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08 de Outubro de 2004 às 13:59

A Turquia, os EUA e o petróleo ... vistos da China

A cada nova estadia, questiono-me sobre até onde irá o papel da China na economia e geo-estratégia do planeta, num futuro não longínquo.

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I. Escrevo de Hong Kong e Macau, onde venho regularmente várias vezes ao ano.

A comemoração dos 55 anos do anúncio por Mao-Tsé-Tung da constituição da República Popular da China, agora glorificados no «beija mão» de toda a China – incluindo Macau e Hong Kong – nas cerimónias de Pequim, ao todo poderoso «chairman» Hu, aconteceu em 1 de Outubro, poucos dias depois da realização do primeiro grande prémio de F-1 em Xangai, no circuito mais caro e sofisticado do «grande circo»

Só visto, o pragmatismo do «socialismo de mercado», que exibe as lojas maiores e mais lucrativas das marcas de produtos de grande luxo, com frotas dos automóveis mais caros do mundo, com os casinos mais concorridos e rentáveis do planeta.

Já agora, a «nossa» MACAU, onde os portugueses continuam a ser apreciados e muito bem-vindos, tornar-se-á esta década no território com o rendimento per capita mais elevado do Mundo.

A cada nova estadia, questiono-me sobre até onde irá o papel da China na economia e geo-estratégia do planeta, num futuro não longínquo.

A China com quase um quinto da população mundial, num quadro político fora dos standards ocidentais, onde o líder e o Partido Comunista controlam com «mão pesada» uma imensa população repartida por um continente de dezenas de nações, é em termos económicos e militares o único país que pisa os calcanhares da superpotência americana.

Cultura milenar, orgulho e unidade nacional e centenas de milhões de homens e mulheres carregados de ambição e disponíveis para trabalharem 24h por dia, seguindo a poderosa batuta de um líder, fazem da China o país com maior potencial de liderança mundial.

A China já projectou a sua sombra sobre a economia japonesa e «secou» as outras economias asiáticas, ao mesmo tempo que manipula a Coreia do Norte na humilhação ao poder americano, aguardando o momento adequado para concluir a «unificação da Pátria», com a retoma do controle sobre Taiwan.

No «choque das civilizações», enquanto o gordo e velho ocidente, norte-americano e europeu, se distraem em quezílias com o islamismo e o mundo árabe, um poderosíssimo corredor de fundo, pleno de orgulho e determinação, arranca na última volta para ? ganhar o podium!

II. Acredito que a esmagadora maioria dos decisores políticos de Bruxelas torcem os dedos para que as negociações de adesão da Turquia à União Europeia venham a frustrar-se. Pelo menos, não ocorrerá no seu tempo de vida política no activo?

Todos sentem, no íntimo, que estão metidos num grande sarilho. Há cerca de quatro décadas que vem sendo «tocada uma sonata» aos turcos, que eles vêm aprendendo a dedilhar, embora também todos percebam que o candidato é violentado nos acordes que o obrigam a tirar.

Em aulas que dou em Itália aos oficiais superiores da OTAN, aprendi de «olhos fechados» a saber quando a pergunta vem da boca de um militar turco. O ângulo de abordagem e visão dos problemas sai de uma «caixa negra» cultural que nada tem a ver com o património dos outros aliados.

O povo europeu, na sua esmagadora maioria, pressente que a Turquia nada tem a ver com o «património comum europeu», que a alma turca nada tem a ver com o «denominador comum da forma de estar a vida» dos europeus, que seria um filho adoptado pela família, já com muitos «vícios», mas em que o «politicamente correcto» obriga a dar partilha de tecto.

Grande encrenca: as conversas à mesa nunca mais serão abertas, com o hóspede que vem aí.

Os patriarcas deviam consultar o clã – o povo – e, quando muito, convidar este novo ente a jantar todas as quintas feiras?

III. Beneficiando da insónia provocada pelo «jet lag» de sete fusos horários, acompanhei o debate entre os candidatos à presidência dos EUA, na consciência que dali sairá para os próximos quatro anos o facto que mais condicionará as nossas vidas.

Talvez seja o português que mais tempo esteve sentado com o actual presidente – meia dúzia de horas, em 1998, a seu convite enquanto Governador do Texas, por ocasião da Conferência Mundial de Energia.

Deu para perceber o sujeito que, à época, poucos estados do seu país conhecia e mal havia posto os pés fora da fronteira.

Um peão manipulado pelo seu vice-presidente, o homem a quem Carter chamou mentiroso logo após a sua primeira declaração oficial, sobre a crise energética da América, num excesso de zelo irresponsável ao apoio que as companhias petrolíferas de Houston haviam dado à sua campanha eleitoral.

Mas Kerry, que preferia matar Bin Laden a prender Saddam, não soube dizer que a actuação da administração Bush cria por dia mil novos suicidas a cada dez terroristas que consegue neutralizar.

O comportamento do aliado israelita e as imagens diárias do Iraque, alimentam uma fonte interminável de feridas que a Europa vai sofrer, com as «suas» populações islâmicas e com a fronteira muçulmana do outro lado do lago.

Como dizia recentemente um embaixador britânico, Bush é o sargento de recrutamento de terroristas mais competente do mundo islâmico.

Em noventa minutos de debate releva a opinião do actual presidente, de que o mundo é mais seguro com Saddam preso e a do candidato de que a força de elite devia ter estado no Afeganistão para executar Bin Laden e seus acólitos, quando estes se encontravam cercados.

Com estes líderes, resta a esperança de os EUA ainda gerarem instituições, como o Congresso, que acaba de assumir ter sido enganado ao dar luz verde à Guerra no Iraque, com base em informações falsas do presidente daquele grande país.

IV. Obviamente que o petróleo não está nos 50 dólares por barril, devido aos rebeldes nigerianos, ou aos tufões no Golfo do México.

A Nigéria sempre foi instável, corrupta e as sabotagens nas infra estruturas petrolíferas ocorrem diáriamente há muitos anos. Também a inoperacionalidade momentânea de um quarto da capacidade da produção do offshore do Golfo do México, representa menos de um por cento da produção mundial.

Há muito petróleo no chão, garante para suprir a procura nas próximas quatro décadas. Contudo, olhando os fundamentais da indústria, o problema está no desconforto da capacidade de produção ociosa ter caído para perto do zero, quando nas últimas três décadas variou entre 3 -10 milhões de barris dia. Também a frota de navios tanque está saturada.

Ou seja, há petróleo – o Sheik Yamani diz que o fim da Idade da Pedra não aconteceu, por falta de pedra ? como a era do petróleo acabará com muito petróleo no solo – mas a falta de investimento em infra-estruturas, dificulta que ele se encontre disponível no local e no tempo que a procura exige.

Depois, a instabilidade geo-estratégica – que «vale» 15 dólares por barril – faz o resto da festa da especulação e do banquete, no imediato, dos países exportadores.

É mais do que tempo de trabalhar persistentemente num programa de exclusão gradual do petróleo de fonte energética, quase exclusiva, nos transportes.

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