Opinião
El Presidente
Sei que serei presidente da Comissão Europeia, só não sei é quando?
Isto deve ser por culpa dos jornais, mas dei comigo preocupado com quem será o novo Presidente da Comissão Europeia. Porque é que hei-de estar preocupado com uma coisa em relação à qual mais de 60% dos portugueses se estão, digamos, borrifando, não sei. Mas é um facto que estou!
Provavelmente é por estar a acontecer uma destas coisas que ninguém conseguirá seriamente explicar e que até nem parece a sério, não fosse tratar-se de uma instituição comunitária. É que aqueles que se candidataram ao lugar ninguém os quer, e em contrapartida aqueles que o pessoal quer ter como presidentes e a quem se pediu (implorou, mesmo) que fossem candidatos, não o querem ser. Se isto parece um paradoxo, veja-se que o desespero em arranjar um candidato já chegou a tal ponto que o nosso Primeiro Ministro já é ele próprio apontado como um potencial Presidente da Comissão. Pior, só pedindo-lhe de joelhos.
Resolvi então fazer uma coisa: consultar a Internet para tentar saber quem são os potenciais presidentes. O primeiro sítio onde despenquei foi no finlandês Helsingin Sanomat (www.helsinginsanomat.fi), que apontava Paavo Lipponen, deputado e porta-voz do Parlamento da Finlândia, como primeiro candidato, embora admitindo que o Financial Times não lhe atribui grande probabilidade de ganhar a batalha por ele ser socialista.
Já o britânico Scotsman (news.scotsman.com) dava como tendo grande probabilidade a escolha de Chris Patten, devendo o seu nome ser apresentado pelo primeiro ministro italiano, o que não deixa de ser divertido - por ser um órgão de informação escocês a defender a escolha de um inglês (estão a enterrar as rosas?) apresentada por italianos (já lá vai o tempo em que César invadiu a velha Albion). E isto tomando em conta o entusiasmo que os nossos amigos ingleses sempre mostraram na União Europeia, desde cadeiras vazias à moeda única.
Para o belga Tendances.be (www.trends.be) o futuro presidente daComissão seria o não menos belga primeiro ministro Verhofstadt, com o apoio de franceses e alemães. Esta dos franceses apoiarem um belga é fácil de explicar: imaginem a nova vaga de anedotas que surgirá e como ela elevará a moral da França, farta de «bater» no Presidente Chirac.
O luso Jornal de Notícias (jn.sapo.pt) afirma que será decidido à mesa de jantar o futuro de António Vitorino, que como a selecção nacional é o candidato de (quase) todos nós, tarefa para o que o português está à altura.
A Eircomnet irlandesa (home.eircom.net) dá o taoiseach (primeiro ministro) irlandês Ahern como o candidato de compromisso. O que também não deixa de ser divertido atendendo a que competia ao mesmo preparar a lista de nomes de entre os quais se escolheria o feliz contemplado, o que ele não fez. Donde se conclui ou que o crime compensa ou que seis meses é insuficiente para encontrar um bom candidato, pelo que os líderes europeus lhe querem dar um mandato alargado de cinco anos para executar tão relevante tarefa.
Já o Copenhagen Post (www.cphpost.dk) jura a pés juntinhos que Tony Blair aponta Anders Rasmussen (adivinhe lá de que país é o senhor e qual a sua ocupação actual) para o lugar.
Em que é que ficamos nisto, meus queridos leitores? Parece que para um país é o seu candidato que deverá ser o escolhido, um pouco como se perguntássemos quem vai ganhar o Euro2004. Mas é agora que a porca torce o rabo - é que a França não só não tem um candidato como defende outro. O que prova que vivemos tempos difíceis, onde já nada se passa como antigamente. Tudo passou a ser incerto, probabilístico.
Imagine que está num dado país europeu, que até pode ser o seu, e lhe perguntam quem será o próximo presidente da Comissão Europeia? Que responder?
Proponho-lhe, meu querido leitor e amigo, que dê uma resposta sofisticada. Adopte o índice de Bastião: divida um pelo número de candidatos. Some a este número 0,3 no caso de um país grande, 0,2 para um país pequeno. Se o país em causa tiver um candidato que seja primeiro ministro, multiplique por dois. Se o resultado for maior que um, risque e escreva um. Avance com este número, explicando que esta é a probabilidade que o candidato do país onde está seja o próximo presidente da Comissão. Deixará toda a gente feliz e fá-lo-á parecer inteligente.
Esclarecido então que é inútil consultar a imprensa sobre esta questão, fica por responder a grande pergunta: quem deverá ser o próximo presidente da Comissão? Como se deve proceder quando se pretende escolher para um alto cargo dirigente uma alta personalidade?
Imbuído do espírito reinante, interroguei-me como é que as grandes empresas privadas escolhem os seus CEOs. Para melhor compreender os processos consultei os meus colegas do Departamento de Gestão da Escola. E que aprendi? Em primeiro lugar, que queremos é um chairman, não um CEO. Em segundo lugar, que há critérios para procurar os mais aptos, seguidos pelas empresas Caça-Cabeças.
Começam, ao que soube, por definir quais devem ser as características necessárias para o lugar, o perfil e as competências no jargão da profissão. E quais devem ser então as competências necessárias para se ser Presidente da Comissão Europeia? Das diversas fontes a que tive acesso emerge um padrão, que passo a expor:
Em primeiro lugar, deve saber quais são os 25 membros da UE e respectivas capitais. Já imaginaram o que seria se estivesse ao telefone com o Primeiro Ministro da Letónia a preparar uma visita à capital desse país e depois lhe dissesse: «vemo-nos amanhã em Lijbuliana»?
Em segundo lugar, deve estar a par dos resultados do Euro 2004. A crise diplomática que não seria se telefonasse ao Berlusconi dando-lhe os parabéns pela Itália ter passado aos quartos de final. Em terceiro lugar, deve gostar de estar com os grandes lideres mundiais. Caso contrário, já imaginaram a cara de enfado com que apareceria nas fotografias quando fosse recebido pelo Bush na sala oval? Há quem defenda que deve saber jogar golf, mas não é verdade. Trata-se de um requisito que apenas é obrigatório para os comissários, não para a presidência.
Dito isto, para mim, só há duas soluções que satisfazem o interesse nacional: a primeira é o nosso primeiro ministro. É bom para o país, com duas condições: primeira, que ele não vá para Bruxelas dizer que a União Europeia está de tanga; segunda, que leve a nossa Ministra das Finanças com ele para garantir o apoio nacional, do Norte ao Sul do país, dos taxistas aos partidos da oposição.
A alternativa, e a primeira alternativa, meus amigos, sou eu. Sei que faria um excelente lugar, mas não tenho pressa. Sei que serei presidente da Comissão Europeia, só não sei é quando?
Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntaram quem deveria ser o próximo presidente da Comissão Europeia, Frederico respondeu: «O Primeiro. Isto porque os primeiros são sempre os últimos.»