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15 de Junho de 2011 às 11:23

Estar no euro… sair do euro, em que ficamos?

Continua, recorrentemente, a associar-se um possível abandono do euro à saída da actual crise.

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De modo algum se pode tomar como garantido que esse abandono é o melhor caminho para resolver o défice da nossa balança corrente. Por um lado, é incerto, e lento, o efeito positivo duma depreciação do novo escudo sobre o aumento da capacidade exportadora. Por outro lado, e isso é o principal problema, com essa depreciação, os encargos com a dívida externa aumentariam muito significativamente.

Convém deixar bem claro que, atendendo ao elevado grau de abertura ao exterior, e à evolução do sistema monetário internacional ao longo das últimas décadas, a entrada no euro foi a melhor solução para a economia portuguesa. A adesão à moeda única não nos colocou no caminho das elevadas taxas de crescimento do PIB em termos reais. Mas isso também não iria ser conseguido se tivéssemos mantido o escudo.

É verdade que o escudo entrou no euro a taxa de câmbio um pouco excessiva. Mas esse também não foi, dadas as circunstâncias posteriores, o pior dos males. O grande erro foi o Estado ter mantido a política de impulsionar a economia através do aumento da produção de bens não transacionáveis. A tese de que estar no euro escondeu o grave problema do défice externo, é falsa! Só o escondeu de quem não o queria ver. E houve (ir)responsáveis que sustentaram que estando no euro o défice externo não era importante, o que ajudou à continuação do excessivo endividamento externo do Estado.

E quanto ao euro, o que fazer? Temos que esperar para ver se a Alemanha e a França têm vontade, e capacidade, para manter a zona euro. Se isso não acontecer, Portugal, a Grécia e outros terão que regressar às suas moedas. Com custos muito elevados. Mas como os grandes da Europa também perderão, ainda é possível que desta crise acabe por resultar uma União Monetária Europeia mais consistente e estável do que a anterior. Espero bem que sim! Assim, parece-me demasiado precoce a última profecia dramática do economista americano Nouriel Roubini, segundo o qual Portugal vai sair do euro dentro de cinco anos! Até pode acontecer que acabemos por sair do euro! E convém que se desenhem cenários macroeconómicos e de política monetária para essa circunstância. A zona euro até pode acabar! Só que, sem vermos como vai evoluir a nossa economia nos próximos tempos, e sem ser sabermos qual a capacidade de resposta, a médio prazo, do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, não vejo como se pode antecipar o que irá acontecer daqui a cinco anos.


Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
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