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24 de Maio de 2007 às 13:59

Fumo negro na cimeira União Europeia – Rússia

Encontrar uma solução para a segurança e sustentabilidade do abastecimento europeu de energia, nomeadamente de gás e de petróleo, é uma das prioridades da União, mas também um ponto fulcral quando se procura reeditar a parceria com a Rússia.

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Com efeito, o Acordo de Parceria e Cooperação entre os dois blocos que foi concluído em 1997, expira no final deste ano e, apesar dos esforços da presidência finlandesa e alemã, as negociações fracassaram de forma rotunda. Neste caso, embora se possam compreender as razões de alguns países, o facto é que este falhanço espelha, provavelmente apenas como início da demonstração, que os últimos alargamentos foram muito perniciosos para a unidade do projecto comunitário.

A entidade União Europeia, embora sem personalidade jurídica, não age enquanto projecto uno e indivisível ao serviço do interesse geral e, antes, é, pelo menos nestes domínios de política externa, composta tão somente por um feixe de Estados que não abdicam dos seus interesses próprios.

Foi assim com a Polónia que bloqueou o ano passado a possibilidade de um acordo, tudo devido ao embargo imposto pela Rússia às suas importações de carne e de aves de capoeira, com o argumento de violação de regulamentos veterinários, embargo este que esteve em vias de se estender à Bulgária e à Roménia, sob a alegação de existência de peste suína. De resto, a propósito deste episódio, o Parlamento Europeu considerou que o embargo era injustificado e uma medida discricionária, de pendor meramente político, não consentâneo com as regras de conduta internacionais, tal como seria de esperar de um futuro membro da OMC.

À Polónia vieram-se juntar, igualmente com capital de queixa, a Lituânia que, desde quase há um ano, sofre um corte no abastecimento de petróleo no oleoduto de Druzhba, por razões alegadamente de retaliação económica, em virtude de as acções de uma companhia lituana terem sido vendidas a empresas polacas e não russas. Também a Estónia apresenta as sua razões, de índole mais política, em virtude da mudança do monumento dedicado aos soldados soviéticos, na praça central de Talin, que teve como estranha consequência ataques cibernéticos, supostamente provenientes de servidores russos, tanto mais graves porquanto este país tem uma das mais avançadas redes em matéria de Internet e é uma pioneira no desenvolvimento do e-governement, o que o torna mais vulnerável a problemas deste género.

Porém, independentemente dos Estados- -membros, há questões horizontais que dificultam muito as relações entre as duas potências, como o assassinato de personalidade russas, o mais mediático do qual o do antigo agente do KGB russo, Alexander Litvinenko, um importante opositor de Putin, vítima de um misterioso envenenamento radioactivo. Por isso, um qualquer compromisso deve, em tese, defender energicamente a causa dos direitos humanos e dos valores democráticos, embora o pragmatismo europeu, leia-se a perigosa dependência da União face à Rússia, leve a que não se interprete de forma excessivamente rígida, antes de modo mais complacente, a respectiva cartilha.

Esta é também, provavelmente, a principal razão do fracasso da cimeira de Samara, dado que Moscovo fornece vinte e cinco por cento do gás e do petróleo consumidos pelos Estados membros da União, embora esta tente desesperadamente executar uma política alternativa energética alternativa, não só em termos de fornecedores, como de fontes. Assim, prevê-se até 2020 reduzir o consumo energético total da União em 20% e aumentar, nesta mesma percentagem as energias renováveis de que já é líder mundial.

Em suma, Putin sabe da sua força e tem sabido utilizar já não a ideologia, mas um valor económico que fala mais alto que é a energia.

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