Opinião
«Factores-chave das mudanças organizativas para se competir na Internet»
“Grande parte das empresas denominadas ‘tradicionais’ já iniciou ou, pelo menos, já planeou mudanças que lhes permitam tirar...
“Grande parte das empresas
denominadas ‘tradicionais’ já iniciou ou, pelo menos, já planeou mudanças
que lhes permitam tirar proveito das oportunidades proporcionadas pela nova
economia digital através da Internet. Neste caso, tal como noutro tipo de mudanças,
um modelo organizativo adequado institui-se como elemento essencial e plataforma
necessária para levar a cabo a transformação do negócio”.
Hoje
em dia, as mudanças que ocorrem em consequência da nova economia digital –
tanto relativamente às necessidades dos clientes como à estrutura dos mercados
– são tão numerosas e profundas, que as empresas se vêem obrigadas a
reformular as suas estratégias empresariais para poderem competir. Embora o
conteúdo deste processo estratégico não varie substancialmente, varia, isso
sim, a forma de abordá-lo, devido à magnitude das mudanças exigidas e à
rapidez com que estas se têm que implantar. À guisa de ilustração do ritmo
vertiginoso que enfrentam as empresas, pense-se que um “ano Internet” tem
apenas a duração de três meses.
Segundo
a nossa experiência, a empresa tradicional que pretende basear o seu futuro no e-business deve dar três passos fundamentais: em primeiro lugar,
deve valorizar o impacte da economia digital no seu próprio sector e definir o
papel que pretende desempenhar no novo cenário (ou seja, definir o seu enfoque
estratégico); em segundo lugar, deve diagnosticar o grau de preparação da
empresa para enfrentar as mudanças; e, em terceiro lugar, deve escolher um
modelo organizativo que lhe permita avançar na direcção escolhida.
Definição
do enfoque estratégico
O
primeiro passo para se definir a estratégia do e-business
consiste em formalizar a visão sobre o impacte que terá a economia digital no
próprio sector económico de actividade. Assim, poder-se-à identificar a
magnitude das mudanças a encarar. A empresa deve, para além disso, definir que
papel pretende desempenhar nesse novo ambiente.
Neste
contexto, existem dois enfoques diferentes de transformação empresarial que
mantêm certa relação com a magnitude e alcance das mudanças: transformação
por melhoria progressiva ou transformação por ruptura.
A transformação progressiva da
empresa adequa-se melhor a sectores mais tradicionais, que dependem mais de
produtos físicos e capital-intensivos. A transformação por ruptura, por outro
lado, corresponde mais a sectores intensivos em informação e/ou em serviços
(fig. 1). No entanto, ambas estas perspectivas podem ser aplicadas a qualquer
tipo de empresa.
Diagnóstico
da empresa para determinar o respectivo grau de preparação para o e-business
O diagnóstico do grau de
preparação da empresa deve contemplar quatro eixos – mercado e propostas de
valor, organização, processos, tecnologias e sistemas de informação – não
só a partir da óptica da empresa tradicional, mas também tendo em conta as
eventuais implicações da entrada na economia digital (fig. 2). Para que este
diagnóstico seja robusto, torna-se necessário fixar em linhas gerais que mudanças
devem ocorrer nestes quatro eixos para se competir na nova economia, servindo
estas grandes linhas como guias no processo de definição e implantação da
transformação da empresa.
A título de exemplo, uma
companhia que edita um jornal ou revista e pretende entrar na Internet, deverá
fixar como meta que todos os seus processos se adaptem ao formato mais exigente
— neste caso a Internet —, devido ao valor que adquire a actualização mais
rápida ou contínua da informação.
Modelos
organizativos alternativos para implantar a estratégia de e-business
É
evidente que a direcção e alcance das mudanças a empreender implicam a
necessidade de se conceber e implantar uma nova organização, que seja capaz de
levar a cabo a transformação da empresa.
Para
empresas já estabelecidas, a questão fundamental a abordar na hora de se
definir o novo modelo organizativo é o grau óptimo de independência do sector
responsável pelo e-business
relativamente ao resto da organização.
As
opções fundamentais são duas: levar a cabo a transformação, a partir do
interior ou do exterior da organização tradicional.
Se
se optar por levar a cabo as mudanças a partir do interior, um dos modelos mais
potentes, no caso de una organização funcional, é o de criar uma Direcção
de e-business com nível idêntico ao das direcções funcionais.
A
Direcção de e-business é aconselhável quando já existe um certo impulso
direccionado para o e-business dentro
da organização tradicional e se pretende aproveitá-lo. Também é adequada
quando se pretende dar um impulso forte e decidido ao e-business internamente, ou então quando se prevê um grau elevado
de canibalização do produto online
sobre o tradicional.
Uma
das decisões fundamentais na concepção de uma Direcção de e-business
é a de se definir que funções se devem gerir a partir desta nova direcção:
marketing, operações, desenvolvimento de novos produtos, tecnologia, etc., já
que esta acção porá em jogo novas relações matriciais na organização
tradicional (fig. 3).
Para
se determinarem estas áreas, deve avaliar-se o grau de implicação de cada uma
das funções nos processos mais afectados pela Internet, incorporando a nova
direcção as funções com maior incidência nos ditos processos.
Juntamente
com as funções identificadas, conforme se explica no parágrafo anterior, deve
pôr-se em prática uma função específica para o desenvolvimento da nova
economia digital. É precisamente a de “desenvolvimento do negócio online”. Esta área tem como missão principal a identificação
de novas oportunidades de negócio digital e a avaliação das mesmas, para se
determinar quais se abandonam e quais se levam a cabo. Por último, também é
necessária a tarefa de levar a bom termo os projectos em curso, de forma
estruturada, mediante a função “Gestão de Projectos”.
Se,
pelo contrário, se opta por levar a cabo a transformação, a partir do
exterior da organização, estamos a falar do modelo a que chamamos Company.com.
Este modelo é adequado quando se requer um impulso muito significativo para o
negócio online, quando se precisa de
realizar numerosas alianças estratégicas e não se dispõe de capacidades na
organização tradicional. A velocidade de implantação deste modelo é muito
elevada, embora possam surgir dificuldades se se pretender integrar, a médio
prazo, o negócio online com negócio
tradicional.
Considerações
finais
Para
concluir, e como se pode depreender do anteriormente exposto, o modelo
organizativo a implantar a curto/médio prazo deve partir de uma visão do negócio
a longo prazo. Portanto, em função da influência da nova economia, pode-se
inclusivamente chegar a uma organização em que o e-business
seja o núcleo da futura empresa (fig. 4).
Figura 4
Todavia,
qualquer que seja o modelo organizativo escolhido, convém ter presente uma série
de questões:
-
Como na maioria das decisões mais importantes da empresa, é necessária uma
clara capacidade de liderança e de visão estratégica por parte da Direcção
Geral
-
Os
modelos que planeiam uma forma de organização com maior grau de independência
para o e-business costumam funcionar e
implantar-se com mais facilidade
-
É
necessário mudar de uma organização baseada na oferta para outra baseada na
procura
-
Deve-se
facilitar a implantação de um modelo empresarial aberto (a alianças, colaborações,
etc.
-
Será
necessária a utilização de novos indicadores de gestão e de avaliação do
negócio
-
Por
último, a organização deve estar enfocada na colaboração – sobretudo com
as áreas do negócio tradicional – e no trabalho por projectos
Juan Carlos Martinez
Principal da A.T. Kearney
www.atkearney.com