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22 de Fevereiro de 2008 às 13:59

As sete pontes de Wu Yifeng

Sou firme e convicto defensor que num futuro muito próximo serão necessárias mais travessias do Tejo, ao contrário de aeroportos. Cada vez mais gente vai cruzar essa maravilha da natureza que é o Tejo, mas que infelizmente separa os lisboetas dos seus fam

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Foi assim que fiquei entusiasmado com as numerosas propostas que surgiram nos últimos dias para travessias do Tejo. De Alverca para Alcochete, de Chelas para o Barreiro ou de Algés para a Trafaria, há travessias para ricos e pobres, capitalistas e remediados. Há-as para todos os gostos e feitios e, num momento em que tanto se fala da necessidade de desenvolver as capacidades tecnológicas do País, é reconfortante saber que temos engenheiros com arrojo e capacidade para desenvolverem tão notáveis projectos. Dizem os meus colegas do Departamento de Sociologia que não podemos crer em todos os projectos, dada a conhecida apetência que os portugueses têm por pontes. Certo, há que separar o trigo do joio. Mas vamos fazê-lo de forma científica, nada de deixar esta tarefa para agrónomos no desemprego.

Nesta matéria, mais uma vez o nosso Ministro abriu caminho a passos largos: todas as hipóteses, incluindo as que entretanto apareçam, vão ser analisadas e avaliadas pelo LNEC em apenas 45 dias, tarefa fácil porque é apenas comparar as propostas existentes e não fazer estudos, diz ele. Só que os avaliadores, autênticos velhos do Brasil (avenida), dizem que não têm tempo para o fazer e o proponente de uma das alternativas queixa-se que foi usado no processo, pois a sua proposta não pode ser seriamente analisada em 45 dias e comparada com outras já há muito estudadas.

Proponho-me contribuir para o debate em dois campos distintos: primeiro, proponho uma metodologia de selecção do projecto vencedor inspirada por Wu Yifeng, grande engenheiro chinês de pontes. Wu junta o exercício da profissão ao Falun Gong, que é a prática do cultivo de corpo e mente. Consiste em cinco exercícios distintos, realizados quatro em pé e um sentado, e em guiarmos as nossas vidas pelos princípios da verdade, da benevolência e da tolerância. É, aliás, esta busca da verdade associada à tolerância e à benevolência que explica a paciência e o sacrifício interior com que o nosso Ministro conduziu o processo do novo aeroporto, fazendo de si o primeiro seguidor em Portugal do Mestre Li Hongzhi, patrono do Falun Gong.

Segundo campo, desvendo aqui, à atenção do Senhor Ministro, a minha proposta de travessia, a única simultaneamente patriótica e científica. Comecemos por notar que cada vez que uma ponte sobre o Tejo acaba de ser construída, imediatamente se começa a falar e a planear a construção de outra. Por outro lado, é também fácil de constatar que a precipitação é cada vez menor no País – por exemplo, mais seco que os últimos meses, só 1917. Juntando estas duas premissas, e olhando a longo prazo, torna-se evidente que cobriremos o estuário do Tejo de pontes sobre um rio que estará seco. Porque não saltar directamente para a solução final, construindo hoje o futuro? Vamos alcatroar o estuário do Tejo, tornando redundantes todas as travessias de que agora se fala e poupando ao País a construção de 341 pontes e os 27.945 estudos para elas e as suas alternativas, cuja única vantagem seria reduzir a taxa de desemprego de 7 para 5,3% a custo de uma brutal ampliação do quadro de pessoal do LNEC.

Mas e o que vamos fazer com toda a água que por enquanto vem rio abaixo desaguar ao estuário do Tejo? E como tirar os submarinos do Alfeite para o mar? Fácil, construímos uma ponte – uma única, note-se – para levar a água do Tejo ao mar por cima do estuário alcatroado. É mais barato, mais eficiente, e factor de coesão nacional, como o demonstraram os alemães com a ponte-canal de Magdeburgo, entre as outrora duas alemanhas.

E, pessoal do LNEC, tenham bem presente que esta minha proposta é a melhor na comparação de propostas que irão fazer. Aviso-vos porque há quem não seja como o nosso Ministro, e Wu Yifeng está a cumprir 9 anos de prisão por praticar o Falun Gong e seguir os seus princípios.

Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntaram quando será inaugurada a nova Ponte sobre o Tejo, Frederico respondeu: “O ano não sei, mas o dia será o Primeiro de Abril.”

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