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Luísa Bessa lbessa@mediafin.pt 28 de Agosto de 2007 às 12:52

Alfândega da Fé

Desta vez não houve Lei de Murphy no BCP e a assembleia escapou ao ditado popular de que não há duas sem três, depois de duas falhas seguidas no sistema de votações. Mas terminou, de novo, sem se saber a real expressão das forças em confronto. Os apoiante

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Desta vez não houve Lei de Murphy no BCP e a assembleia escapou ao ditado popular de que não há duas sem três, depois de duas falhas seguidas no sistema de votações. Mas terminou, de novo, sem se saber a real expressão das forças em confronto. Os apoiantes de Teixeira Pinto evitaram uma derrota expressiva mas a facção de Jardim Gonçalves também não conseguiu arrumar o assunto com a vitória esmagadora que julgava ao seu alcance.

O que se passa no BCP é uma luta entre dois homens ou é um diferendo entre accionistas? Várias vozes, entre os pequenos investidores do banco, se levantaram na assembleia para expressar a sua perplexidade pela falta de respostas claras por parte de cada um deles que expliquem as divergências.

O que se passou - ontem e nas últimas semanas - no BCP é a demonstração de uma enorme perda de tempo. E se Jardim Gonçalves teve a responsabilidade de abrir as hostilidades, com a proposta de alteração estatutária para reforçar os seus poderes enquanto presidente do Conselho Geral e de Supervisão, os responsáveis pelo últimos dois meses de tempo perdido foram os accionistas próximos de Paulo Teixeira Pinto (e ele próprio, por acção ou omissão), que avançaram para a convocatória da AG sem disporem dos apoios necessários para as aprovarem.

Este tem sido, até agora, o problema do BCP: está refém de dois blocos accionistas sem peso suficiente para se tornarem vencedores inequívocos.

Mas a confusão recente e sobretudo o caos da primeira parte da assembleia serviram para alguma coisa. Foi uma espécie de toque a rebate. Para além de terem obrigado o banco a dar o seu melhor na organização, também serviram para demonstrar que os blocos não são estanques e que há quem esteja disposto a trabalhar para uma solução de futuro fora dos alinhamentos tradicionais.

O protagonista mais claro dessa estratégia é a Teixeira Duarte. Embora seja um dos maiores accionistas individuais do BCP e com ligações históricas ao fundador, essa ligação não impediu a construtora de tomar a dianteira para promover uma solução de futuro, envolvendo os principais accionistas e lançando pontes para alguns dos recém chegados como a EDP ou a Sonangol. A estratégia ficou ontem bem evidente nas intervenções dos seus representantes.

A Teixeira Duarte tem razões para estar preocupada, com 7% do BCP nas mãos. A governabilidade do banco exige uma maioria clara do capital e não se faz com os irredutíveis do primeiro presidente. Que, apesar de ter subscrito uma intervenção fracturante no final da assembleia, também reconheceu que estava criado o ambiente para reunir uma maioria de dois terços para promover as alterações necessárias no modelo de governação.

Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto podem fazer as leituras que quiserem. Apesar da desigualdade do seu contributo para a história do banco, que se impõe reconhecer, o tempo está a encarregar-se de os pôr os dois fora da solução.

Na primeira volta da assembleia geral, a 6 de Agosto, alguém chamou por lapso Alfândega da Fé ao local onde decorria a reunião. O lapso foi prontamente corrigido. Mas fica como manifestação inconsciente da esperança de que o BCP volte a encontrar o seu caminho. Antes que venham outros encontrá-lo por ele.

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