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18 de Janeiro de 2007 às 13:59

Afinal os jogadores de futebol ganham pouco

É a segunda grande investida dos Estados Unidos da América no negócio do futebol. Depois de nos anos 70 terem contratado Pelé, um clube norte-americano eleva a fasquia e aceita pagar 250 milhões de dólares pelo passe de David Beckham. Porquê?

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Ora, there’s no business like show business.
 
1. Bem-vindo a Hollywood

Quando David Beckham chegar a Los Angeles no próximo mês de Junho, para vestir a camisola do LA Galaxy, as letras gigantes que continuam plantadas à entrada da terra dos sonhos vão brilhar ainda mais. Certamente que muitas cabeças de Hollywood já sonham em rentabilizar a presença do jogador inglês em terras do Tio Sam. Mas não são os únicos. Empresas de bebidas, roupa, programas de televisão e claro está, os responsáveis comerciais do LA Galaxy, já estão há algum tempo a pensar como é que vão rentabilizar os 250 milhões de dólares investidos num jogador que praticamente foi despedido do Real Madrid.

Serve esta contratação como pretexto prático para demonstrar como é diferente o mundo dos negócios nos Estados Unidos. E sobretudo como está profundamente mais avançada a gestão do desporto daquelas terras. Imagine o que é que acontece a um determinado profissional que não está a produzir o que se pretendia. O mais provável é ser despedido ou pelo menos ser fortemente repreendido. Aliás no desporto isto, normalmente, é ainda mais verdade. Se um jogador começa a estar em baixo de forma o que acontece na certa é ficar no banco. Perder o lugar de titular na equipa principal.

Aliás, foi exactamente isso que aconteceu a David Beckham, que foi afastado da equipe do Real Madrid pelo técnico Fabio Capello por causa de sua baixa produção futebolística. O que aconteceu foi que a direcção do clube madrileno revelou que não renovaria o contrato do jogador e portanto ele estava livre para procurar outro emprego.

Só que este acontecimento, que deixaria qualquer jogador de topo perto da depressão, serviu para que Beckham assinasse um contrato de cinco anos com o Los Angeles Galaxy, da MLS (Major League Soccer) dos Estados Unidos. E deste modo, o jogador passará a ser o atleta mais bem pago do país. Pegue numa folha e num lápis e aponte: 250 milhões de dólares, incluindo publicidade. Ou seja, mais de 190 milhões de euros. Nada mau, pois não?!

Como comparação tenha em conta os seguintes valores. A estrela do basebol, Alex Rodriguez, assinou um contrato de 252 milhões de dólares com o Texas Rangers por dez anos e os jogadores do basquetebol americano, Dwane Wade, Kobe Bryant, Lebron James e Carmelo Anthony ganham em média 20 a 30 milhões de dólares por ano.

2. O que é isso do futebol?

Por muito incrível que isto lhe possa parecer, para um norte-americano médio é tão difícil perceber como funciona um jogo de futebol (soccer e não futebol americano), como para um europeu entender como é que se ganham pontos no basebol. Bem pelo menos para este europeu que escreve estas linhas.

Todavia se há coisa que todos entendem, sobretudo nos Estados Unidos, é que o futebol movimenta milhões e pode ser um negócio altamente lucrativo. Os investidores que estão por detrás da contratação de Beckham acreditam que esta jogada pode ser a faísca que faltava para acender o desejo dos americanos pelo futebol.

As razões apontadas pelos especialistas na gestão do desporto são estas. David Beckham é muito mais do que um jogador. Bem, em primeiro lugar ele é um bom jogador. Em fase descendente, mas ainda joga. Mas é mais. É um artista. E é isso que atrai audiências. E estas magnetizam o dinheiro dos investidores publicitários.

O jogador inglês é considerado bonito, é casado com Victoria Push (ex Spice Girls), e é inglês. Pode dar entrevistas e ser percebido e a Inglaterra desperta ainda um sentimento de charme em muitos americanos. E para que tudo fique completo, sim porque quando o negócio é espectáculo não se brinca com pormenores, o jogador vai viver para a Califórnia, ao lado das principais estrelas de Hollywood.
 
3. Uma jogada de alto risco

Do que ficou dito, interessa tirar algumas ilações. Em primeiro lugar, no mundo dos negócios não há espaço para brincadeiras. Uma coisa é arriscar. Outra coisa é gastar dinheiro mal gasto. Quem está a colocar todo este dinheiro neste desporto que ainda conquista muito poucos adeptos nos EUA sabe que esta é a jogada potencialmente salvadora da North American Soccer League.

Não se pense que é apenas um clube, como o LA GAlaxy, que nas 16 partidas da última edição da liga, conseguiu atrair em média pouco mais de 20 mil pessoas ao seu estádio (ainda assim bem melhor que alguns clubes portugueses) está sozinho neste investimento.

Beckham vem com um objectivo claro. Não é marcar golos, mas antes despertar o interesse do futebol nos EUA. Se começarem a surgir sinais de sucesso, Ronaldo ou Roberto Carlos podem chegar a seguir. E claro está o dinheiro começaria a chegar em força a este desporto.

Aliás outros países estão também a olhar para o futebol como forma de entrar em novos negócios e ganhar visibilidade internacional. Também o clube da Arábia Saudita, Al Ittihad, parece estar a tentar o português Luís Figo.

Em suma, o que estes investidores estão a fazer é simples. Olharam para um negócio, decidiram investir nele. Porque querem ganhar dinheiro. Bem pode dizer Giorgio Armani que o "glamour" de Hollywood pode ser uma explicação bem mais concreta que a atracção do futebol americano, para a decisão de David Beckham. Concreto, concreto, são os 250 milhões de dólares. Daqui a uns tempos vamos ver qual o retorno do investimento.

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