Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

CE obriga países a darem estabilidade ao investimento em Renováveis

A proposta da Comissão Europeia de revisão da Diretiva das Energias Renováveis, do passado dia 30 de Novembro, contém uma proibição, ao nível da União Europeia, de revisão dos apoios concedidos a projectos de energias renováveis que causem um impacto negativo nos direitos conferidos e nas respectivas condições económicas.

  • 3
  • ...
Em 2001 a União Europeia instituiu metas vinculativas e ambiciosas para a promoção de energias renováveis: a geração de 12% do consumo de energia e de 22,1% do consumo de electricidade a partir de fontes renováveis até 2010. Mais tarde, em 2009, foi mais longe e estabeleceu que uma quota obrigatória de 20% de consumo de energia limpa até 2020. Portugal foi mais ambicioso e, em 2014, de acordo com dados do Eurostat, ocupava o sétimo lugar entre os 28, com 25% da energia consumida a ser produzida através de fontes renováveis, contra 12,5% da média europeia.

Naturalmente, para atingir essas metas foi necessário - e assumido - o apoio público aos investimentos em projetos a partir de fontes renováveis, tendo os Estados-Membros criados diferentes mecanismos, incluindo certificados verdes, auxílios ao investimento, isenções ou reduções fiscais, reembolso de impostos e as tão faladas feed-in-tariff (remuneração garantida).

Nesse contexto, ninguém criticou os diversos mecanismos então criados. Pelo contrário, eram enaltecidas as vantagens da existência dessas novas fontes de energia.

Era natural que a maturidade do sector e o progresso nas tecnologias, tornando-as mais baratas, levasse, mais tarde ou mais cedo, a um ajuste nos regimes de apoio.

Sucede que a crise económica alterou, repentinamente, este quadro e obrigou a repensar os mecanismos de suporte às energias renováveis. Especialmente a partir de 2013 para cortar despesa pública, vários Estados-Membros reduziram retroactivamente o nível de incentivos que tinham garantido aos promotores para investirem neste tipo de energias. Fizeram-no a Espanha, a Bulgária, a Itália e o Reino Unido, entre outros, o que gerou diversos litígios judiciais. Portugal, por seu turno, conseguiu nessa altura maioritariamente negociar com os promotores a diminuição da tarifa garantida em troca de estabilidade regulatória futura.

Esta instabilidade legislativa reduziu a confiança dos investidores e, no entender da Comissão, pode pôr em perigo o cumprimento das metas de consumo de energias limpas. Foram estas preocupações que levaram a Comissão a agir. A medida agora proposta é clara e ampla: "os Estados-Membros devem garantir que o nível e condições dos apoios concedidos aos projetos de energias renováveis não sejam revistos de uma forma que impacte negativamente os direitos conferidos no âmbito desses projetos e as condições económicas dos mesmos", diz a proposta de revisão da Diretiva.

Esta proposta surge num momento em que Portugal se prepara para determinar a diversos promotores que investiram em energias renováveis (eminentemente parques eólicos) a devolução de fundos públicos que receberam no quadro de programas comunitários de apoio, por vezes há mais de uma década, e que foram alegadamente acumulados "de forma não prevista, nem condizente com o cálculo económico da (...) remuneração" garantida desses centros electroprodutores (Portaria n.º 268-B/2016, de 13 de outubro). O valor global estimado da medida é de 140 milhões de euros.

Simplesmente, na altura em que tais apoios foram conferidos, não havia parques eólicos sem tarifa garantida. E os apoios públicos foram, consciente e intencionalmente, atribuídos em cumulação com esta tarifa. Pelo que, ao invés da correção de uma patologia, o que parece estar em causa é, na prática, uma alteração retroactiva nas condições dos investimentos.

Portugal parece assim caminhar a contraciclo da Europa: enquanto esta age para garantir a segurança do investimento numa área essencial, Portugal prepara-se para ir exactamente no sentido oposto, dando uma machadada na confiança dos investidores.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.


Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio