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06 de Dezembro de 2010 às 11:27

Avisos à navegação

Aos que já perceberam a relação entre o pico de petróleo e a insustentabilidade

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Aos que já perceberam a relação entre o pico de petróleo e a insustentabilidade do actual modelo económico, baseado na exigência do crescimento continuado do PIB mundial, coloca-se uma questão angustiante: podemos evoluir (ou transitar) para uma nova ordem económica (ou um novo modelo de sociedade) de forma gradual, ou está o actual sistema condenado a colapsar de forma brusca e inesperada?

Robert L. Hirsh no seu famoso relatório de 2005 para o US Department of Energy diz que a transição para uma economia pós-carbono necessita de 10 a 20 anos para ser preparada. E hoje, muitos acreditam que as coisas se irão precipitar, e que já não dispomos dum tão largo prazo para fazer essa preparação. Responsáveis e influentes personalidades falam num horizonte de cinco anos, ou menos, para se alcançar uma situação de ruptura provocada pela escassez de petróleo.

Ainda recentemente (em meados de Abril passado) um jornal inglês, o "Guardian", citava fontes do Departamento da Defesa Norte Americano que alertavam para que, em 2015, poderá haver graves falhas de abastecimento de petróleo, e que o défice entre a procura e a oferta poderá chegar aos 10 milhões de barris por dia. E, acrescentava a mesma fonte, o preço do crude superará, nessa altura, os 100 dólares por barril. Ora, isto equivale a anunciar um cenário de forte recessão. E, mais recentemente, destacam-se os escritos de Dmitry Orlov, um engenheiro e escritor nascido na Rússia, que vive nos Estados Unidos mas que acompanhou e viveu de perto a crise dos anos 90, quando se desmoronou o regime da antiga União Soviética.

Orlov tem alertado para a trajectória da economia americana a qual considera estar na rota de um colapso semelhante ao que aconteceu na antiga União Soviética. E, para explicar esta convicção, culpa os elevados gastos militares, o défice crescente, o pico do petróleo e a incapacidade dos dirigentes políticos norte americanos de encontrar uma resposta para a crise. E, acredita ele, tal ocorrência será sempre traumática, algo que se compara a uma tragédia pessoal (doença grave, divórcio...) perante a qual o ser humano reage por sucessivos estados que são no modelo da psiquiatra suíça, Elizabeth Kübler-Ross, os seguintes: 1) a negação, 2) a angústia, 3) a mitigação, 4) a depressão e, finalmente, 5) a aceitação. Do mesmo modo, Orlov identifica cinco fases ou estágios na ocorrência do colapso económico associado ou à escassez ou aos preços elevados do petróleo.

1. Crise financeira: Perde-se a fé no sistema financeiro. Começamos a ter a sensação de que os nossos activos financeiros não estão assegurados. As instituições do sector começam a degradar-se, e torna-se cada vez mais difícil o acesso ao crédito.

2. Crise económica: Começa-se a duvidar da eficácia dos mecanismos do mercado. O dinheiro desvaloriza-se ou torna-se escasso, as empresas comerciais entram em dificuldades, e começam a sentir-se na pele as dificuldades do dia-a-dia. Aumenta o desemprego.

3. Crise política: o Estado deixa de ser visto como a garantia da ordem social. Os governantes deixam de ter legitimidade. A democracia associa-se à incapacidade governativa, e fica em risco.

4. Crise social: O estado social deixa de garantir subsídios e protecção social. O serviço nacional de saúde desagrega-se. As reformas baixam ou perdem valor. Começa a aparecer a ideia do "salve-se quem puder".

5. Crise cultural: Perde-se a fé na solidariedade dos seres humanos. Vêm ao de cima as piores qualidades dos indivíduos. Escasseiam a bondade, a generosidade, a consideração, os afectos, a honestidade, a hospitalidade e a compaixão.

Mas, considera Orlov (para nos dar algum conforto, acho eu) que, em certas circunstâncias, o colapso pode ser a resposta mais adequada para corrigir uma distorção. Ele não implica forçosamente uma destruição geral, ou um "crash" populacional, ou mesmo uma total desorganização social. Nem, necessariamente, o fim da civilização. Equivale à ruptura da barragem quando os "remendos" já não seguram a força da enchente. É quando só uma intervenção de fundo, por exemplo, uma reconstrução com um projecto novo, pode resolver o problema. Portugal, hoje, assemelha-se a um barco à deriva, num mar revolto. E que todos aspiramos possa ser conduzido rapidamente a bom porto. De preferência por piloto experiente com um rumo definido e uma boa carta náutica. Estas ideias de Dmitry Orlov são como os "avisos à navegação" que não podem ser ignorados pelos marinheiros.

Presidente do Grupo Marktest,
Membro da Aspo Portugal
ltqueiros@gmail.com
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