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10 de Junho de 2000 às 16:59

Fernando Castro e Solla: «Volatilidade e mais Volatilidade!»

O conceito chave que permite compreender o porquê de tanta volatilidade nos mercados é a questão da previsibilidade.

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O conceito chave que permite compreender o porquê de tanta volatilidade nos mercados é a questão da previsibilidade.

Essas duas realidades estabelecem entre si uma relação de simetria absoluta. Assim, quanto menor o grau de previsibilidade das variáveis que influenciam o andamento dos mercados, maior será o grau de volatilidade que os mesmos apresentarão.

E porquê? Porque, na verdade, as reacções dos mercados mais não são que um somatório de reacções individuais de seres humanos emotivos e sensíveis, que por muito racionais que procurem ser nunca se libertam desse karma que é a sua condição humana e consequentemente emocional.

Se não, reflictamos. O que acontece a cada um de nós quando os nossos rendimentos futuros se tornam incertos? Que reacção provoca em nós a incerteza quanto ao estado da nossa saúde? Ou ainda, como se sente cada um de nós enquanto espera por uma resposta depois de um processo de recrutamento para uma empresa? O sentimento comum é o da incerteza e a consequência comportamental comum é a de ausência de planos, adiamento de decisões ou, pior ainda, a de comportamentos erráticos e inseguros até que o horizonte se torne mais claro e nítido.

Pois bem, assim são os mercados também. Se subitamente o céu se cobre de nuvens e se torna quase impossível prever com segurança os resultados futuros das empresas, o nível das taxas de juro para daqui a 1 ano, o nível de inflação e de crescimento nos vários blocos mundiais bem como os seus níveis futuros de desemprego, então instala-se a incerteza, a insegurança e inevitavelmente a volatilidade nos comportamentos dos índices e das cotações. As reacções às noticias tornam-se aparentemente incoerentes e os mercados perdem um rumo, uma tendência, adoptando pelo contrário comportamentos perfeitamente erráticos.

Sabendo nós que os índices estarão daqui a 10 anos bastante mais valorizados do que os níveis actuais, e que o investimento no mercado a longo prazo compensa, como se poderá compreender tantas reacções assustadas, por vezes reveladoras de pânico e de nervosismo? Simplesmente pelo carácter emotivo, imediatista e humano que é transportado pelos agentes para o mercado.

O momento que vivemos é paradigmático e exemplar. O desenvolvimento de toda uma chamada “nova economia” cujo futuro é quase impossível de prever e para a qual ainda não se definiu um modelo coerente de avaliação do seu valor actual veio apenas juntar achas à fogueira. Dar força a uma fogueira que já ardia alimentada pela incerteza quanto à sustentabilidade do crescimento da economia norte americana sem pressões inflacionistas e pela incerteza quanto ao rumo que as suas taxas directoras deverão assumir no curto prazo.

Até que se definam padrões coerentes para avaliar as empresas da chamada “nova economia” e até que se torne menos cinzento o futuro das taxas de juro, da inflação e do desemprego no mundo desenvolvido, a única coisa que podemos assumir como segura é que continuaremos a observar reacções exageradas nas cotações e índices mundiais…numa palavra, até lá, é certo que continuaremos a viver com a actual incerteza, instabilidade e VOLATILIDADE!

Assim, talvez se compreenda melhor como é possível uma empresa, como por exemplo a PT Multimédia, ver o seu valor aumentar 10% numa manhã e após o almoço ver o mesmo descer 4% abaixo do valor de fecho do dia anterior, sem que nada, repito nada, tenha mudado na vida da empresa ou da envolvente em que a sua actividade se desenrola.

Neste contexto, terá sucesso o investidor que conseguir dominar melhor as suas emoções e conseguir lidar com todo este frenesim de forma fria, consistente, coerente, disciplinada e racional.

Fernando Castro e Solla fsolla@banco-privado.pt www.banco-privado.pt
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