Opinião
A geração que está a chegar ao poder
Durante anos. Várias décadas seguidas o mesmo discurso: esta geração está agarrada ao poder. E estava. Esteve de facto durante muito tempo. Talvez demasiados.
1. Horta Osório versus Mourinho
Durante anos. Várias décadas seguidas o mesmo discurso: esta geração está agarrada ao poder. E estava. Esteve de facto durante muito tempo. Talvez demasiados. Sobretudo desde a Revolução, Portugal foi liderado por duas gerações seguidas, que estarão agora num intervalo de idades compreendido entre os 55 e os 75 anos. É verdade que foi essa geração, ou essas gerações, que conseguiram manter o pais no rumo, umas vezes melhor, outras nem tanto, e que o trouxeram até aqui. Exactamente para o ponto em que hoje nos encontramos. É um conjunto de pessoas que nasceu e se formou nos «Tempos da Velha Senhora» e que teve, muitas vezes a custo, de se adaptar a uma realidade que mudou depressa demais para alguns. Radicalmente para outros.
Esse grupo, essa geração, entrou há uns escassos anos no início de fim de mandato. O país está a mudar de liderança de forma contínua e sustentada. Em praticamente todos os sectores. Infelizmente ainda não em todos. Veja-se o caso da banca. De forma tranquila os homens que deram solidez ao sistema financeiro português, que viveram os dias em que praticamente todos os bancos eram privados e que rapidamente tiveram de conviver com o patrão Estado. Mas conseguiram granjear o mérito de assistir à privatização de todo o sector (com excepção da Caixa Geral de Depósitos, claro está) e hoje assistem à passagem de testemunho. António Horta Osório, Fernando Ulrich, Paulo Teixeira Pinto são alguns dos gestores da nova geração. São jovens e detém um currículo invejável. Têm prova dada. Competência provada. Quando um gestor português, no caso António Horta Osório, é escolhido para liderar uma participada num outro país, isso apenas significa uma coisa: esse quadro superior detém qualidades muito acima da média. E o sector em Portugal está hoje a ser liderado por um conjunto de pessoas de qualidade superior. Aliás, diga-se em abono da verdade que também noutros sectores essa tem sido uma pratica repetida: Roland Berger, Oracle ou Microsoft têm de forma continuada «puxado» alguns quadros nacionais para assumirem responsabilidades fora de portas. Esse facto, mais do que um orgulho para todos os nacionais, deve servir sobretudo de estímulo para toda uma Nação criar mais riqueza.
2. Em vez de pedras... atirem competência
Mas este movimento de substituição de protagonistas está de forma consistente a estender-se a outros sectores de actividade. Na política por exemplo, veja-se o caso do actual Governo. Desde logo, o primeiro-ministro. Novo. Muito novo se olharmos para as idades médias de quem ocupou o cargo nas últimas três décadas. Nem por isso menos seguro. Mas sobretudo mais bem preparado e com uma visão nova e descomplexada dos problemas mas também do exercício da própria função.
Praticamente todos os dias lemos mais notícias de gestores, políticos, empresários, advogados que injectam nas empresas onde trabalham novas práticas, que deixam cair o «senhor doutor», que imprimem mais ritmo e motivação aos empregados, que produzem mais e melhor. E já que falamos de notícias, repare-se também na comunicação social. Olhe-se para os novos directores que estão chegaram recentemente à primeira linha e estão a implementar uma nova forma de pensar: Martim Avilez Figueiredo (Diário Económico), Sérgio Figueiredo (Jornal de Negócios), Luis Osório (Média Capital Rádios), Ricardo Costa (SIC Notícias) ou Henrique Monteiro (Expresso). São apenas alguns dos novos directores que trouxeram novas formas de trabalhar, novo sangue e novas ideias.
Infelizmente, como já ficou dito este movimento imparável de substituição tranquila da classe dirigente ainda não chegou a todo o lado. E essa diferença nota-se sobretudo nos locais onde os níveis de eficiência são menores, quando comparados com a restante sociedade. Vejamos dois: as autarquias e a classe dirigente do futebol em Portugal.
3. Um golo na própria baliza
Comecemos pelas primeiras. Hoje, quando olhamos para as autarquias, continuamos a ver, salvo raras excepções, os mesmos presidentes que víamos há cinco, dez ou 15 anos. As mesmas pessoas, a mesma forma de trabalhar. Não está aqui em causa a dedicação de alguns. A competência de outros. O que é necessário trazer para muitos espaços, mas para este que agora aqui se analisa, são novas formas de actuar. Agressividade, competência, ambição, metas perfeitamente definidas. Transparência e rigor.
Quando um país tem este nível de desempenho nas estruturas que asseguram grande parte dos serviços básicos como a distribuição de água ou a recolha de lixo e esgotos, é difícil avançar. É certo que as empresas municipais, que são ainda uma realidade recente, podem dar uma ajuda. Mas este processo de passagem de testemunho tem de ser acelerado. E de forma intensa.
Apenas mais uma outra de muitas situações que continua longe deste processo de transição: a classe dirigente do futebol em Portugal. Veja-se este contraste. Do lado dos jogadores portugueses, fruto obviamente da cada vez maior internacionalização dos profissionais desta área, o desempenho hoje compara com qualquer padrão internacional. Aliás basta olhar para o número de jogadores (e até treinadores, como é o caso de José Mourinho) portugueses que actuam nos melhores clube internacionais. Mas ao mesmo tempo repare-se como ainda são «do antigamente» os homem que mandam no futebol.
Em suma, o processo de transferência de poder é imparável e vai obrigar o pais a andar mais depressa. Trabalhar de forma mais competente. Olhando não para dentro, mas para fora. Por um lado, para nivelar por cima os níveis de desempenho; mas, por outro, para procurar lá fora o mercado que por razões a que todos nós somos alheios escasseia aqui.