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Opinião
05 de Março de 2010 às 11:34

E por que não enriquecer?

(Onde o autor, lembrando-se do seu percurso messiânico pela vida, mais uma vez indica aos sofredores portugueses que a gratificação instantânea não é o caminho para a felicidade, e que poupar, investir em acções e fazer multiplicar resultados ajuda muito agora, e mais ajudará no futuro quando as reformas minguarem, para não falar de outras prestações sociais).

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"Os derivados são para quem odeie ficar rico lentamente e prefira ficar pobre rapidamente"
Peter Lynch, emérito director do Magellan, o Fundo Mútuo mais rentável de sempre.

Nos jornais económicos, impressos ou online, bem como nos sites de idêntica natureza, vai uma campanha desenfreada a fim de atrair clientela para plataformas de negociação sofisticadas, rápidas e de baixo custo. Até aqui tudo bem, é a concorrência a funcionar e os melhores até obrigarão os outros a regenerarem-se ou a irem vender cautelas de lotaria online ou mesmo castanha assada. O sobressalto surge-me quando se torna aparente que o aceno é para produtos derivados, como os CFD (1) que nos tempos recentes fazem sombra, na zona "hard core", à pokermania.

Esta minha percepção tem ficado mais consolidada ainda quando alguns leitores me inquirem sobre o assunto, em vez de continuarem inebriados no "cut the losses, let the profits run" - o equivalente bolsista da celestial exclamação "in hoc signo vinces".

Na especulação financeira, há muito dinheiro para se ganhar, mas grandes retornos só os grandes riscos os justificam. Este jogo é para gente bem preparada e experimentada, no mínimo semi--profissionalizada, dotada para tal actividade e com perfil psicológico a condizer(2). Estes são os predadores que esperam "carne virgem para Drácula", não me referindo senão retoricamente à carne de doces donzelas mas sim aos fluxos monetários de protoespeculadores, tão intrépidos como incautos(3).

Não oferece dúvidas que, em média, o investimento em acções é o que proporciona maior retorno. Ainda em Janeiro, o prof. Ibbotson, a maior autoridade mundial na matéria, deixava a informação, no Wall Street Journal, de que, de 1926 a 2009, a aplicação em acções oferecera um retorno de 9,4% ao ano, mesmo passando por todos os crashes - referindo-se aos EUA, claro. Este "satisfatório retorno", para usar o understatement de Graham, ainda assim tem por base uma estratégia "ingénua" (J. Francis "dixit") de "comprar e guardar" e nenhum modo optimizante, nem sequer algo tão simplista como o uso de uma média móvel de 50 dias para determinar gatilhos de compra e venda.(4).

Constitui-se, portanto, uma carteira de acções e desde já se apresenta uma resposta preventiva: Não é preciso pensar em dinheiro que se veja, pois a empreitada pode começar modestamente com Fundos que aceitam pequenas quantias e pequenos reforços. Um aforro tipo "porquinho", para ensinar a si mesmo e aos seus filhos.

Como se vê, situamo-nos no longo prazo, o que não quer dizer, de forma alguma, "comprar e guardar"(5). E porquê o longo prazo? Porque permite o chamado "efeito bola de neve", isto é uma estratégia de capitalização dos rendimentos, o dito "lídimo milagre financeiro". Toda a gente está familiarizada com o princípio devido à antiga popularidade dos Certificados de Aforro"(6), mas sem ver o rendimento potencial sempre que se aumentam os retornos (4).

Terminamos com uma curiosa forma de avaliar o método, invocando os assim considerados três maiores investidores dos últimos 50 anos: Warren Buffett, George Soros e Peter Lynch. O que obteve maior rendibilidade total foi Buffett, mas não a maior anualizada, porque aqui a ordem inicia-se com Lynch, seguido de Soros.

Mas a "bola de neve" funcionou mais para Buffett, a seguir para Soros e, finalmente, para Lynch, o que afinal corresponde a 50, 40 e 30 anos de investimento, mais ou menos. O "lídimo milagre financeiro" bate o "toque de Midas".

(1) Clarificando: os CFD são até mais democráticos que outros produtos derivados e de mais simples compreensão e manejo, onde não entram modelos Black-Scholles (modificados) e outras invenções demoníacas.
(2) O meu "Ganhar em Bolsa" está, aliás, dedicado à memória de um desses "traders", único na sua perícia e na sua amizade.
(3) Clarificando de novo: não quero dizer que em certos momentos de alta volatilidade e tendência definida não seja de mandar uma "bicada", como dizem os profissionais na gíria.
(4) Vide testes empíricos por mim realizados e apresentados no hiperbólico "Ganhar em Bolsa".
(5) Depois dos "banhos" que têm inundado os banhistas, digo, os investidores, cheira mesmo a irracionalidade a defesa de tal preposição.
(6) Excelente instrumento de aforro e de financiamento do Estado, até que estes gajos que nos governam deram cabo da estabilidade do produto, arrasaram a confiança do público e mandaram às urtigas o sucesso do método.




Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote), "Bolsa para Iniciados" e "Crónicas Politicamente Incorrectas" (ed. Presença). fbmatos1943@gmail.com
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