. Se Portugal acolhesse estudantes estrangeiros de forma proporcional à sua população, receberia apenas 7.152 dos cerca de 5.000.000 que estudam fora do seu país natal. No entanto, se excluíssemos os cerca de 12.800 estudantes oriundos de países de língua portuguesa, ficaríamos muito aquém da nossa quota natural. Não podemos ignorar que os países de língua inglesa captam mais de 50% dos estudantes internacionais. Assim, há três medidas essenciais que as escolas portuguesas precisam de adotar: incrementar a oferta de programas em inglês; reforçar a sua visibilidade externa através da obtenção de acreditações internacionais e presença nos principais rankings; e estabelecer parcerias com escolas reconhecidas.
No momento em que termino o meu mandato de quatro anos como diretor da Escola de Gestão do ISCTE, permito-me registar alguns desenvolvimentos recentes. Em agosto de 2016 obtivemos a acreditação pela agência americana AACSB. Em 2017 a IBS passou a integrar os rankings do Financial Times: número 40 entre os 60 melhores mestrados de finanças, entrada nos 80 mestrados em gestão e, finalmente, número 80 das 95 escolas de gestão, obtendo a melhor posição das seis escolas que entraram neste ranking pela primeira vez, o que foi destacado pelo próprio FT. Em 2018, o Mestrado de Finanças passou para a 27ª posição, enquanto a IBS subia para o número 63, registando a terceira maior subida a nível europeu.
O impacto na atração de candidatos aos nossos programas traduziu-se no aumento das notas mínimas nas seis licenciaturas, na duplicação do número de candidatos aos mestrados desde 2015 e na duplicação dos seus candidatos estrangeiros, nos últimos dois anos. A IBS foi pioneira na dinamização da mobilidade estudantil através do programa Erasmus, o que permite aos seus estudantes um vasto leque de escolhas. A presença nos principais rankings foi um poderoso facilitador da criação de duplos diplomas e outros acordos de cooperação com prestigiadas escolas, na Europa e noutros continentes.
Espero que o caminho traçado pela IBS possa inspirar tanto as escolas nacionais como os responsáveis pela sua regulação e apoio. No momento em que as oportunidades de emprego são superiores à oferta de graduados, o ensino superior pode desempenhar um papel decisivo no crescimento da economia portuguesa, permitindo-nos passar de primeira letra dos PIIGS a "tigre do Sul" da Europa.
Diretor da ISCTE Business School