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06 de Março de 2012 às 23:30

Benfica Dagong, Rossio é Fitch

All we need is money - de origem americana, espanhola, angolana ou chinesa, não interessa. Porque há que sobreviver. Até o sempre angelical sector artístico não escapa. Com os subsídios estatais à míngua, os agentes culturais vêem-se tentados a aceitar o impensável.

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All we need is money - de origem americana, espanhola, angolana ou chinesa, não interessa. Porque há que sobreviver. Até o sempre angelical sector artístico não escapa. Com os subsídios estatais à míngua, os agentes culturais vêem-se tentados a aceitar o impensável.

Caro espectador, habitue-se ao "naming" - associação de marcas comerciais à designação das salas de espectáculos. O pontapé de saída foi dado pelo Tivoli BBVA, eis a nova designação deste teatro de Lisboa, que resulta de um acordo entre a proprietária da sala e o banco espanhol. Por este caminho, não se admire caso o D. Maria II venha a ser redesignado "Teatro Nacional Standard & Poor's", uma das maiores agências de "rating" mundiais.

Ora aqui está uma ideia a explorar: permutar o nome de património e toponímia nacionais por uma subida acentuada na classificação da nossa dívida soberana. Proponho deste já que a Praça do Comércio passa a ser conhecida por "Terreiro da Moody's". Ninguém iria reparar na mudança. Afinal, os homens do "rating" são donos do poder e senhores do nosso destino. Já agora, mais acima, passaríamos a ter o "Rossio é Fitch".

Entretanto, algumas entidades reguladoras poderiam também agarrar esta oportunidade para ganhar mais uns cobres. A Autoridade da Concorrência, que continua a não conseguir cobrar um único cêntimo das multas aplicadas à PT, poderia incorporar o nome da regulada na denominação da reguladora. Mais uma vez, ninguém iria descobrir a marosca. Os portugueses já estão habituados a ver a regulação capturada pelos regulados. Já para a Anacom, proponho a Zon.

Em linha, um caso recente: o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, que teve que recorrer a patrocínios de bancos para financiar o seu congresso, poderia também tornar tudo mais transparente cunhando "Caixa" entre o "Sindicato" e "dos Magistrados".

No falido futebol, à semelhança do que existe noutras modalidades, o "naming" poderá também chegar ao nome dos próprios clubes. Depois de uma falsa OPA chinesa, teríamos, por exemplo, a agência de "rating" da China a fazer nascer o Benfica Dagong. Ainda na 2ª Circular, surgiria o Sporting Millennium, com o maior credor do clube a converter a sua dívida em capital e a reestruturar todo o restante passivo. E na Invicta o Dolce Vita Porto, com o clube a assumir o mesmo nome do vizinho "shopping" (detido pela espanhola Chamartín). O dinheiro promete continuar a rolar, mesmo que seja tratado com os pés.


Coordenador do Negócios Porto
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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