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28 de Novembro de 2003 às 11:10

A indústria (do) e o ambiente

O clima de suspeição leva a que cada nova ideia e norma que surge dos legisladores e da administração, seja vista por estes como “mais uma lição” para os industriais.

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O importante tema das preocupações ambientais, materializado em sucessivos pacotes de legislação produzidos pela administração de Bruxelas e nacional, tem criado um clima de “luta de classes” entre “verdes” e a “pesada” da indústria.

O clima de suspeição leva a que cada nova ideia e norma que surge dos legisladores e da administração, seja vista por estes como “mais uma lição” para os industriais, enquanto estes recebem de “pé atrás” mais um sonho utópico de burocratas que não conhecem a realidade competitiva da indústria.

Este ambiente de desconfiança provoca grandes transtornos e prejuízos e, sobretudo, tolda a inteligência e desperdiça energias para “dar a volta por cima” ao problema.

A verdade é que, para quem como eu frequenta estes fora, ambos os lados tem os “seus argumentos”, já que a alguns organismos e funcionários públicos não passa um minuto pela cabeça que o seu papel é servir e ajudar o tecido empresarial a puder implementar e melhorar a sua interface com o ambiente, enquanto alguns industriais se posicionam como predadores que oportunistamente atiram com um número de postos de trabalho para justificar qualquer prática.

A maior parte das vezes o resultado materializa-se num “faz de conta”, onde a administração fica contente por produzir a legislação “mais avançada do mundo” - completamente deslocada do estádio de evolução e da envolvente prestadora de serviços - sem ter posterior capacidade de fiscalização, enquanto a indústria fica “gelada” perante a grandiosidade do desafio.

Os exemplos abundam: especificações sobre resíduos industriais perigosos, ao mesmo tempo que não se resolve no país onde e como os tratar; dezenas de quesitos para a aprovação da construção de parques eólicos, por vezes contraditórios e que confundem os quesitos essenciais com os secundários, quando não mesmo não pertinentes, etc., etc. Entretanto, a indústria refugia-se na assinatura dos célebres “acordos voluntários” na esperança de ganhar mais uns anos a “empurrar com a barriga” o problema.

Refiro-me com algum detalhe a este estado de coisas e cultura dominante - que em absoluto tem de ser ultrapassada, afim de não criar mais danos sobre os recursos naturais e o tecido empresarial - porque, além do mais, obsta a que a indústria olhe de forma criativa as oportunidade de construir novos equipamentos e desenvolva novos processos e produtos que decorrem, precisamente, de novas especificações ambientais.

Bruxelas entrou numa segunda geração legislativa respeitante aos temas ambientais, passando de diplomas pontuais e normativos, para mecanismos que tentam jogar com o mercado, de forma a “enraizar” nas leis da oferta e da procura o motor que leve aos efeitos desejados.

É a forma inteligente de estimular a implementação decisiva e consequente, ao invés do recurso sistemático à fiscalização e policiamento, sempre limitado, sobretudo no nosso País?

É o que reflecte a recente Directiva sobre o comércio de emissões de CO2, ou a importante Directiva sobre a responsabilidade ambiental das empresas, que está em fase de ultimação.

Tudo isto acontece numa fase em que as questões ambientais relativas às emissões de efluentes gasosos e líquidos e ao ciclo dos resíduos sólidos, impõe um novo paradigma tecnológico.

Para quem tenha dúvidas, basta olhar os anúncios de página do insuspeito “The Economist”, onde a Toyota e DaimlerChrysler anunciam a comercialização de veículos mais limpos e energeticamente eficientes, a General Electric anuncia a sua grande aposta na construção de aerogeradores e a Shell e BP o seu compromisso com novas tecnologias energéticas.

O ponto está em que estas transformações implicam rupturas tecnológicas logo, novas soluções, novos equipamentos, novos produtos.

Porque não se interessa mais a nossa indústria em construir estações de tratamento de água, centrais de compostagem, equipamentos para aterros, filtros e “precipitadores” para a limpeza de gases, equipamentos laboratoriais e de monitorização, equipamentos e softwares para uma gestão mais inteligente das redes eléctricas, equipamentos para a exploração da biomassa e biocombustíveis, para os aerogeradores, o hidrogénio, as células de combustíveis, etc., etc.

A abertura esta semana de uma unidade de fabrico de células foto-voltaicas em Évora, em associação com a Shell, o desejo da Enercon instalar nos estaleiros de Viana do Castelo uma fábrica de componentes para aerogeradores, são exemplos de como nos podemos posicionar para - pelo menos - receber investimentos destas novas gerações de tecnologias. Digo “pelo menos”, porque não conseguimos levar por diante - como habitual - a investigação que, em devido tempo, o LNETI desenvolveu sobre energia eólica, ou a Universidade Nova sobre as células foto-voltaicas.

É esta oportunidade para a nossa indústria, quer para as “tradicionais” metalomecânicas, material eléctrico, entre outras, quer para as “novas” áreas emergentes, que deverá ser seriamente explorada.

Dizendo de outra forma, a indústria e as actividades económicas não podem ficar ofuscadas em reacções epidérmicas aos novos quesitos ambientais, esquecendo o mercado bilionário que estes efectivamente encerram.

P.S. - ONDE PÁRA A POLÍCIA (?), é a pergunta que se coloca todos os dias. Um dia destes em Chicago, estava no centro da cidade precisamente à hora da saída dos escritórios. Enormes edifícios despejavam carros para uma malha urbana reticular, típica da “down town” americana. Imediatamente surgiram polícias em todos os cruzamentos e enérgica e decididamente “substituíram” os sinais luminosos e despacharam o trânsito.

Nas nossas cidades, sobretudo em Lisboa e Porto, todos os dias de manhã e ao fim da tarde enormes engarrafamentos fazem esperar e desesperar cidadãos, que roubam ao país milhões de horas de trabalho.

E o que temos? Câmaras de televisão que permitem à polícia, TV e rádios relatar em directo, quais abutres da desgraça, a confusão que vai no trânsito. Se aparece um polícia ou a BT, é meia hora depois de um “toque”, para “resolver” aquela autentica instituição nacional, que são os “nabos” dos condutores que batem, acharem legítimo ficarem a olhar para o farol partido e deixarem os carros “tal e qual”, a complicar ainda mais a vida de milhares e milhares de pessoas.

Também é nestas coisas que se esconde o “mistério” da falta de produtividade nacional?

E se a Polícia e a BT estiverem na rua quando são precisos, em vez de ficarem a bater à máquina ou a olhar para os ecrãs das câmaras que filmam a nossa desgraça, sentados nas esquadras?...

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