Opinião
Pobreza e insol(v)ência
Adoro estatísticas. São como os estudos. Dão para tudo. Basta baralhar os cálculos, ajustando a metodologia, e já está: serve-se quente ou frio, conforme a fonte ou o objectivo que se queira atingir.
Ainda agora, a propósito do inquérito às condições de vida e rendimento, publicado pelo INE, com números de 2013, mas que também inclui dados referentes a 2014, a grande conclusão é que Portugal voltou aos níveis de pobreza e exclusão social de há dez anos.
Quer isto dizer que o risco de pobreza, que era de 19,4% em 2004, é agora (2013) de 19,5%. O problema é que o flagelo da pobreza no nosso país é maior, muito maior. Se se eliminar o efeito da descida dos rendimentos, chega-se ao real indicador da tragédia: 25,9% da população é pobre. Porque é de gente, a nossa gente, que estamos a falar, registe-se que há 2,6 milhões de portugueses pobres (e não 1,95 milhões como parecem indicar, numa primeira leitura, os dados do INE).
Na mesma linha, nestes primeiros dias do ano, os jornais têm feito eco da baixa do número de insolvências de empresas e famílias em 2014 face ao ano anterior, a partir de relatórios de entidades cujos dados não são coincidentes. Acontece que - no caso das famílias, por exemplo - se somarmos o número de insolvências (12.775) aos processos especiais de revitalização (757), mecanismo alternativo à insolvência, criado em 2012, conclui-se que houve mais 22 famílias em dificuldades a ficar nas mãos dos credores no último ano do que em 2013.
Já batemos no fundo? Provavelmente. Mas, ao contrário do que muitos querem fazer crer, ainda não saímos do buraco.
Coordenador Negócios Porto