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Rui Neves - Jornalista ruineves@negocios.pt 12 de Fevereiro de 2014 às 00:01

Meu amor, meu amor, eu não tenho a certeza...

O Tordo vai deixar Portugal . Assim, de repente, aos 65 anos. Vai para o Brasil, viver e trabalhar. Diz que parte no dia 18, terça-feira. Sinto-me triste por saber que vai embora porque já não tem trabalho suficiente em Portugal.

 

"Meu amor, meu amor,
Minha estrela da tarde,
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.

Meu amor, meu amor, Eu não tenho a certeza,

Se tu és a alegria ou se és a tristeza.

Meu amor, meu amor, Eu não tenho a certeza."

Fernando Tordo é o autor de uma das músicas da minha vida – "Estrela da Tarde", com letra (belíssima) do saudoso Ary dos Santos. O Tordo vai deixar Portugal . Assim, de repente, aos 65 anos. Vai para o Brasil, viver e trabalhar. Diz que parte no dia 18, terça-feira.

Sinto-me triste por saber que vais embora porque já não tens trabalho suficiente em Portugal. Mas ainda que não haja mais nada para fazer ou conversar entre ti e o teu País, estou a gostar da forma lúcida e digna como andas a explicar a tua decisão aos portugueses.

"A vida aqui no meu País, ao fim de 50 anos de profissão, tornou-se impossível, sem trabalho. Mas vou sem amargura, sem tristeza", anunciaste, há dias, via Facebook. Contrariando o discurso de quase todos quantos emigram, que atiram as culpas da sua situação para os outros (com o Governo à cabeça), Tordo é absolutamente magnânimo.

"Sou o primeiro a entender que meio século de actividade e exposição pública são coisas que saturam o público, e é sem qualquer azedume que aceito que há outras pessoas e imagens que o mesmo público agora deseja", reconheceu.

A verdade dói, mas é isto. Somos todos trabalhadores – arquitectos, electricistas, trapezistas, advogados, músicos, bailarinos ou jornalistas. E quando o trabalho falta, a emigração surge como uma via possível – terrível, é certo, quando é por obrigação. Por isso é que acho espantoso que a chamada classe artística se arrogue o direito de ficar isenta deste destino. Não é o caso do Tordo, grande Tordo!

Não há nada mais transaccionável, mais desterritorializado do que a criação de um artista. E são tantas as obras plásticas, as músicas, as imagens... os pintores, cantores, actores, toda uma identidade portuguesa espalhada – com sucesso! – por esse mundo fora. Deixem-se de teatrinhos, pensem global.

"Na minha vida fui sempre um outro qualquer/Era tão fácil, bastava apenas escolher/Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade/Mas já passou, não sou melhor mas sou verdade/Não ando cá para sofrer mas para viver/E o meu futuro há-de ser o que eu quiser." No dia 18, "Adeus, Tristeza"/Olá, Brasil. Boa sorte, Tordo!

*Coordenador do Negócios Porto

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