Opinião
As sete pontes de Wu Yifeng
Sou firme e convicto defensor que num futuro muito próximo serão necessárias mais travessias do Tejo, ao contrário de aeroportos. Cada vez mais gente vai cruzar essa maravilha da natureza que é o Tejo, mas que infelizmente separa os lisboetas dos seus fam
Foi assim que fiquei entusiasmado com as numerosas propostas que surgiram nos últimos dias para travessias do Tejo. De Alverca para Alcochete, de Chelas para o Barreiro ou de Algés para a Trafaria, há travessias para ricos e pobres, capitalistas e remediados. Há-as para todos os gostos e feitios e, num momento em que tanto se fala da necessidade de desenvolver as capacidades tecnológicas do País, é reconfortante saber que temos engenheiros com arrojo e capacidade para desenvolverem tão notáveis projectos. Dizem os meus colegas do Departamento de Sociologia que não podemos crer em todos os projectos, dada a conhecida apetência que os portugueses têm por pontes. Certo, há que separar o trigo do joio. Mas vamos fazê-lo de forma científica, nada de deixar esta tarefa para agrónomos no desemprego.
Nesta matéria, mais uma vez o nosso Ministro abriu caminho a passos largos: todas as hipóteses, incluindo as que entretanto apareçam, vão ser analisadas e avaliadas pelo LNEC em apenas 45 dias, tarefa fácil porque é apenas comparar as propostas existentes e não fazer estudos, diz ele. Só que os avaliadores, autênticos velhos do Brasil (avenida), dizem que não têm tempo para o fazer e o proponente de uma das alternativas queixa-se que foi usado no processo, pois a sua proposta não pode ser seriamente analisada em 45 dias e comparada com outras já há muito estudadas.
Proponho-me contribuir para o debate em dois campos distintos: primeiro, proponho uma metodologia de selecção do projecto vencedor inspirada por Wu Yifeng, grande engenheiro chinês de pontes. Wu junta o exercício da profissão ao Falun Gong, que é a prática do cultivo de corpo e mente. Consiste em cinco exercícios distintos, realizados quatro em pé e um sentado, e em guiarmos as nossas vidas pelos princípios da verdade, da benevolência e da tolerância. É, aliás, esta busca da verdade associada à tolerância e à benevolência que explica a paciência e o sacrifício interior com que o nosso Ministro conduziu o processo do novo aeroporto, fazendo de si o primeiro seguidor em Portugal do Mestre Li Hongzhi, patrono do Falun Gong.
Segundo campo, desvendo aqui, à atenção do Senhor Ministro, a minha proposta de travessia, a única simultaneamente patriótica e científica. Comecemos por notar que cada vez que uma ponte sobre o Tejo acaba de ser construída, imediatamente se começa a falar e a planear a construção de outra. Por outro lado, é também fácil de constatar que a precipitação é cada vez menor no País – por exemplo, mais seco que os últimos meses, só 1917. Juntando estas duas premissas, e olhando a longo prazo, torna-se evidente que cobriremos o estuário do Tejo de pontes sobre um rio que estará seco. Porque não saltar directamente para a solução final, construindo hoje o futuro? Vamos alcatroar o estuário do Tejo, tornando redundantes todas as travessias de que agora se fala e poupando ao País a construção de 341 pontes e os 27.945 estudos para elas e as suas alternativas, cuja única vantagem seria reduzir a taxa de desemprego de 7 para 5,3% a custo de uma brutal ampliação do quadro de pessoal do LNEC.
Mas e o que vamos fazer com toda a água que por enquanto vem rio abaixo desaguar ao estuário do Tejo? E como tirar os submarinos do Alfeite para o mar? Fácil, construímos uma ponte – uma única, note-se – para levar a água do Tejo ao mar por cima do estuário alcatroado. É mais barato, mais eficiente, e factor de coesão nacional, como o demonstraram os alemães com a ponte-canal de Magdeburgo, entre as outrora duas alemanhas.
E, pessoal do LNEC, tenham bem presente que esta minha proposta é a melhor na comparação de propostas que irão fazer. Aviso-vos porque há quem não seja como o nosso Ministro, e Wu Yifeng está a cumprir 9 anos de prisão por praticar o Falun Gong e seguir os seus princípios.
Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntaram quando será inaugurada a nova Ponte sobre o Tejo, Frederico respondeu: “O ano não sei, mas o dia será o Primeiro de Abril.”