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Gato no sofá (18_04_2008)

Os dirigentes do PSD devem ter visto, na infância, demasiados filmes de “cowboys”. Onde só haviam bons e maus. Neste caso, Menezes, Ribau Esteves e Rui Gomes da Silva pensam que são uma espécie de xerifes dos bons costumes. É por isso que, no seu bondoso

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O mundo a preto e branco do PSD

Os dirigentes do PSD devem ter visto, na infância, demasiados filmes de “cowboys”. Onde só haviam bons e maus. Neste caso, Menezes, Ribau Esteves e Rui Gomes da Silva pensam que são uma espécie de xerifes dos bons costumes. É por isso que, no seu bondoso programa de divisão política do mundo só há bons (eles) e maus (os outros). Não é uma divisão ideológica, porque no actual PSD não se vislumbra uma leve brisa de pensamento político. Só há uma lógica de poder. Os dirigentes do PSD movem-se, não por acção própria, mas por reacção: todos os dias olham para as páginas dos jornais e descobrem uma vítima. A campanha que o PSD está a fazer a propósito da ida da jornalista Fernanda Câncio para a RTP é exemplar sobre o que move os neurónios dos políticos que querem ser Governo em Portugal. E isso mete medo a qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, mesmo que seja do PSD. Por este andar um dia destes devem avançar com uma nova proposta: se um jornalista considerado próximo do PS faz uma reportagem na RTP, deve haver um próximo do PSD a fazer a seguinte. O que o PSD de Menezes não consegue fazer é distinguir o público do privado. Se a vida, seja a política, seja a economia. Até porque pensa que este é um mundo a branco e preto: se sai alguém do PS da CGD deve ser lá posto. Este PSD vê o mundo a preto e branco. Ainda vê o país como quando foi inaugurada a televisão em Portugal. Esquece-se que hoje a televisão já é transmitida a cores. E já não é emitida a partir da Feira Popular.

A estratégia da língua portuguesa

Muito se tem debitado sobre o Acordo Ortográfico. Até a ex-ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, já veio dizer de sua justiça sobre o tema (mostrando-se contra), depois de se ter notado a inércia do sector que tutelou na área da defesa e reforço da língua portuguesa no mundo. Por isso apraz-me as palavras de Francisco Seixas da Costa, embaixador de Portugal em Brasília, no “Público”. Certeiras: “o Acordo tem uma dimensão estratégica e não vale a pena ter qualquer dúvida de que é o Brasil que hoje tem a liderança no plano da promoção da língua portuguesa. Se o Brasil, por exemplo, entrar para o Conselho de Segurança e levar consigo o português como língua oficial, se não levar consigo a matriz comum do Acordo, levará o português que se fala no Brasil”. Por isso quando se conta, mal, a história dos negócios dos livros escolares e da “luta” entre portugueses e brasileiros, talvez ideólogos como a sra. Pires de Lima, devessem olhar para Moçambique e para a entrada de rompante nesse sector, não de uma editora brasileira, mas de uma sul-africana, sucursal da McGraw-Hill.

A globalização e a deslocalização

Há textos que nos fazem pensar. Por exemplo, o de Paul Betts no “Financial Times” de 15 de Abril. Diz ele que a greve de 19 dias dos trabalhadores de Dacia, onde se situa a fábrica da Renault na Roménia, chegou ao fim. Motivo? Os trabalhadores, apesar do último aumento, continuavam a ganhar seis vezes menos do que os seus colegas franceses. E diziam: podemos ganhar menos, mas devemos ter mais benefícios, já que estamos a produzir carros para o mercado da Europa Ocidental. Betts recorda o que se passou com Portugal e Espanha em meados da década de 70, quando se instalaram na Península Ibérica a Ford, a GM, a Renault a Volkswagen, a Fiat ou a Peugeot-Citroën. A partir da década de 90 os trabalhadores espanhóis, nomeadamente, começaram a pedir melhores salários, e as fábricas começaram a ser desactivadas. Mas o que demorou 20 anos a acontecer na Península Ibérica, está a suceder apenas em uma década nos países de Leste. E diz, certeiramente, Paul Betts: “as empresas talvez precisem de procurar longe as soluções de longo prazo para os seus custos”. É um tema curioso, que nos faz reflectir sobre a estratégia de futuro na economia portuguesa. Especialmente depois do fecho de tantas multinacionais.

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