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18 de Agosto de 2000 às 19:24

Clara Synek: «Irlanda progride e Portugal continua na cauda da Europa»

Em 1986, a economia irlandesa fazia parte do grupo dos quatro países mais atrasados da Europa conjuntamente com Portugal, Espanha e Grécia, mas o crescimento da economia irlandesa, nos últimos 15...

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Em 1986, a economia irlandesa fazia parte do grupo dos quatro países mais atrasados da Europa conjuntamente com Portugal, Espanha e Grécia, mas o crescimento da economia irlandesa, nos últimos 15 anos, foi de tal forma espectacular, devendo o PIB crescer a uma taxa média de 6% em média, entre 1986 e 2001, representando quase o dobro da economia portuguesa (3,5%), que necessita de explicações que me parecem muito úteis para qualquer Governo que venha a ter responsabilidades políticas neste País.

O PIB per capita, um dos indicadores que avalia o grau de desenvolvimento e ritmo de aproximação de qualquer país europeu à média comunitária, era, em 1986, na Irlanda de 64% face à média europeia, superior em 10 pontos percentuais ao nível português. Em 2001, 15 anos depois, segundo a CE, o nível deste indicador da Irlanda deverá ultrapassar o nível médio da Europa em 18%, enquanto que nesta mesma data, o PIB per capita português continuará a ser o penúltimo mais baixo da Europa dos 15, devendo situar-se em 76% da média comunitária.

Que fenómenos são esses que desencadearam este desenvolvimento tão rápido na economia irlandesa?

1. O poder político da Irlanda tem conseguido, contrariamente a Portugal, reduzir o desequilíbrio das finanças públicas, através da contenção dos gastos públicos e da redução do peso do Estado na economia. O total das despesas públicas na economia tem vindo a reduzir-se, tendo passado de 41,2% do PIB em 1995, para cerca de 33,6% do PIB em 2001. Assim, o saldo público que representava um défice de 2,5% do PIB, em 1995, passou a ser positivo a partir de 1997, previsto ser de +2,7% do PIB em 2001. Em Portugal, o total das despesas públicas na economia não tem parado de crescer, de 45,4% do PIB em 1995 para vir a situar-se em 48,7% do PIB em 2001, devendo continuar a assistir-se a um défice pelo menos até 2003.

2. A boa gestão dos dinheiros públicos na Irlanda conduziu a uma importante redução dos impostos nos rendimentos dos trabalhadores e nos empresários, tornando a carga fiscal na Irlanda a mais baixa da UE, prevista ser de 32,4% do PIB em 2001, de 9 pontos percentuais abaixo da média europeia. Enquanto que em Portugal, o peso dos impostos na economia é demasiado elevado, previsto de 40% em 2001.

3. A descida dos impostos na Irlanda permitiu um desenvolvimento saudável do consumo privado, através de melhores rendimentos dos trabalhadores, sem provocar efeitos inflacionistas e de perda de competitividade, dado o elevado crescimento da produtividade do trabalho. A redução dos impostos nas empresas provocou elevadas taxas de crescimento do investimento, forte criação de emprego e incentivou à entrada do investimento estrangeiro, na Irlanda, que proporcionou um bom ritmo nas exportações em produtos de alta qualidade e de forte conteúdo tecnológico, e de ganhos de quota de mercado no exterior.

Em 15 anos, o Governo da Irlanda conseguiu beneficiar o seu povo, colocando-o no 2º País mais desenvolvido da UE. Antes pelo contrário, Portugal no mesmo período continuou na cauda da Europa.

Clara Synek é economista

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